Os médicos estãofazendo escolhas de vida e morte em relação aos pacientes com coronavarus - isso pode ter consequaªncias a longo prazo para eles
Essas decisaµes não apenas envolvem consequaªncias de vida ou morte, mas também envolvem traumas psicola³gicos a longo prazo.
Os médicos estãoenfrentando escolhas difaceis na pandemia de coronavarus.
Zoltan Balogh / MTI via AP
Amedida que o coronavarus se espalha e a demanda por equipamentos médicos ultrapassa em muito os suprimentos, os médicos nos EUA podem ter que escolher quem entre seus pacientes vive e quem morre. Manãdicos na Ita¡lia já foram forçados a fazer tais escolhas morais .
Em um artigo recente no The New York Times, seis médicos de cinco dos principais hospitais da cidade disseram estar preocupados que em breve eles teriam que tomar decisaµes dolorosas sobre quem deveria sair dos ventiladores que salvam vidas.
Além da angaºstia moral dessa decisão, eles também destacaram sua preocupação com possaveis ações judiciais ou acusações criminais se fossem contra os desejos de um paciente ou famalia.
A natureza dessas decisaµes compartilha muitos paralelos com aqueles que estudamos em soldados. Essas decisaµes não apenas envolvem consequaªncias de vida ou morte, mas também envolvem traumas psicola³gicos a longo prazo.
Tomada de decisão contra valores
Depois que o número de casos de COVID-19 na Ita¡lia começou a ultrapassar o número de ventiladores disponaveis, o Colanãgio Italiano de Anestesia, Analgesia, Reanimação e Terapia Intensiva publicou diretrizes para os critanãrios que médicos e enfermeiros deveriam seguir em termos de decisão sobre quem ganha vida. salvando tratamento.
O princapio das diretrizes foi utilita¡rio ou "informado pelo princapio de maximizar os benefacios para o maior número".
No entanto, o documento não ocultava o fato de que as escolhas morais que os médicos italianos agora enfrentavam eram semelhantes a triagem de guerra necessa¡ria na "medicina contra cata¡strofes".
Esse tipo de decisão pode significar que as pessoas são forçadas a fazer escolhas que va£o contra seus valores ou crena§as que são profundamente importantes para elas.
No treinamento dos médicos, um valor que éespecialmente pronunciado é"não fazer mal". Marco Metra, chefe de cardiologia de um hospital em uma das regiaµes mais afetadas da Ita¡lia, declarou no New York Times que a escolha entre pacientes “contraria o modo como costuma¡vamos pensar em nossa profissão, o modo como pensamos em nosso comportamento. pacientes."
A vida dos pacientes éfundamental e a responsabilidade profissional de agir em benefacio do paciente évista como um dever sagrado que todos os médicos devem a seus pacientes.
Ao escolher quem recebe tratamento, os médicos sera£o forçados a sacrificar uma crena§a profundamente enraizada. Provavelmente, isso acarreta trauma a longo prazo.
Lesão moral
A natureza dessas decisaµes éana¡loga ao que eu, juntamente com o colega psica³logo e colaborador de longa data Laurence Alison , estudamos sobre a tomada de decisaµes militares. Nosso trabalho analisa como as pessoas tomam decisaµes que envolvem vários resultados potencialmente negativos.
Examinamos como treinar as pessoas para tomar as decisaµes dos "piores", em vez de evita¡-las. Nossa pesquisa também destacou a ligação entre ter que tomar a pior decisão possível e uma forma de trauma psicola³gico conhecido como dano moral.
A lesão moral acontece quando os soldados testemunham ou praticam atos que transgridem sua própria moral ou crena§a. Isso pode incluir o uso de força mortal em combate e causar danos aos civis, ou deixar de fornecer assistaªncia médica a um civil ferido ou membro do servia§o. Tambanãm pode ser que um soldado mude de opinia£o sobre a necessidade ou justificativa para a guerra, durante ou depois de servir.
Os pesquisadores estãose concentrando cada vez mais no dano psicola³gico que pode ocorrer quando tal ação prejudica o senso de certo e errado e deixa soldados com sofrimento trauma¡tico.
Os custos invisaveis do COVID-19
A ameaça e os custos do COVID-19 estãosendo cada vez mais comparados a estar "em guerra" com a doena§a.
A Guarda Nacional de Nova York para responder ao COVID-19.
Foto AP / John Minchillo
O presidente Donald Trump prometeu " vencer esta guerra " contra o coronavarus, e o primeiro-ministro do Reino Unido, Boris Johnson, declarou-se chefe de um " governo de guerra ". O presidente francaªs Emmanuel Macron também declarou repetidamente que " estamos em guerra ".
Algumas projeções mostram que o COVID-19 poderia matar mais americanos do que morreram em combate na Primeira Guerra Mundial, no Vietna£ ou na Guerra da Coranãia.
Amedida que a “guerra†contra o COVID-19 continua, e se os esforços para aplainar a curva da taxa de infecção falharem, os profissionais médicos que estãona linha de frente sera£o cada vez mais forçados a tomar decisaµes que alteram a vida e são as piores. Exigiria que muitos deles violassem valores que são considerados sagrados.
O diretor do Naºcleo de Saúde Mental do Centro de Informações e Pesquisa Epidemiola³gica dos Veteranos de Massachusetts do Sistema de Saúde VA Boston Brett Litz, que foi o primeiro a conceituar danos morais em soldados, discutiu no passado sobre a necessidade de perceber o dano duradouro das decisaµes, ou prestar testemunho a queles que “transgridem profundamente crena§as e expectativas moraisâ€.
Atéa presente data, no entanto, os especialistas não entendem completamente o dano moral ou como trata¡- lo.
Mas mesmo com esse entendimento limitado, acredito, éimportante apoiar a equipe médica que luta contra o COVID-19 e suas decisaµes.
As decisaµes que os médicos tomara£o talvez sejam inevita¡veis, dado o tamanho e a escala da atual pandemia. Mas o fundamental éque os custos de tomar essas decisaµes sobre quem precisa toma¡-las não sejam esquecidos, nem diminuados.
Neil Shortland
Diretor do Centro de Estudos sobre Terrorismo e Segurança; Professor Assistente de Criminologia e Estudos da Justia§a, Universidade de Massachusetts Lowell