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O comportamento altrua­sta tem razões evolutivas
Em um novo estudo, pesquisadores da Universidade de Berna mostram que os animais que ajudam os outros
Por Universidade de Berna - 30/05/2022


No reino animal, os exemplos mais nota¡veis ​​de comportamento altrua­sta ocorrem no contexto da criação da prole. As sociedades de animais que exibem cuidados cooperativos com os filhotes incluem cicla­deos conhecidos como "Princesas do Lago Tanganyika". Crédito: M. Taborsky / Universidade de Berna

O comportamento altrua­sta émuitas vezes visto como uma caracterí­stica exclusivamente humana. No entanto, a pesquisa comportamental descobriu vários exemplos de comportamento altrua­sta no reino animal. Em um novo estudo, pesquisadores da Universidade de Berna mostram que os animais que ajudam os outros "altruisticamente" a criar seus filhotes geram uma vantagem evolutiva.

Altrua­smo édefinido como fazer algo que beneficie outra pessoa, a um custo para si mesmo. No reino animal, os exemplos mais surpreendentes desse altrua­smo ocorrem na criação da próxima geração. As sociedades animais que exibem reprodução cooperativa incluem cicla­deos no Lago Tanganyika, alguns mama­feros, muitas espanãcies de pa¡ssaros e numerosos insetos. Nessas sociedades, normalmente um aºnico par reprodutor dominante produz filhotes, e os outros membros do grupo ajudam a cria¡-los. Esses membros do grupo estão, portanto, agindo de forma altrua­sta, cuidando de jovens que não são seus.

Esse tipo de cuidado faz sentido de uma perspectiva evolutiva quando os jovens são irmãos dos cuidadores osos ajudantes de cuidado da ninhada estãotransmitindo com sucesso os genes que estimulam o cuidado por meio de seus irmãos, com quem compartilham esses genes. No entanto, de uma perspectiva evolutiva, não parece fazer sentido cuidar de jovens com quem vocênão estãorelacionado. Então, por que membros de grupos não relacionados geralmente ajudam a criar jovens "estrangeiros"? Um novo estudo no Science Advancesrevista acadaªmica de Irene Garcia Ruiz e Michael Taborsky do Instituto de Ecologia e Evolução da Universidade de Berna, em colaboração com Andres Quinones da Universidade de Los Andes em Bogota¡, Cola´mbia, e a Universidade de Neucha¢tel, revela como esse cuidado altrua­sta de jovens podem evoluir por seleção natural.

Os benefa­cios da aptida£o genanãtica são fundamentais

A seleção natural favorece caracteri­sticas que melhoram a aptida£o genanãtica dos portadores. Indiva­duos com melhores chances de sobrevivaªncia normalmente se beneficiam de um maior sucesso reprodutivo ao longo de sua vida. "Se pertencer a um grupo social produz uma vantagem essencial de sobrevivaªncia , a reprodução cooperativa pode evoluir. Isso émostrado em nosso estudo usando simulações de computador", diz a principal autora Irene Garcia Ruiz. Usando modelos matema¡ticos, os pesquisadores conseguiram simular as decisaµes dos membros do grupo que afetaram sua aptida£o genanãtica, para que pudessem comparar suas taxas de sucesso resultantes.
 
Quando háuma vantagem de sobrevivaªncia na vida em grupo, o estudo revela duas maneiras pelas quais a seleção natural faz com que os membros subordinados do grupo ajudem a cuidar dos filhotes de criadores dominantes. Uma possibilidade se aplica se os jovens estiverem intimamente relacionados, por exemplo, os irmãos dos cuidadores, conforme descrito acima. Nessa situação, o cuidado aumenta a probabilidade de que os genes compartilhados entre ajudantes e receptores de ajuda sejam disseminados para a próxima geração (mecanismo conhecido como "seleção de parentesco").

A segunda maneira envolve o que éconhecido como "seleção individual", que não depende de na­veis de parentesco. Quando o cuidado altrua­sta das crias resulta na sobrevivaªncia de mais animais jovens, o grupo social se expande. Por sua vez, isso aumenta as chances de sobrevivaªncia dos cuidadores, pois reduz o pra³prio risco de serem vitimas de um predador, por exemplo. Portanto, aumenta a probabilidade de que eles possam se reproduzir com sucesso mais tarde. Ambos os mecanismos de seleção interagem positivamente entre si.

Qual mecanismo de seleção prevalece depende das condições ambientais

“Um achado fundamental do nosso estudo éque o contexto ambiental determina qual desses dois mecanismos de seleção entra em ação, ou seja, qual émais significativo para a evolução do melhoramento cooperativo”, diz Irene Garcia Ruiz. Se as condições ambientais são favoráveis ​​(poucos predadores), então a seleção de parentesco éo mecanismo mais importante de seleção para o cuidado cooperativo. Se as condições ambientais são menos favoráveis ​​(mais predadores), aumentar as chances de sobrevivaªncia dos indivíduos aumentando o número de membros do grupo éum mecanismo de seleção mais importante, causando cuidados não parentais.

“Se um animal se sai melhor permanecendo em seu territa³rio e criando os descendentes de outros do grupo, ou se mudando para outro lugar para tentar a reprodução independente, varia com a idade do indiva­duo”, diz Michael Taborsky. Dependendo do contexto ambiental, a seleção natural favorece que os animais se afastem de seu territa³rio mais cedo ou mais tarde.

A descoberta particularmente nota¡vel deste estudo éque a importa¢ncia relativa da seleção de parentesco e da seleção individual varia dependendo do contexto ambiental, e que tanto a idade dos animais quanto as condições ecola³gicas influenciam significativamente a seleção de filopatria e altrua­smo.

 

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