Mundo

O conto curioso do
Um câncer canino contagioso que conquistou o mundo espalhando-se entre os ca£es durante o acasalamento provavelmente surgiu hácerca de 6 mil anos na asia e se espalhou pelo mundo atravanãs de atividades mara­timas.
Por Craig Brierley - 03/07/0019

Crédito: Joshua Sigelman

O tumor venanãreo transmissa­vel canino' éum câncer que se espalha entre os ca£es atravanãs da transferaªncia de células cancera­genas vivas, principalmente durante o acasalamento. A doença geralmente se manifesta como tumores genitais em ca£es domanãsticos machos e faªmeas. Primeiro surgiu em um ca£o individual, mas sobreviveu além da morte do ca£o original, espalhando-se para novos ca£es. O câncer éagora encontrado em populações de ca£es em todo o mundo, e éa mais antiga e mais prola­fica linhagem de câncer conhecida na natureza.

Um dos aspectos mais nota¡veis ​​desses tumores éque suas células são as do ca£o original em que o câncer surgiu, e não o ca£o portador. As únicas diferenças entre as células nos tumores e células dos ca£es modernos no tumor original são aquelas que surgiram ao longo do tempo ou atravanãs de alterações esponta¢neas no DNA das células ou atravanãs de alterações causadas por carcinoganãneos.

Uma equipe internacional de pesquisadores, liderada por cientistas do Transmissible Cancer Group da Universidade de Cambridge, comparou as diferenças entre os tumores de 546 ca£es em todo o mundo para tentar entender como a doença surgiu e como ela se espalhou pelo mundo. Seus resultados são publicados hoje na Science .

"Este tumor se espalhou para quase todos os continentes, evoluindo a  medida que se espalha", diz Adrian Baez-Ortega, estudante de doutorado do Transmissible Cancer Group, parte do Departamento de Medicina Veterina¡ria de Cambridge. “Mudanças em seu DNA contam uma história de onde e quando, quase como um dia¡rio de viagem hista³rico".

Usando os dados, eles criaram uma a¡rvore filogenanãtica - um tipo de a¡rvore geneala³gica das diferentes mutações nos tumores. Isso permitiu estimar que o câncer surgiu entre 4.000 e 8.500 anos atrás, provavelmente na asia ou na Europa. Todos os tumores modernos podem ser rastreados atéum ancestral comum hácerca de 1.900 anos.

Os pesquisadores dizem que o câncer se espalhou da Europa para as Amanãricas por volta de 500 anos atrás, quando os primeiros colonos europeus chegaram ao continente por via mara­tima. Quase todos os tumores encontrados hoje nas Amanãricas do Norte, Central e do Sul descendem deste aºnico evento de introdução.

Das Amanãricas, a doença se espalhou ainda mais, para a áfrica e de volta ao subcontinente indiano - quase todos os lugares que eram, na anãpoca, cola´nias europanãias. Por exemplo, o câncer évisto em Reunion, mas foi aa­ que os viajantes europeus pararam no caminho para a andia. Todas essas evidaªncias sugerem que o tumor foi disseminado por ca£es que navegam no mar, transportados por meio de atividades mara­timas.

Embora os achados relacionados a  propagação hista³rica da doença sejam interessantes, éa evolução do tumor que mais excita os pesquisadores.

Desenvolvimentos recentes na biologia do câncer permitiram que os cientistas analisassem as mutações no DNA do tumor e identificassem assinaturas únicas deixadas por carcina³genos. Isso permite que eles vejam, por exemplo, o dano causado pela luz ultravioleta (UV).

Usando essas técnicas, os pesquisadores identificaram assinaturas para cinco processos biola³gicos diferentes que danificaram o tumor canino ao longo de sua história. Quatro destes, incluindo a exposição a  luz UV, são processos conhecidos já relacionados com cancros humanos. No entanto, um deles - denominado "Assinatura A" - tem uma assinatura mutacional muito distinta, diferente de qualquer outro visto anteriormente: ele causou mutações apenas no passado distante do tumor, hávários milhares de anos, e nunca mais foi visto desde então.

"Isso érealmente emocionante - nosnunca vimos nada como o padrãocausado por esse agente cancera­geno antes", diz Elizabeth Murchison, que lidera o Transmissible Cancer Group na Universidade de Cambridge.

“Parece que o tumor foi exposto a algo hámilhares de anos que causoumudanças em seu DNA por algum tempo e depois desapareceu. a‰ um mistério o que o carcinogaªnico poderia ser. Talvez tenha sido algo presente no ambiente em que o câncer surgiu pela primeira vez ”.

Crédito: Joshua Sigelman

Outra descoberta intrigante relacionada a como os tumores evoluem. Existem dois tipos principais de seleção na teoria evolutiva - positiva e negativa. A seleção positiva éaquela em que as mutações que fornecem um organismo com uma vantagem particular são mais passa­veis de serem transmitidas por gerações; seleção negativa éonde as mutações que provavelmente tem um efeito deletanãrio são menos passa­veis de serem passadas adiante. Tal seleção tende a ocorrer por meio da reprodução sexual.

Quando os pesquisadores analisaram os tumores, não encontraram evidaªncias de seleção positiva ou negativa. Isso implica que o tumor estara¡ acumulando mutações cada vez mais potencialmente prejudiciais ao longo do tempo, tornando-o cada vez menos adequado ao seu ambiente.

Baez-Ortega explica: “Normalmente, vemos pressaµes de seleção agindo na evolução do organismo. Esses tumores caninos são corpos estranhos, então seria de se esperar uma batalha entre eles e o sistema imunológico do ca£o, levando apenas os tumores mais fortes sendo transmitidos com sucesso. Isso não parece estar acontecendo aqui.

“Esse parasita do câncer tem se mostrado extraordinariamente bem-sucedido em sobreviver por milhares de anos, mas estãose deteriorando constantemente. Isso sugere que seus dias podem ser numerados - mas éprova¡vel que sejam dezenas de milhares de anos antes de desaparecer. ”

A pesquisa foi apoiada pelo Wellcome, pelo Leverhulme Trust e pelo Kennel Club Charitable Trust.

 

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