Opinião

Por que isolar idosos seria um grande erro no combate ao coronava­rus
Testar a hipa³tese de imunidade do rebanho em nossa populaa§a£o em geral seria muito perigoso, expondo a maioria dos americanos a uma doença que ainda sabemos muito pouco, afirma cientista.
Por Michael Apkon, Howard P. Forman, Jeffrey A. Sonnenfeld - 27/03/2020


Ruas vazias na cidade de Nova York em 22 de mara§o.
Foto: Tayfun Coskun / Agência Anadolu via Getty Images.

O distanciamento social em toda a sociedade éa única maneira de combater o coronava­rus? Uma proposta alternativa émanter os americanos mais velhos isolados e focar em testa¡-los, enquanto retorna o resto da população ao trabalho. Em um comenta¡rio da Fortune , o Dr. Michael Apkon '02, presidente e CEO do Tufts Medical Center, e o Dr. Howard Forman e Jeffrey Sonnenfeld da Yale SOM escrevem que essa abordagem seria perigosa e ineficaz. Eles argumentam que os recursos devem ser direcionados para a correção da escassez de suprimentos médicos e para o lana§amento de um amplo programa de testes.

Este comenta¡rio apareceu originalmente na Fortune .

Amedida que a economia global piora em meio ao surto de coronava­rus, vocêpode imaginar o falecido artista George Burns dizendo: "Todo mundo que diz que poderia consertar a economia parece estar muito ocupado dirigindo ta¡xis e cortando cabelo". As consequaªncias catastra³ficas de saúde pública e econa´micas da atual pandemia fizeram de todos um especialista em políticas.

No New York Times, na sexta-feira passada, o especialista em saúde David Katz avaliou o que muitos especialistas em gestão, cuidados intensivos, virologia, epidemiologia e medicina acreditam ser uma recomendação perigosamente equivocada. Seu argumento étriar testes de infecção para pessoas mais vulnera¡veis ​​e mais velhas, isolando-as de suas fama­lias mais jovens e enviando pessoas sauda¡veis ​​e jovens de volta ao trabalho, escola, festas, coma­cios e shows.

Katz acha que diagnosticar apenas pessoas mais velhas e mais vulnera¡veis ​​émais eficiente e melhor para o bem-estar econa´mico da nação e que o risco de interromper toda a atividade econa´mica émuito mais prejudicial. Nada poderia estar mais longe da verdade. Os americanos mais velhos são colaboradores vitais para nossa economia e nossas comunidades. Devera­amos incentivar a vida intergeracional, o que facilita o compartilhamento de sabedoria, energia e otimismo dentro de casa.

“Precisamos também dos resultados dos testes dos jovens. A cepa COVID-19 énova e avaliar seu efeito em pessoas de todas as idades ajudara¡ a desenvolver vacinas e outras terapias para uso na população em geral”.


Katz considera que, devido a  falta de kits para testar a população geral dos EUA, devemos concentrar nossos esforços nos idosos, que parecem ser mais suscetíveis a doenças graves por COVID-19, que éa doença causada pelo coronava­rus. Achamos que essa abordagem restrita estãoerrada e traz riscos inaceita¡veis ​​para o restante da população. Isso se baseia em uma aposta arriscada: que possamos desenvolver imunidade de rebanho na população em geral, permitindo que pessoas suficientes obtenham e se recuperem do COVID-19 para que se torne menos susceta­vel a  propagação.

Testar a hipa³tese de imunidade do rebanho em nossa população em geral seria muito perigoso, expondo a maioria dos americanos a uma doença que ainda sabemos muito pouco. Em vez disso, nossa melhor abordagem éfocar no achatamento da curva de infecções, para que muitas pessoas não entendam ao mesmo tempo sobrecarregar nosso sistema de saúde.

Como tal, acreditamos que a escassez aguda de suprimentos médicos, de máscaras a luvas cirúrgicas e desinfetantes para as ma£os, éuma preocupação muito maior. Os Centros de Controle e Prevenção de Doena§as estimaram em 2005 que, se uma pandemia semelhante a  gripe espanhola de 1918 atingisse os EUA, precisara­amos de 740.000 ventiladores; atualmente, temos apenas 160.000 em a¢mbito nacional. Como testar apenas pessoas mais velhas resolveria um problema tão caro e urgente? 

Além disso: precisamos também dos resultados dos testes dos jovens. A cepa COVID-19 énova e avaliar seu efeito em pessoas de todas as idades ajudara¡ a desenvolver vacinas e outras terapias para uso na população em geral.

E, embora o COVID-19 tenha se mostrado certamente mais letal para as pessoas mais velhas, háevidaªncias crescentes de que éprejudicial - e potencialmente fatal - para pessoas mais jovens e sauda¡veis ​​também. Vinte por cento dos internados em um hospital nos EUA com sintomas de COVID-19 tem entre 20 e 44 anos. Estamos realmente a  vontade em pedir aos jovens que não saiam do perigo?

Além disso, Katz argumenta que "se foca¡ssemos nos especialmente vulnera¡veis, haveria recursos para mantaª-los em casa, fornecer-lhes os servia§os necessa¡rios e testes de coronava­rus e direcionar nosso sistema médico para o atendimento precoce". Mas nosso sistema médico atual não estãoparticularmente equipado para gerenciar pacientes dessa maneira. a‰ difa­cil acreditar que estamos realmente preparados para revisar nossa infraestrutura de saúde em meio a uma pandemia.

Katz teme que o COVID-19 cause impactos econa´micos como os da pandemia de gripe de 1957-58, que causou o desemprego quase o dobro e o PIB caiu 10% anualmente. Durante esse evento, procuramos proteger toda a nossa população, e não uma parte dela. Embora tenhamos sofrido dores econa´micas de curto prazo, sobrevivemos e prosperamos após o tanãrmino.

Claro, seria maravilhoso isolar magicamente um pedaço da população para nos poupar dos piores efeitos do coronava­rus. Mas este éo mundo real. Estamos bem em uma pandemia macia§a que écontenção no passado. 

O lado positivo: não estamos mitigando o passado. Nãoprecisamos perder nossa humanidade ou bom senso. E precisamos de uma abordagem e liderana§a baseadas em evidaªncias mais do que nunca. 

 

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