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A construção silenciosa de uma supererupção
Gea³logos da UNIGE e da Universidade de Pequim estãointeressados ​​no VulcãoToba porque não háregistro hista³rico da resposta humana a uma super erupção do tamanho que ela produziu no passado.
Por Universidade de Genebra - 01/11/2021


Foto do Lago Toba em Sumatra e sua ilha criada pelo acaºmulo de magma no reservata³rio de magma do vulca£o. Crédito: UNIGE

Estima-se que cerca de 5 a 10 vulcaµes em todo o mundo são capazes de produzir uma supererupção que pode afetar catastroficamente o clima global. Um desses vulcaµes se esconde sob as a¡guas do Lago Toba em Sumatra e causou duas supererupções nos últimos milhões de anos. Mas quando seráo pra³ximo? Havera¡ algum sinal de alerta?

Para responder a essas perguntas, uma equipe internacional de gea³logos liderada pela Universidade de Genebra (UNIGE), na Sua­a§a, e na Universidade de Pequim, na China, desenvolveu uma análise dos na­veis de ura¢nio e chumbo em zircaµes - um mineral normalmente encontrado em erupções vulcânica s explosivas - para determinar quanto tempo o Vulcãolevou para se preparar para suas supererupções. Infelizmente, esses resultados, publicados na revista Proceedings of the National Academy of Sciences , refutam a noção de que sinais geola³gicos incomuns anunciariam uma supererupção iminente. Em vez disso, o magma se acumulou silenciosamente no reservata³rio de magma atéque essas explosaµes massivas ocorreram.

O VulcãoToba em Sumatra causou duas das maiores erupções conhecidas na Terra: a primeira 840.000 anos atrás, a segunda 75.000 anos atrás, cada uma medindo cerca de 2.800 km 3 , o suficiente para cobrir toda a Sua­a§a com 7 cm de cinzas, e representando 70.000 vezes a quantidade de magma que explodiu atéagora pela erupção de La Palma em curso. Duas outras erupções menores ocorreram, uma há1,4 milha£o de anos e a outra 500.000 anos atrás.

Gea³logos da UNIGE e da Universidade de Pequim estãointeressados ​​no VulcãoToba porque não háregistro hista³rico da resposta humana a uma supererupção do tamanho que ela produziu no passado. Tal evento afetaria o clima global e colocaria inúmeros problemas, principalmente em termos de abastecimento de alimentos, sem falar na migração de populações. “O VulcãoToba forma uma caldeira, o que significa que erupções anteriores criaram uma grande depressão ocupada hoje por a¡guas metea³ricas”, explica Luca Caricchi, professor do Departamento de Ciências da Terra da Faculdade de Ciências da UNIGE e coautor do estudo. No centro do lago estãouma ilha que se ergueu da águapor causa do impulso do magma injetado no reservata³rio subvulca¢nico. "Podemos ver que esta ilha estãoaumentando gradualmente de altura,
 
Medindo ura¢nio e chumbo em zirca£o

O zirca£o éum mineral encontrado nos produtos de erupções vulcânica s explosivas. “Uma de suas caracteri­sticas éque leva ura¢nio dentro de sua estrutura”, explica Ping-Ping Liu. Com o tempo, o ura¢nio se decompaµe em chumbo. “Assim, medindo a quantidade de ura¢nio e chumbo no zirca£o com um espectra´metro de massa, podemos determinar sua idade”, diz o gea³logo. Os cientistas determinaram a idade de um grande número de zircaµes extraa­dos dos produtos de diferentes erupções: o zirca£o mais novo fornece informações sobre a data da erupção e os zircaµes mais velhos revelam a história do acaºmulo de magma antes das supererupções.

“A primeira supererupção ocorreu hácerca de 840.000 anos, após 1,4 milha£o de anos de entrada de magma, enquanto o magma que alimentou a segunda supererupção em 75.000 anos se acumulou em apenas 600.000 anos”, observa Luca Caricchi. Por que o tempo de acumulação de magma foi reduzido pela metade, mesmo se as duas supererupções fossem do mesmo tamanho? “Isso estãoligado ao aumento progressivo da temperatura da crosta continental onde se encontra o reservata³rio de magma de Toba”, explica Ping-Ping Liu. A entrada de magma aqueceu gradualmente a crosta continental circundante, o que torna o resfriamento do magma mais lento. "Este éum 'ca­rculo vicioso' de erupções: quanto mais o magma aquece a crosta, mais lento o magma esfria e mais rápida se torna a taxa de acaºmulo de magma", diz ela.

Estimando a taxa de acaºmulo de magma para antecipar o tamanho da próxima supererupção

Esta técnica, baseada na geocronologia do zirca£o , também pode ser usada para estimar a taxa de entrada de magma em um reservata³rio de magma. “Hoje, estimamos que cerca de 320 km 3 de magma podem estar prontos para entrar em erupção dentro do reservata³rio do VulcãoToba”, diz Luca Caricchi. Se tal erupção ocorresse agora, este seria um evento muito catastra³fico que afetaria fortemente não apenas a ilha altamente populosa de Sumatra, mas também o meio ambiente global. Os gea³logos estimaram que atualmente cerca de 4 km 3 de magma em erupção estãose acumulando no reservata³rio de magma de Tobaa cada mil anos e que essa taxa foi bastante esta¡vel ao longo de sua história eruptiva. “A próxima supererupção do tamanho das duas últimas ocorreria, portanto, em cerca de 600.000 anos”, continua ele. Isso não exclui que erupções menores possam ocorrer nesse a­nterim.

Este manãtodo inovador pode ser aplicado a qualquer outro Vulcãoglobalmente e pode servir para identificar qual Vulcãoestãomais pra³ximo de uma supererupção. “a‰ um grande avanço, pois com poucas supererupções nos últimos 2 milhões de anos, não épossí­vel obtermos valores estatisticamente significativos para a frequência desses eventos catastra³ficos em escala global”, explica Ping-Ping Liu. "Nosso estudo mostra também que háeventos extremos ocorrem antes de um supererupção. Isto sugere que os sinais de uma super- iminente erupção como um aumento significativo de terremotos ou uma rápida elevação do solo, podem não ser tão a³bvios como retratados em filmes de desastres da indústria cinematogra¡fica. No VulcãoToba, tudo se passa silenciosamente no subsolo, e a análise dos zircaµes já nos da¡ uma ideia do que estãopor vir ”, conclui Luca Caricchi.

 

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