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Modelagem climática confirma registros hista³ricos mostrando aumento na atividade de furacaµes
Novos resultados mostram que a frequência dos furacaµes no Atla¢ntico Norte aumentou nos últimos 150 anos.
Por Jennifer Chu - 06/12/2021


Um novo estudo descobriu que os furacaµes do Atla¢ntico Norte realmente aumentaram em frequência nos últimos 150 anos, semelhante ao que os registros hista³ricos mostraram. Créditos: Imagem: MIT News, iStockphoto

Ao prever como as tempestades podem mudar no futuro, éútil saber algo sobre seu passado. A julgar pelos registros hista³ricos que datam da década de 1850, os furacaµes no Atla¢ntico Norte se tornaram mais frequentes nos últimos 150 anos.

No entanto, os cientistas questionaram se essa tendaªncia ascendente éum reflexo da realidade ou simplesmente um artefato de manutenção de registros desequilibrados. Se os rastreadores de tempestades do século 19 tivessem acesso a  tecnologia do século 21, eles teriam registrado mais tempestades? Essa incerteza inerente impediu os cientistas de confiar nos registros de tempestades e nos padraµes dentro deles para obter pistas de como o clima influencia as tempestades.

Um novo estudo do MIT publicado hoje na Nature Communications usou modelagem climática, ao invanãs de registros de tempestades, para reconstruir a história de furacaµes e ciclones tropicais em todo o mundo. O estudo descobriu que os furacaµes do Atla¢ntico Norte realmente aumentaram em frequência nos últimos 150 anos, semelhante ao que os registros hista³ricos mostraram.

Em particular, grandes furacaµes e furacaµes em geral são mais frequentes hoje do que no passado. E aqueles que chegam ao continente parecem ter se tornado mais poderosos, carregando um potencial mais destrutivo.

Curiosamente, embora o Atla¢ntico Norte tenha visto um aumento geral na atividade de tempestades, a mesma tendaªncia não foi observada no resto do mundo. O estudo descobriu que a frequência de ciclones tropicais em todo o mundo não mudou significativamente nos últimos 150 anos.

“As evidaªncias apontam, como o registro hista³rico original, para aumentos de longo prazo na atividade de furacaµes no Atla¢ntico Norte, mas nenhuma mudança significativa na atividade global do furaca£o”, diz o autor do estudo Kerry Emanuel, o Cecil e Ida Green Professor de Ciências Atmosfanãricas em Departamento de Ciências da Terra, Atmosfanãricas e Planeta¡rias do MIT. “Certamente mudara¡ a interpretação dos efeitos do clima sobre os furacaµes - que érealmente a regionalidade do clima e que algo aconteceu com o Atla¢ntico Norte que édiferente do resto do globo. Pode ter sido causado pelo aquecimento global, que não énecessariamente globalmente uniforme. ”

Encontros casuais

O registro mais abrangente de ciclones tropicais écompilado em um banco de dados conhecido como International Best Track Archive for Climate Stewardship (IBTrACS). Este registro hista³rico inclui medições modernas de satanãlites e aeronaves que datam da década de 1940. Os registros mais antigos do banco de dados são baseados em relatórios de navios e ilhas que por acaso estavam no caminho de uma tempestade. Esses registros anteriores datam de 1851 e, em geral, o banco de dados mostra um aumento na atividade de tempestades no Atla¢ntico Norte nos últimos 150 anos.

“Ninguanãm discorda que isso éo que mostra o registro hista³rico”, diz Emanuel. “Por outro lado, a maioria das pessoas sensatas não confia muito no registro hista³rico tão antigo.”

Recentemente, os cientistas usaram uma abordagem estata­stica para identificar tempestades que o registro hista³rico pode ter perdido. Para fazer isso, eles consultaram todas as rotas de navegação reconstrua­das digitalmente no Atla¢ntico nos últimos 150 anos e mapearam essas rotas ao longo dos rastros de furacaµes dos dias modernos. Eles então estimaram a chance de um navio encontrar ou perder totalmente a presença de um furaca£o. Esta análise encontrou um número significativo de tempestades iniciais provavelmente perdidas no registro hista³rico. Levando em conta essas tempestades perdidas, eles conclua­ram que havia uma chance de que a atividade da tempestade não tivesse mudado nos últimos 150 anos.

Mas Emanuel ressalta que os caminhos dos furacaµes no século 19 podem ter parecido diferentes dos rastros de hoje. Além do mais, os cientistas podem ter perdido as principais rotas de transporte em suas análises, já que as rotas mais antigas ainda não foram digitalizadas.

“Tudo o que sabemos éque se houvesse uma mudança (na atividade da tempestade), ela não teria sido detecta¡vel, usando registros de navios digitalizados”, diz Emanuel “Então pensei, háuma oportunidade de fazer melhor, não usando dados hista³ricos em absoluto."

Semeando tempestades

Em vez disso, ele estimou a atividade de furacaµes anteriores usando redução de escala dina¢mica - uma técnica que seu grupo desenvolveu e aplicou nos últimos 15 anos para estudar os efeitos do clima sobre os furacaµes. A técnica comea§a com uma simulação climática global grosseira e incorpora neste modelo um modelo de resolução mais precisa que simula recursos tão pequenos quanto furacaµes. Os modelos combinados são então alimentados com medições do mundo real das condições atmosfanãricas e oceanicas. Emanuel então espalha a simulação realista com “sementes” de furaca£o e executa a simulação adiante no tempo para ver quais sementes florescem em tempestades.

Para o novo estudo, Emanuel incorporou um modelo de furaca£o em uma “reanálise” climática - um tipo de modelo clima¡tico que combina observações do passado com simulações climáticas para gerar reconstruções precisas de padraµes de tempo e condições climáticas anteriores. Ele usou um subconjunto especa­fico de reanálises climáticas que apenas contabilizam observações coletadas dasuperfÍcie - por exemplo, de navios, que registraram as condições climáticas e as temperaturas dasuperfÍcie do mar de forma consistente desde a década de 1850, em oposição a satanãlites, que são começam o monitoramento sistema¡tico no 1970s.

“Optamos por usar essa abordagem para evitar quaisquer tendaªncias artificiais provocadas pela introdução de observações progressivamente diferentes”, explica Emanuel.

Ele executou um modelo de furaca£o embutido em três reanálises climáticas diferentes, simulando ciclones tropicais em todo o mundo nos últimos 150 anos. Em todos os três modelos, ele observou “aumentos inequa­vocos” na atividade de furacaµes no Atla¢ntico Norte.

“Houve um aumento bastante grande na atividade no Atla¢ntico desde meados do século 19, que eu não esperava ver”, diz Emanuel.

Dentro desse aumento geral na atividade de tempestades, ele também observou uma “seca de furacaµes” - um período durante as décadas de 1970 e 80 quando o número de furacaµes anuais diminuiu momentaneamente. Essa pausa na atividade da tempestade também pode ser vista em registros hista³ricos, e o grupo de Emanuel propaµe uma causa: aerossãois de sulfato, que eram subprodutos da combustão de combusta­vel fa³ssil, provavelmente desencadearam uma cascata de efeitos clima¡ticos que resfriaram o Atla¢ntico Norte e suprimiram temporariamente a formação de furacaµes.

“A tendaªncia geral nos últimos 150 anos foi aumentar a atividade das tempestades, interrompida por esta seca de furacaµes”, observa Emanuel. “E, neste ponto, estamos mais confiantes de por que houve uma seca de furacaµes do que por que háum aumento conta­nuo e de longo prazo na atividade que começou no século 19. Isso ainda éum mistério e tem a ver com a questãode como o aquecimento global pode afetar futuros furacaµes no Atla¢ntico. ”

Esta pesquisa foi apoiada, em parte, pela National Science Foundation.

 

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