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Restauração de Cerrado e Mata Atla¢ntica pode gerar sequestro de carbono com baixo risco e bom custo-benefa­cio
A meta final do projeto éproduzir um atlas digital, de livre acesso, que mapeie esses locais voltados para restauraça£o de carbono. Ali estara£o reunidos dados como o potencial de determinada área, os custos de restauraça£o e a previsão de...
Por Comunicação RCGI - 25/02/2022


O Cerrado éuma das regiaµes de maior biodiversidade do mundo, e estima-se que possua mais de 6 mil espanãcies de a¡rvores e 800 espanãcies de aves.  Foto: Marcelo Camargo - Agência Brasil

A restauração de ecossistemas éapontada como uma boa alternativa para sequestrar carbono e mitigar as emissaµes de gases de efeito estufa na atmosfera. Basta lembrar que a Organização das Nações Unidas (ONU) escolheu a pauta como assunto central de sua década tema¡tica (2021-2030). “No entanto, não existe uma única receita para restaurar um ecossistema, da mesma forma que ainda temos muitas lacunas de conhecimento sobre como fazer isso com eficiência”, aponta o engenheiro agra´nomo Pedro Brancalion, coordenador do projeto Restauração de vegetação nativa para sequestro de carbono osRestore C, realizado no Centro de Pesquisa para Inovação em Gases de Efeito Estufa (RCGI). “O objetivo do projeto éentender como funcionam essas diferentes formas para sequestrar carbono e identificar os componentes de custos desses processos.”

O primeiro passo do projeto éinvestigar essa questãoa partir de dois biomas brasileiros altamente diversificados: o Cerrado e a Mata Atla¢ntica. “O acaºmulo de carbono varia entre os tipos de ecossistema. Na Mata Atla¢ntica, tem-se grande quantidade de carbono nasuperfÍcie por causa da profusão de madeira das a¡rvores. Essa situação édiferente no Cerrado, onde háum número menor de a¡rvores e a maior parte do carbono fica estocada embaixo da terra”, explica o pesquisador, que também écoordenador do Laborata³rio de Silvicultura Tropical da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) da USP, em Piracicaba, e vice-coordenador do Pacto pela Restauração da Mata Atla¢ntica.

Para entender quais conjuntos de espanãcies, arranjos de plantio ou de regeneração são capazes de tornar o processo de sequestro de carbono mais eficiente, o projeto vai instalar torres de fluxo na Estação Experimental de Ciências Florestais de Itatinga (EECFI), no interior de Sa£o Paulo. Isso para checar a situação em contexto de Mata Atla¢ntica. Já no caso do Cerrado, o local escolhido éa Chapada dos Veadeiros, em Goia¡s. “Vamos trabalhar com o que háde mais inovador e robusto em termos de metodologia”, diz o pesquisador. “A torre de fluxo éum equipamento importado e extremamente sofisticado capaz de mensurar o que éfixado e liberado de carbono para a atmosfera. Entretanto, ela nunca havia sido utilizada em áreas de restauração de ecossistemas. Nosso projeto épioneiro no mundo e deve gerar dados inanãditos.”

O projeto vai durar cinco anos e reaºne uma equipe transdisciplinar composta de nove cientistas de instituições de pesquisa situadas no Brasil, Frana§a e Inglaterra. “Ao longo desse tempo vamos investigar outras regiaµes nos estados de Sa£o Paulo, Minas Gerais e Goia¡s para cobrir variações presentes nos biomas, a exemplo de solo e clima”, informa o pesquisador. “Além do trabalho de campo, vamos trabalhar com sensoriamento remoto e imagens de satanãlite. O projeto também tem um forte componente de modelagem: a partir da comparação de algumas áreas pesquisadas, épossí­vel criar um modelo matema¡tico para estimar o potencial de sequestro de carbono de outras áreas.”

Engenheiro agra´nomo Pedro H.S. Brancalion, do Departamento
de Ciências Florestais, da Escola Superior de Agricultura
“Luiz de Queiroz” (Esalq) da USP Crédito: arquivo pessoal
Pedro H.S. Brancalion osFoto: arquivo pessoal

A meta final do projeto éproduzir um atlas digital, de livre acesso, que mapeie esses locais voltados para restauração de carbono. Ali estara£o reunidos dados como o potencial de determinada área, os custos de restauração e a previsão de riscos para a perda de estocagem de carbono, que acontece em casos de acidentes naturais ou provocados pela ação do homem, a exemplo de seca e de incaªndios. “O atlas pode ser uma grande ferramenta de apoio na tomada de decisão para quem deseja investir no sequestro de carbono por meio do reflorestamento”, diz o pesquisador.

De acordo com Brancalion, um elemento importante nessa tomada de decisão éconseguir calcular as relações entre custo e efetividade. “a‰ pensar, por exemplo, não de forma absoluta, mas sim na quantidade de carbono sequestrado por unidade de investimento. Vamos supor que ao longo de 10 anos uma empresa possa obter por meio de um projeto de restauração 100 toneladas de carbono ao custo de 10 mil reais por hectare. Outra opção seria sequestrar 50 toneladas, mas a um custo de 2 mil reais por hectare. Nesse caso, vale mais a pena investir em áreas com o perfil da segunda alternativa e graças a  soma delas conseguir sequestrar mais carbono com o mesmo investimento exigido pela primeira opção. O mapa ajudara¡ na localização de quais são as áreas mais indicadas para determinado projeto.”

Nesse ca¡lculo épreciso levar em conta uma sanãrie de varia¡veis em nome da melhor escolha de investimento. “Se o investidor já possui a terra, seu custo de implementação seráplantar mudas e cuidar da manutenção da área. Mas hátambém o custo de oportunidade de uso da terra, que éo valor pago a terceiros para se usar determinada área para restauração. Por exemplo, se um proprieta¡rio rural lucra 400 reais por hectare/ano com seu pasto, dificilmente vai ceder essa área por um valor menor do que esse. Com o mapa podemos calcular o custo total de sequestro de carbono ao cruzar os custos de oportunidade com os custos de implantação.”

Brancalion estuda a reconstrução de ecossistemas desde a graduação, conclua­da em 2006. Recentemente, ele foi apontado como um dos 21 pesquisadores altamente citados na lista elaborada pela empresa brita¢nica Clarivate Analytics. “A restauração ambiental éuma área nova, que atrai muita atenção em tempos demudanças climáticas. A situação em nossopaís épreocupante. A Mata Atla¢ntica vem sendo destrua­da desde a chegada dos portugueses no século XVI e hoje seus resqua­cios são ilhas isoladas em meio a áreas agra­colas. O Cerrado também possui na­veis significativos de desmatamento e estãomais quente, seco e propenso a grandes queimadas”, alerta o especialista. “O mais gratificante nessa profissão éver uma área degradada ganhar vida, ésentir que o trabalho estãocontribuindo para deixar um legado para as próximas gerações.”

Sobre o RCGI osO Centro de Pesquisa para Inovação em Gases de Efeito Estufa (RCGI) éum Centro de Pesquisa em Engenharia, criado em 2015, com financiamento da Fundação de Amparo a  Pesquisa do Estado de Sa£o Paulo (Fapesp) e da Shell. As pesquisas do RCGI são focadas em inovações que possibilitem ao Brasil atingir os compromissos assumidos no Acordo de Paris, no a¢mbito das NDCs osNationally Determined Contributions. Os projetos de pesquisa os19, no total osestãoancorados em cinco programas: NBS (Nature Based Solutions); CCU (Carbon Capture and Utilization); BECCS (Bioenergy with Carbon Capture and Storage); GHG (Greenhouse Gases) e Advocacy. Atualmente, o centro conta com cerca de 400 pesquisadores.

 

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