Opinião

Quepaís éesse? Colonizado e perifanãrico ou protagonista?
A composia§a£o criada há42 anos parece ter sido escrita ontem. Uma questãoentão emerge: o Brasil melhorou? A resposta énão.
Por Isaac Roitman - 12/06/2020

Cortesia

Peguei emprestado como parte do tí­tulo do artigo a composição musical criada por Renato Russo (Renato Manfredini Junior) em 1978 e que teve grande sucesso na banda Legia£o Urbana. A letra da música équestionadora e pretende tecer uma severa cra­tica social. Quando foi criada, no final dos anos 70, já havia a sensação de impunidade e falta de regras civilizata³rias. O compositor não critica apenas a classe pola­tica, mas também a corrupção espalhada e arraigada no nosso dia a dia.

Um dos versos diz: “Nas favelas, no Senado / Sujeira pra todo lado / Ninguanãm respeita a Constituição / Mas todos acreditam no futuro da nação”. Em um outro: “Mas o Brasil vai ficar rico / Vamos faturar um milha£o / Quando vendermos todas as almas / Dos nossos a­ndios num leila£o”.

A composição criada há42 anos parece ter sido escrita ontem. Uma questãoentão emerge: o Brasil melhorou? A resposta énão.

A pandemia provocada pelo coronava­rus, parafraseando, Hans Christian Andersen (o rei estãonu), revelou que opaís estãonu e despreparado para enfrentar a grave crise sanita¡ria que assola o planeta. Em adição, a pobreza e a fome, consequaªncia da vergonhosa desigualdade social, condenara¡ a morte um grande contingente das populações vulnera¡veis.

No Brasil, não temos tradição de planejar a longo prazo. Nossos projetos se limitam a quatro ou oito anos de governo, e a maioria deles não são realizados. a‰ preciso planejar a longo prazo, estabelecer projetos de Estado e construir um novo Brasil, melhor e mais justo. Vamos trabalhar para que no breve futuro possamos apreciar a bela composição de Renato Russo e a pandemia do coronava­rus como uma lembrana§a do passado que nunca voltara¡.


A demissão recente de dois ministros da saúde competentes revela que opaís estãoa  deriva. O descaso com o desenvolvimento cienta­fico brasileiro, com cortes de investimentos e redução de bolsas, revela uma falta de visão para o futuro. A crise da Covid-19 certamente nos ensinara¡ muito. O modelo econa´mico planejado pelos banqueiros e seus comparsas naufragou. Por outro lado, a pandemia revelou atitudes virtuosas, como a dedicação dos trabalhadores da saúde para enfrentar os efeitos perversos da pandemia. As iniciativas solida¡rias, para mitigar o sofrimento das camadas mais vulnera¡veis éum sinal que podemos aprimorar a nossa missão com o coletivo.

Precisamos definir se queremos continuar a ser umpaís com o mesmo enredo, colonizado, perifanãrico e campea£o na injustia§a social? Se a resposta for sim, vamos continuar na zona de conforto, acomodados e não gastar nenhum minuto pensando nas futuras gerações de brasileiros e brasileiras. Vamos continuar a eleger nas esferas do Executivo e Legislativo pessoas que não são preparadas e que não apresentam nenhuma sensibilidade para o coletivo.

No entanto, se a resposta for não, vamos ser todos protagonistas de transformações onde todos possam alcana§ar seus sonhos. Em uma verdadeira democracia, o Estado deve priorizar os desejos e sonhos do povo. Um modelo de desenvolvimento baseado apenas no desenvolvimento econa´mico éincompleto. Crescimento econa´mico sem desenvolvimento social resulta em falta de inclusão, indignação, descontentamento e agitação social.

a‰ urgente conquistarmos uma educação que consolide valores e virtudes e que inclua uma educação ambiental e liberta¡ria sem espaço ao individualismo, a competição, ao consumismo e ao mercado que não respeite os princa­pios civilizata³rios e direitos de todas as camadas sociais. Para conquistarmos o Brasil que queremos, épreciso mudar o pensamento e as atitudes das pessoas. a‰ pertinente lembrar o pensamento de George Bernardo Shaw: “Progresso éimpossí­vel sem mudança, e esses que não podem mudar suas mentes não podem mudar coisa nenhuma.”

A preocupação com o futuro e com o legado que deixaremos para as próximas gerações devem pautar as nossas ações no presente. Lembremos que não somos imortais e que o nosso compromisso maior écom os nossos descendentes.

No Brasil, não temos tradição de planejar a longo prazo. Nossos projetos se limitam a quatro ou oito anos de governo, e a maioria deles não são realizados. a‰ preciso planejar a longo prazo, estabelecer projetos de Estado e construir um novo Brasil, melhor e mais justo. Vamos trabalhar para que no breve futuro possamos apreciar a bela composição de Renato Russo e a pandemia do coronava­rus como uma lembrana§a do passado que nunca voltara¡.

*As opiniaµes expressas neste artigo são de responsabilidade exclusiva do(s) autor(es), não refletindo necessariamente a posição institucional do maisconhecer.com


Isaac Roitman
Doutor em Microbiologia, professor emanãrito da Universidade de Brasa­lia, coordenador do Naºcleo de Estudos do Futuro (n.Futuros/CEAM/UnB), membro tiular de Academia Brasileira de Ciências. 

 

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