O protagonismo malévolo do poder e do dinheiro nas camadas altas do mundo político e econômico é fácil de apontar, no Brasil são como irmãos gêmeos numa relação incestuosa!

Domínio público
A condição de mandar e influenciar (o poder); a capacidade de comprar tudo o que se deseja (o dinheiro); a qualidade de encantar e seduzir pela expressão estética do corpo (a imagem, a voz, a palavra); são experiências humanas maravilhosas, provavelmente almejadas por todos, porém vividas na plenitude por poucos! Certamente por isso elas são caras, e aqueles que obcecadamente aceitam pagar o preço elevado em geral terminam por se destruir e a muitos ao redor!
Os princípios éticos do cristianismo que inspiram o arrependimento, a confissão e o perdão, e preparam a renovação de si, parecem ser as melhores armas para fortalecer o humano em face dos três estímulos tentadores, que envolvem o humano ingênuo, incauto (descuidado) ou ambicioso com promessas de sensações maravilhosas e intermináveis... sem revelarem, contudo, que elas não são permanentes e sim rápidas e fugazes (passageiras): em algum momento o poder se dissipa, o dinheiro acaba e a beleza se esvai!
Somente a prática do arrependimento e da confissão, primeiro para si e depois para Deus, pode fazer o humano voltar atrás nos erros para consertar os estragos, ao tempo em que pede perdão para quem ofendeu e compreende o ódio daqueles que sofreram com suas ações devastadoras! Esse exercício de autodisciplina e autocontenção é a armadura da alma para experimentar as seduções do mundo! Sem ela, nas camadas sociais mais altas às mais baixas, ricos e pobres, em proporções diferentes, sofrem os mesmos efeitos da depravação moral!
O protagonismo malévolo do poder e do dinheiro nas camadas altas do mundo político e econômico é fácil de apontar, no Brasil são como irmãos gêmeos numa relação incestuosa! No momento, se assiste a ministros de um tribunal Judiciário, que não tiveram um voto direto sequer da população (princípio da delegação do poder político, que concede legitimidade de autoridade ao simples vereador até o presidente da república), se intrometerem no Congresso (portanto uma usurpação de função), como se fossem um partido, para defenderem os interesses da facção política que ocupa o Executivo, que não por coincidência indicou a maioria dos seus membros!
A crença cega de que o adjetivo Supremo os qualifica para a condição de divindade os afasta do resto da sociedade, e os aliena num universo paralelo de soberba e vaidade no qual não conseguem mais perceber os perigos que suas decisões ilegais e ilegítimas chamam para si, para seus familiares e para todos os brasileiros que só querem ter paz na vida! Essas são as consequências da chegada ao poder, político ou econômico, de pessoas despreparadas para o seu exercício, que requer qualidades comportamentais herdadas do berço; da formação educacional e profissional; e das boas experiências da vida, dentre as quais destaco a de mandar e ser mandado, como se aprende na vida militar (agradeço meu tempo de Colégio Militar do Recife e de Fortaleza)!
Porém, o que choca é identificar a mesma perversidade do poder e do dinheiro agindo nas camadas sociais mais baixas, entre pessoas que nunca sonharam em fazer parte das elites políticas ou empresarias, mas que a oportunidade de vivenciar uma pequena parcela desses dois desafios humanos terríveis arruinou as vidas!
Conheço um casal que por ética existencial e convicções espirituais ajuda direta ou indiretamente pessoas em dificuldades diversas, em geral, devido a pouca condição socioeconômica; dá apoio para qualificação profissional para quem quer estudar; orienta a conquista de direitos para idosos pobres (os protegendo de “predadores” oportunistas, que aproveitam da fragilidade e ingenuidade dessas pessoas ao cobrarem por serviços que são gratuitos no INSS, fazendo depois empréstimos sobre benefícios como o Beneficio de Progressão Continuada - BPC ou Aposentadorias). O casal ajuda também animais, mas estes têm a felicidade de serem imunes à soberba e à vaidade, pelo contrário, só têm agradecimentos!
Dois casos relatados chamam atenção para o quão arriscado e grave são os desafios do dinheiro e do poder, agora entre as camadas populares! O primeiro, o de um homem que vivia numa cidade do Maranhão, próxima a Parnaíba - PI. No final dos anos 70, apenas com a formação de Torneiro Mecânico, do SENAI - Parnaíba, foi para o Rio de Janeiro onde se tornou entre 80/90 grande mecânico de oficinas de automóveis, situadas em bairros de alto padrão (comprovando a excelência histórica do SENAI).
Morava em Botafogo, tinha apartamento, carro, namorada e, bom de bola, jogava na praia com craques de futebol da época como Renato Gaúcho e Zico! Porém, uma paixão avassaladora por uma mulher psicodélica, que, segundo dizia, parecia a cantora Simone no auge da fama, destruiu sua vida! Para sustentar o vício da moça ele, que mal bebia e nem usava drogas, perdeu a riqueza conquistada, os empregos e, socorrido pela família em condição lastimável em Juiz de Fora - MG (onde se encontrava seguindo a mulher, como se hipnotizado), voltou para o Maranhão!
Na casa dos velhos pais, um irmão e uma irmã lhes davam mesada e ele fazia pequenos “bicos”, o que era suficiente para as necessidades básicas de um “solteirão”; praticava atividade física, pedalava, corria, porém perdeu interesse pela mecânica! A mulher do casal citado era irmã desse rapaz, quando ele atingiu 65 anos ela o ajudou nos procedimentos necessários para requerer a aposentadoria e eis a grande surpresa: a pensão a qual ele tinha direito era de R$ 3200,00, isso há três anos (2022)!
Depois de quase 25 anos sem contribuir para o INSS um valor desses provava 02 fatos: um, as empresas que ele trabalhou no Rio eram sérias e mantinham as obrigações previdenciárias em dias; dois, ele tinha um bom salário para a época! O problema: para quem vivia da mesada dos irmãos, um valor desses numa pequena cidade do Maranhão era um convite à tentação!
Em questão de meses a aposentadoria conquistada mudou radicalmente seu comportamento! Não ouvia mais os irmãos, nem aos amigos próximos; descuidou da alimentação e das atividades físicas e, como num “remake” (refilmagem, nova versão) de um filme ruim, passou a sustentar duas moças viciadas em álcool e drogas! Como da primeira vez, ele não as usava, mas, para aguentar duas mulheres, que usufruíam do prazer do vício que ele bancava (afinal, agora ele tinha DINHEIRO e PODIA financiar) e pagavam com cuidados e sexo, tomava doses cavalares de comprimidos contra a disfunção erétil (“potencializadores sexuais masculinos”)! Após sua morte, em 2023, foram encontradas caixas de vários desses medicamentos no quarto, em dosagens (mg) cada vez maiores: tadalafila, viagra, cialis, levitra, etc. Segundo médicos neurologistas que o atenderam, ele teve acidente vascular cerebral hemorrágico gravíssimo, como se a pressão arterial elevada tivesse explodido os vasos sanguíneos!
O segundo caso relatado, o de um homem, em Parnaíba, que vive pelos bairros no entorno do tradicional Mercado de Fátima, ganhando a vida com faxina, lava-carros, vigilância e pequenos consertos em casas de família, oficinas e comércios da região. Sujeito manso, gente boa, respeitador de quem todos terminavam por gostar! De vez em quando bebericava umas e outras nos bares da área, mas, sem criar problemas... quem não gosta?! (Sou suspeito para julgar!)
Porém, ao completar 65 anos, solicitou auxílio do casal para, nas suas palavras, “se aposentar”, na verdade conseguir o BPC, pois ele nunca trabalhou de “carteira assinada” ou contribuiu como autônomo para a Previdência Social! Feito o processo digital pelo site do INSS rapidamente teve a solicitação atendida, passando a receber valor de um salário-mínimo, agora em 2025, R$ 1500,00!
Mais uma vez, em questão de meses o BPC mudou abruptamente seu comportamento! Não ouviu mais o casal, que o orientava a guardar um pouco do dinheiro numa conta-poupança que ele tinha na Caixa Econômica (pasmem, quando não possuía uma renda mensal regular... tinha uma poupança!!!); deixou de lado os pequenos trabalhos que antes fazia para sobreviver e costuma ser visto permanentemente embriagado no Mercado, em companhia de “predadores” (também espirituais!) que sugam seus poucos recursos econômicos (afinal ele tem DINHEIRO e PODE pagar)!
Resultado: passou a pedir dinheiro emprestado para se alimentar e beber, coisa que não fazia antes do BPC! Inclusive pedir ao casal, que desapontado recusou atende-lo! O dinheiro é um bem precioso e, bem aplicado, pode fazer a felicidade de muitos que verdadeiramente precisam, sanando suas necessidades e apertos, no entanto, o descuido ao manusea-lo, diante das tentações que ele permite ao conferir a sensação de poder, pode também fazer o inferno!
Prof. Dr. Geraldo Filho
Universidade Federal do Delta do Parnaíba (UFDPar)
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