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Como seráo planeta em 50 anos? Veja como os cientistas do clima descobrem
Em um mundo inundado de desinformaa§a£o - sobre medicina, pola­tica e clima, e praticamente tudo o mais - parte do trabalho de um cientista agora envolve ensinar ao paºblico como a ciência funciona.
Por Margo Rosenbaum - 11/09/2021


Doma­nio paºblico

Cientistas da mudança climática não gostam de usar o termo "previsão". Em vez disso, eles estãofazendo "projeções" sobre o futuro do planeta a  medida que oníveldo mar aumenta, os incaªndios florestais varrem o oeste e os furacaµes se tornam mais ferozes.

Ha¡ um bom motivo para isso.

Em um mundo inundado de desinformação - sobre medicina, pola­tica e clima, e praticamente tudo o mais - parte do trabalho de um cientista agora envolve ensinar ao paºblico como a ciência funciona. Convencer o paºblico a ter féna ciência significa fazer projetos precisos e comedidos sobre o futuro.

Eles precisam superar a grande questão: vocêpode realmente fazer projeções precisas sobre como o planeta seráem 50 anos, daqui a um século?

Os cientistas do clima pensam que sim, com base nas últimas cinco décadas de ciência do clima que se mostraram precisas. Futuristas, como Jamais Cascio, um ilustre bolsista do Institute for the Future, um grupo de prospectiva sem fins lucrativos com sede no Vale do Sila­cio, estudam as tendaªncias atuais e os dados disponí­veis para trazr resultados plausa­veis para o futuro.

Hoje, muito do trabalho de Cascio écentrado nasmudanças climáticas, ajudando as pessoas a se prepararem para o futuro e a tomarem decisaµes informadas para um mundo em aquecimento.

"Tudo no mundo", disse Cascio, "todos os resultados futuros tera£o de ser examinados pelas lentes do clima."

No futuro, asmudanças climáticas podem piorar. Mas quanto pior vai ficar?

Os cientistas confiaram em modelos clima¡ticos por mais de 50 anos. Para as pessoas que não são cientistas, éum desafio entender os ca¡lculos que fazem parte dessas projeções. Então, o que exatamente éum modelo clima¡tico?

Os meteorologistas podem fazer previsaµes do tempo para a próxima hora, ou mesmo semana, com base em dados meteorola³gicos e modelos de previsão que usam umidade, temperatura, pressão do ar, velocidade do vento, entre outras condições atmosfanãricas, terrestres e oceânicas: atuais. Mas com o clima, o clima de uma regia£o especa­fica, em média ao longo de décadas, éum pouco mais difa­cil de projetar e entender.

Uma extensão da previsão do tempo, os modelos clima¡ticos levam em consideração condições ainda mais atmosfanãricas, terrestres e oceânicas: para fazer previsaµes de longo prazo. Usando equações matemáticas e milhares de pontos de dados, os modelos criam representações das condições físicas da Terra e simulações do clima atual.

Os modelos clima¡ticos prevaªem como as condições médias ira£o mudar em uma regia£o nas próximas décadas, bem como como o clima apareceu antes de os humanos o registrarem.
 
Os pesquisadores podem então entender como essasmudanças nas condições podem impactar o planeta, o que éútil especialmente para entender asmudanças climáticas, disse Zeke Hausfather, cientista do clima e diretor de clima e energia do Breakthrough Institute, um centro de pesquisa ambiental com sede na Bay Area.

"Talvez o (objetivo) mais importante seja tentar sugerir os tipos demudanças que podem ocorrer a  medida que o mundo continua a emitir CO2 e outros gases de efeito estufa", disse Hausfather.

O primeiro modelo clima¡tico, desenvolvido hámais de 50 anos nos primeiros dias da ciência do clima, ajudou os cientistas a avaliar como o oceano e a atmosfera interagiam entre si para influenciar o clima. O modelo previu como asmudanças de temperatura e asmudanças nas correntes oceânicas: e atmosfanãricas poderiam levar a  mudança climática.

Hoje, esses modelos são muito mais complicados e funcionam em alguns dos supercomputadores mais poderosos do mundo. Uma década atrás, a maioria dos modelos dividia o mundo em segmentos de 250 quila´metros, mas agora os modelos tem 100 quila´metros quadrados. Mais padraµes regionais surgem quando as simulações estãoem uma escala mais precisa.

"As pessoas não estãotrazndo um quadro da temperatura e do dia³xido de carbono e trazndo uma linha atravanãs deles e, em seguida, extrapolando isso para o futuro", disse Gavin A. Schmidt, um conselheiro saªnior do clima da NASA.

Por meio desses avanços na tecnologia, esses modelos estãose tornando ainda mais aºteis para os cientistas na compreensão do clima do passado, presente e futuro.

"Felizmente, eles não fazem um trabalho tão terra­vel", disse Schmidt.

Tudo isso serve para convencer o paºblico e as empresas a agirem.

A maioria dos americanos já percebeu os efeitos da mudança climática ao seu redor, de acordo com uma pesquisa do Pew Research Center de 2020. Mas os indiva­duos, as empresas e os pola­ticos devem "se adaptar a um clima em mudança radical e perigosa", disse Cascio.

Nonívelindividual, as pessoas devem considerar o clima em todas as suas decisaµes monumentais: ter filhos; qual carro comprar; como investir; quando e onde comprar uma casa. Os governos tem a tarefa de tomar decisaµes sobre o clima que impactam o futuro de nações inteiras, como investir em energia alternativa ou redigir políticas de redução de emissaµes.

Os modelos clima¡ticos são aºteis?

Em vez de pensar nos modelos clima¡ticos como se eles estivessem certos ou não, Schmidt disse que os modelos clima¡ticos deveriam ser considerados para saber se eles fornecem previsaµes aºteis.

"Eles nos contam coisas? Eles acertam as coisas mais do que vocêteria feito sem eles?" Schmidt disse.

Normalmente, a resposta ésim, e o que esses modelos informam aos cientistas écrucial para sua compreensão do clima futuro.

Hausfather sabe disso melhor do que ninguanãm, pois liderou um estudo publicado na revista Geophysical Research Letters analisando a precisão dos primeiros modelos clima¡ticos. Algumas das descobertas foram inclua­das no último relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Clima¡ticas das Nações Unidas, publicado em agosto.

Hausfather, junto com o co-autor Schmidt, comparou 17 projeções de modelo de temperatura média global desenvolvidas entre 1970 e 2007 commudanças reais na temperatura global observadas atéo final de 2017.

Hausfather e seus colegas encontraram nota­cias promissoras: a maioria dos modelos foi bastante precisa. Mais especificamente, 10 das projeções do modelo mostram resultados consistentes com as observações. Das sete projeções do modelo restantes, quatro projetaram mais aquecimento do que o observado, enquanto três projetaram menos aquecimento do que o observado.

Mas Hausfather e seus colegas perceberam que isso não contava toda a história. Depois de levar em conta as diferenças entre asmudanças modeladas e reais no dia³xido de carbono atmosfanãrico e outros fatores que impulsionam o clima, descobriu-se que 14 das 17 projeções do modelo eram "efetivamente idaªnticas" ao aquecimento observado no mundo real.

“Essa foi uma forte evidência de que esses modelos estãoefetivamente certos”, disse Hausfather. "Eles estãofazendo um a³timo trabalho ao prever as temperaturas globais."

A precisão foi particularmente impressionante nos primeiros modelos clima¡ticos, disse Hausfather, especialmente devido a s evidaªncias observacionais limitadas de aquecimento na anãpoca.

Mas nem todos os primeiros modelos estavam isentos de erros. Um dos primeiros modelos clima¡ticos, criado em 1971 pelos cientistas clima¡ticos Rasool e Schneider, projetava que o mundo esfriaria devido ao efeito de resfriamento dos aerossãois atmosfanãricos.

"(Os pesquisadores) pensaram que o efeito de resfriamento desses aerossãois da queima de combusta­veis fa³sseis que refletem a luz do sol de volta para o espaço seria muito mais forte do que os efeitos de aquecimento do gás de efeito estufa", disse Hausfather.

Embora a década de 1970 ainda fosse os primeiros dias da pesquisa climática, a maior parte da literatura cienta­fica da anãpoca ainda apontava para um futuro aquecedor muito mais prova¡vel. No entanto, o modelo de Rasool e Schneider ainda gerou uma sanãrie de nota­cias sobre uma potencial idade do gelo. Mesmo hoje, o modelo "ainda édifundido de vez em quando por pessoas que tentam desacreditar a ciência do clima hoje", disse Hausfather.

Agora, o modelo estãoprovado estar errado. a‰ consenso entre os cientistas do clima que o planeta não estãoesfriando - em vez disso, estãoesquentando a uma taxa alarmante.

Mesmo hoje, apesar da promessa dos modelos clima¡ticos demonstrados pelo estudo de Hausfather, esses modelos ainda apresentam suas limitações, principalmente no que diz respeito a  incerteza das emissaµes futuras. Cientistas do clima são fa­sicos - não economistas ou cientistas pola­ticos, e édifa­cil entender como as políticas ira£o moldar os padraµes de emissaµes.

"Nãotemos uma bola de cristal que possa prever o comportamento humano futuro em termos de quanto nossas emissaµes ira£o mudar", disse Hausfather. "Podemos apenas prever como o clima respondera¡ a s emissaµes."

Questaµes de precisão em modelos clima¡ticos também surgem quando os modelos são empurrados para fora de seus parametros específicos. Para combater isso, os modelos clima¡ticos concentram suas projeções nas condições físicas vistas no mundo natural, em vez da probabilidade estata­stica, disse Schmidt.

Os pesquisadores tem mais confianção na previsibilidade da física do que na estata­stica, porque a física não muda no futuro. Os pesquisadores podem ter certeza de que podem usar esses modelos fora do período de tempo em que tem dados observacionais, como observar o clima durante a última era glacial, disse Schmidt.

"Como as coisas são expressas pode ser diferente, mas a física ba¡sica ... os processos subjacentes não mudam realmente", disse Schmidt.

Hausfather disse que ainda hámuito trabalho para melhorar os modelos clima¡ticos, mas eles estãomelhorando consistentemente com o tempo. As simulações da Terra tornam-se mais na­tidas a  medida que mais processos fa­sicos são adicionados e o poder do computador aumenta.

Por que fazer projeções para o futuro?

Enquanto os cientistas do clima se concentram na física para fazer previsaµes para o clima futuro, Cascio e outros futuristas colocam os dados cienta­ficos em um contexto mais amplo, fazendo previsaµes com base nasmudanças climáticas, novos desenvolvimentos tecnola³gicos, bem como movimentos pola­ticos e sociais. O futurismo é"história essencialmente antecipata³ria", disse Cascio.

"A ideia épegar a ciência e incorpora¡-la a  compreensão de um historiador de como o mundo funciona para tentar ter uma noção de quais são os resultados possa­veis que vemos daqui para frente", disse Cascio.

Mas, assim como com os modelos clima¡ticos , a incerteza éinerente a  natureza das projeções. Os futuristas não querem prometer demais, mas fornecem uma previsão do que pode acontecer e as razões pelas quais isso pode acontecer, disse Cascio.

A maior parte do trabalho de Cascio com asmudanças climáticas projeta um futuro sombrio. Em sua perspectiva, um plano clima¡tico "absolutamente radical" e "transformador" énecessa¡rio para fazer asmudanças necessa¡rias. Planos que são "sensatos e aceita¡veis ​​(são) quase definitivamente insuficientes."

"Eu realmente quero estar errado sobre todas essas coisas", disse Cascio, "porque não háfuturos que não sejam realmente deprimentes para a próxima geração."

Apesar do desespero projetado por muitos cientistas do clima e futuristas, ainda háesperana§a. Se as emissaµes globais puderem ser reduzidas a zero, Hausfather disse que as melhores estimativas do modelo clima¡tico ilustram que o mundo vai parar de aquecer.

"Nãoétarde demais para agir", disse Hausfather. "O mundo não estãopreso a uma determinada quantidade de aquecimento."

Cascio ainda tenta se considerar um otimista de longo prazo para o futuro, porque asmudanças necessa¡rias para mitigar asmudanças climáticas também levara£o a um mundo muito mais "transparente e equitativo", disse ele.

"Se conseguirmos passar pela segunda metade deste século, háuma grande chance de que o que vamos acabar sendo um mundo realmente maravilhoso", disse Cascio.

 

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