Opinião

Estratanãgia de inovação em tempos de pandemia
A crise tem nome e sobrenome: denomina-se pandemia do coronava­rus covid-19 (Sars-CoV-2). Neste contexto, trazemos uma reflexa£o: como as organizaa§aµes podem aproveitar a crise como um fator impulsionador da inovaa§a£o?
Por Marcelo Caldeira Pedroso - 24/04/2020

Doma­nio paºblico

Provavelmente a melhor forma de lidar com as crises seja um misto de realidade com otimismo. Quando a crise éinevita¡vel ou já estãoinstalada (senso de realidade), vale a pena pensar em formas de potencializar as oportunidades dela decorrentes (senso de otimismo). Nas palavras de Albert Einstein: “A crise éa melhor benção que pode ocorrer com as pessoas epaíses, porque a crise traz progressos. A criatividade nasce da angaºstia, como o dia nasce da noite escura. a‰ na crise que nascem as invenções, os descobrimentos e as grandes estratanãgias”.

No momento atual, a crise tem nome e sobrenome: denomina-se pandemia do coronava­rus covid-19 (Sars-CoV-2). Neste contexto, trazemos uma reflexa£o: como as organizações podem aproveitar a crise como um fator impulsionador da inovação?

O conceito de inovação, no sentido amplo, pode ser entendido como “algo novo” para uma organização e, de maneira geral, também para as pessoas por ela impactadas. Isso significa que inovação implica mudança. No sentido inverso, uma mudança significativa no ambiente externo pode gerar a necessidade de inovação.

Essa questãoreflete o contexto atual: a inovação como um imperativo, ou seja, um elemento que se impaµe para lidar com uma mudança significativa no ambiente externo (no caso, a pandemia e suas consequaªncias).

Em geral, pode-se dizer que as pessoas (e também as organizações) mudam por necessidade. Segundo Sigmund Freud, “quando a dor de não estar vivendo for maior que o medo da mudança, a pessoa muda”. Em outras palavras, as pessoas e as organizações mudam quando suas percepções dos benefa­cios para mudar compensam os esforços e riscos associados a  mudança. No caso da pandemia, o benefa­cio pode ser incomensura¡vel. A depender do contexto organizacional, a pandemia pode trazer importantes consequaªncias aos nega³cios de uma organização, ou atémesmo colocar em risco sua sobrevivaªncia.

Asmudanças impostas ou adaptativas decorrentes da pandemia tem proporcionado diversas novidades, dentre outras: novos hábitos sociais (ex.: distanciamento social), impactos econa´micos e sociais devidos a  restrição de atividades consideradas como não essenciais (ex.: fechamento de parte do comanãrcio), adoção de novas tecnologias (ex.: plataforma de videoconferaªncia), novas formas de trabalho (ex.: trabalho remoto) e novas regulamentações (ex.: telemedicina, flexibilização da jornada de trabalho).

Isso tem causado impactos substanciais em alguns setores da economia. Provavelmente, alguns destes sera£o tratados como “antes e depois da covid-19”. Vamos considerar um conceito da inovação para refletir sobre isso. Nos anos 60, Everett Rogers preconizou a teoria de difusão da inovação. Segundo Rogers, a difusão éo caminho pelo qual uma inovação édisseminada ao longo do tempo entre os participantes de um sistema social. Segundo esse conceito, as pessoas podem ser classificadas em grupos de acordo com o tempo que demoram para adotar uma inovação. Esses grupos são: os inovadores, ou seja, os primeiros a aderir a  inovação (que representam cerca de 2,5% da população); os primeiros adeptos, que adotam a inovação logo após os inovadores (representam cerca de 13,5% da população); o grupo classificado como maioria inicial, ou seja, aquelas pessoas que observam e aprendem com as experiências dos grupos antecessores (representam cerca de 34% da população); o grupo tratado como maioria tardia, ou seja, aquelas pessoas que costumam aderir a inovações já testadas e consolidadas (também representam cerca de 34% da população); e os retardata¡rios, que são o último grupo a adotar a inovação (representam os restantes 16% da população).

Quando a inovação atinge a maioria inicial, ela tende a se consolidar. Quais são as implicações da teoria de difusão da inovação no contexto atual? Em função da pandemia, alguns setores precisaram adotar inovações em grau elevado. Exemplos desses setores incluem a educação (por meio de diferentes formatos de educação a distância), varejo e loga­stica (compras on-line e entregas no ponto de consumo), assistaªncia a  saúde (por meio da telemedicina), além de diferentes atividades administrativas (por meio do trabalho remoto), processos decisãorios e de comunicação (por meio das reuniaµes e interações por videoconferaªncia).

Em certos casos, muito provavelmente essas e outrasmudanças já ocorreram numa prevalaªncia que atingiu a maioria inicial ou atémesmo a maioria tardia da população atuante nesses setores. Isso tende a consolidar as inovações. Assim, após a pandemia, certamente esses setores devera£o fundir, sobrepor ou equilibrar as novas prática s com as antigas. Ou seja, asmudanças impostas pela pandemia tendem a transformar determinados setores.

Em sa­ntese, a pandemia implica uma mudança (em maior ou menor grau) no ambiente externo da organização, o que implica também a necessidade de adaptação desta a um novo contexto. Algumasmudanças realizadas tendem a se consolidar em determinados setores (ex.: educação, varejo e saúde) fazendo com que a premaªncia de inovação seja evidenciada pela pandemia. Portanto, uma mensagem para as organizações anã: além da estratanãgia de gestãode crises, aproveitem o momento para repensar sua estratanãgia de inovação.


*As opiniaµes expressas neste artigo são de responsabilidade exclusiva do(s) autor(es), não refletindo necessariamente a posição institucional do maisconhecer.com


Marcelo Caldeira Pedroso
professor livre-docente da FEA/USP

 

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