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Diminuir os raios do sol deve estar fora dos limites, dizem especialistas
Um aumento de 1,1 graus Celsius acima dos na­veis de meados do século 19 já aumentou a intensidade, a frequência e a duraça£o de ondas de calor mortais, secas e megatempestades.
Por Marlowe Hood - 17/01/2022


Os cientistas sabem hámuito tempo que injetar uma grande quantidade departículas refletivas na atmosfera superior poderia resfriar o planeta.

Esquemas de engenharia em escala planeta¡ria projetados para resfriar asuperfÍcie da Terra e diminuir o impacto do aquecimento global são potencialmente perigosos e devem ser bloqueados pelos governos, disseram mais de 60 especialistas em políticas e cientistas nesta segunda-feira.

Mesmo que a injeção de bilhaµes departículas de enxofre na atmosfera média oso plano mais debatido para a chamada modificação da radiação solar (SRM) osvoltasse uma fração cra­tica dos raios do Sol como pretendido, as consequaªncias poderiam superar quaisquer benefa­cios, argumentaram em uma carta aberta.

“A implantação da geoengenharia solar não pode ser governada globalmente de maneira justa, inclusiva e eficaz”, disse a carta, apoiada por um comenta¡rio na revista WIREs Climate Change .

“Portanto, pedimos uma ação pola­tica imediata dos governos, das Nações Unidas e de outros atores para impedir a normalização da geoengenharia solar como uma opção de pola­tica climática”.

Um aumento de 1,1 graus Celsius acima dos na­veis de meados do século 19 já aumentou a intensidade, a frequência e a duração de ondas de calor mortais, secas e megatempestades.

As nações do mundo se comprometeram a limitar o aumento da temperatura dasuperfÍcie da Terra a 1,5°C acima dos na­veis de meados do século 19, mas cientistas apoiados pela ONU disseram que esse limite seráultrapassado, possivelmente dentro de uma década.

O fracasso em reduzir as emissaµes de gases de efeito estufa que impulsionam o aquecimento global levou alguns formuladores de políticas a adotar a geoengenharia solar osamplamente descartada hápouco tempo como mais ficção cienta­fica do que ciência osa fim de ganhar tempo para uma solução mais dura¡vel.

Ha¡ muito se sabe que injetar uma grande quantidade departículas refletivas na atmosfera superior poderia resfriar o planeta.

A natureza a s vezes faz o mesmo: detritos da erupção do Monte Pinatubo em 1991, nas Filipinas, reduziram a temperatura média dasuperfÍcie da Terra por mais de um ano.

Mas a carta aberta disse que hávárias razões para rejeitar tal curso de ação.

O escurecimento artificial da força radiativa do Sol provavelmente interrompera¡ as chuvas de monção no sul da asia e no oeste da áfrica e podera¡ devastar as plantações de sequeiro, das quais centenas de milhões dependem para se alimentar, mostraram vários estudos.

Consequaªncias não-intencionais

“A injeção de sulfato estratosfanãrico enfraquece as monções de vera£o africanas e asia¡ticas e causa a seca na Amaza´nia”, disse o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Clima¡ticas (IPCC) em sua mais recente avaliação cienta­fica.

Outras regiaµes, no entanto, podem se beneficiar: um estudo no ano passado concluiu que o SRM pode reduzir drasticamente o risco de seca na áfrica Austral.

Os cientistas também se preocupam com o chamado choque de terminação se a semeadura da atmosfera compartículas bloqueadoras do Sol parasse de repente.

Se o SRM "for encerrado por qualquer motivo, hágrande confianção de que as temperaturas dasuperfÍcie aumentariam rapidamente", disse o IPCC.

Além disso, a tecnologia não faria nada para impedir o acaºmulo conta­nuo de CO2 atmosfanãrico, que estãoliteralmente mudando a química do oceano.

A carta aberta também adverte que aumentar as esperanças sobre uma solução rápida para o clima "pode ​​desincentivar governos, empresas e sociedades a fazer o ma¡ximo para alcana§ar a descarbonização ou a neutralidade de carbono o mais rápido possí­vel".

Por fim, atualmente não existe um sistema de governana§a global para monitorar ou implementar esquemas de geoengenharia solar, que poderiam ser acionados hoje por um aºnicopaís, ou mesmo um biliona¡rio com foguetes.

A carta aberta pede um "acordo internacional de não uso" que bloquearia o financiamento nacional, experiências ruins ao ar livre e se recusaria a conceder direitos de patente para tecnologias SRM.

Tal acordo "não proibiria a pesquisa atmosfanãrica ou climática como tal", disse a carta.

Os signata¡rios incluem Frank Biermann, professor de governana§a de sustentabilidade global da Universidade de Utrecht; Aarti Gupta, professor de governana§a ambiental global na Universidade de Wageningen, na Holanda; a professora Melissa Leach, diretora do Instituto de Estudos de Desenvolvimento em Sussex, Inglaterra; e Dirk Messner, presidente da Agência Ambiental Alema£.

 

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