Opinião

O que fazemos e não sabemos sobre a infectividade e carga viral do COVID-19
Dois conceitos virola³gicos ba¡sicos receberam muita atenção recentemente - a “dose infecciosa” e a “carga viral” da SARS-CoV-2.
Por Marta Gaglia e Seema Lakdawala - 14/04/2020


Parta­culas do va­rus SARS-CoV-2, isoladas de um paciente e fotografadas usando uma
micrografia eletra´nica de transmissão. NIAID

Amedida que a pandemia do COVID-19 se espalha, tornou-se claro que as pessoas precisam entender fatos ba¡sicos sobre o SARS-CoV-2, o va­rus que causa o COVID-19, para tomar decisaµes informadas sobre cuidados com a saúde e políticas públicas. Dois conceitos virola³gicos ba¡sicos receberam muita atenção recentemente - a “dose infecciosa” e a “carga viral” da SARS-CoV-2.

Como virologistas da gripe, esses são conceitos nos quais frequentemente pensamos ao estudar infecções e transmissão de va­rus respirata³rios.

O que éuma 'dose infecciosa'?

A dose infecciosa éa quantidade de va­rus necessa¡ria para estabelecer uma infecção. Dependendo do va­rus, as pessoas precisam ser expostas a apenas 10partículas de va­rus - por exemplo, para va­rus influenza - ou a milhares para que outros va­rus humanos sejam infectados.

Os cientistas não sabem quantaspartículas virais do SARS-CoV-2 são necessa¡rias para desencadear a infecção. O COVID-19 éclaramente muito contagioso, mas isso pode ocorrer porque poucaspartículas são necessa¡rias para a infecção (a dose infecciosa ébaixa) ou porque as pessoas infectadas liberam muitos va­rus em seu ambiente.

O que éa 'carga viral'?

A carga viral éa quantidade de um va­rus especa­fico em uma amostra de teste retirada de um paciente. Para COVID-19, isso significa quantos genomas virais são detectados em um swab nasofara­ngeo do paciente. A carga viral reflete o quanto bem um va­rus estãose replicando em uma pessoa infectada. Uma carga viral alta para SARS-CoV2 detectada em um swab de paciente significa que um grande número departículas de coronava­rus estãopresente no paciente.

Uma carga viral alta estãoligada ao maior risco de pneumonia grave ou morte?

Intuitivamente, pode fazer sentido dizer que quanto mais va­rus, pior a doena§a. Mas, na realidade, a situação émais complicada.

No caso da SARS ou gripe original , o fato de uma pessoa desenvolver sintomas leves ou pneumonia depende não apenas da quantidade de va­rus nos pulmaµes, mas também da resposta imune e da saúde geral.

No momento, não estãoclaro se a carga viral da SARS-CoV-2 pode nos dizer quem recebera¡ pneumonia grave. Dois  estudos no The Lancet relataram que pessoas que desenvolvem pneumonia mais grave tendem a ter, em média, cargas virais mais altas quando são internadas pela primeira vez no hospital.

Esses estudos também relataram que as cargas virais permanecem mais altas por mais dias em pacientes com doença mais grave. No entanto, a diferença não foi drama¡tica e as pessoas com cargas virais semelhantes desenvolveram doenças leves e graves.

Para complicar ainda mais o quadro, outros  estudos descobriram que alguns pacientes assintoma¡ticos tinham cargas virais semelhantes aos pacientes com sintomas de COVID-19. Isso significa que a carga viral por si são não éum preditor claro do resultado da doena§a.

Outra pergunta comum ése o aumento da dose do va­rus após a infecção - por exemplo, atravanãs da exposição prolongada a uma pessoa infectada, como a experiência dos profissionais de saúde - resultara¡ em doenças mais graves. No momento, simplesmente não sabemos se éesse o caso.

A carga viral alta aumenta a capacidade de transmitir o va­rus para outras pessoas?

Em geral, quanto mais va­rus vocêtiver nas vias aanãreas, mais vocêliberara¡ quando expirar ou tossir, embora exista muita variação de pessoa para pessoa. Va¡rios  estudos  tem  relatado que os pacientes tem a maior carga viral do coronavirus no momento em que são diagnosticados.

Isso significa que os pacientes transmitem COVID-19 de maneira mais eficaz no ini­cio de sua doença ou mesmo antes de saberem que estãodoentes. Esta éuma ma¡ nota­cia. Isso significa que as pessoas que parecem e se sentem sauda¡veis ​​podem transmitir o va­rus para outras pessoas.

Por que édifa­cil responder a perguntas ba¡sicas sobre a quantidade de va­rus para o SARS-CoV-2?

Normalmente, pesquisadores como nosdeterminam as caracteri­sticas de um va­rus a partir de uma combinação de estudos experimentais altamente controlados em modelos animais e observações epidemiola³gicas de pacientes.

Mas como o SARS-CoV-2 éum novo va­rus, a comunidade de pesquisa estãoapenas comea§ando a fazer experimentos controlados. Portanto, toda a informação que temos vem da observação de pacientes que foram todos infectados de maneiras diferentes, tem condições de saúde subjacentes diferentes e são de diferentes idades e ambos os sexos. Essa diversidade dificulta tirar conclusaµes fortes que sera£o aplicadas a todos, apenas a partir de dados observacionais.

Onde a incerteza sobre cargas virais e doses infecciosas nos deixa?

Estudar as cargas virais e a dose infecciosa provavelmente seráimportante para tomar melhores decisaµes para os profissionais de saúde. Para o resto de nós, independentemente da carga viral dos pacientes ou da dose infecciosa de SARS-CoV-2, émelhor reduzir a exposição a qualquer quantidade de va­rus, pois fica claro que o va­rus étransmitido de maneira eficiente de pessoa para pessoa.

As prática s atuais de distanciamento social e o contato limitado com grupos de pessoas em Espaços fechados reduzira£o a transmissão do SARS-CoV-2. Além disso, o uso de máscaras faciais reduzira¡ a quantidade de va­rus liberada por indivíduos pré-sintoma¡ticos e assintoma¡ticos. Então fique em casa e fique seguro.

 

*As opiniaµes expressas neste artigo são de responsabilidade exclusiva do(s) autor(es), não refletindo necessariamente a posição institucional do maisconhecer.com


Marta Gaglia
Professor Assistente de Biologia Molecular e Microbiologia, Universidade Tufts

Seema Lakdawala
Professor Assistente, Universidade de Pittsburgh

 

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