Os atuais modelos de consumo, produção e descarte são a principal causa da degradaa§a£o global do meio ambiente e instabilidade do processo de desenvolvimento.
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As raazes hista³ricas e econa´micas da humanidade se baseiam no uso do meio ambiente, principalmente por meio da exploração de produtos florestais, da agricultura e da pesca. Soma-se a este padrãoo consumo de recursos naturais renova¡veis e não-renova¡veis, como a a¡gua, os minanãrios, as fontes de energias, entre outros, pelo setor industrial. Os atuais modelos de consumo, produção e descarte são a principal causa da degradação global do meio ambiente e instabilidade do processo de desenvolvimento. A extensão do consumo pode ser considerada tanto do ponto de vista do atual modelo, quanto de seu volume, ou seja, a quantidade de bens e servia§os consumidos. Ha¡ também falta de equilabrio entre as várias regiaµes do mundo, com pequenas proporções de pessoas empaíses desenvolvidos consumindo a maior parte dos recursos mundiais, em contraposição a grande maioria da população mundial privada, em diferentes naveis, desse processo.
Esse modelo de civilização depende, para seu desenvolvimento e continuidade, da existaªncia dos ecossistemas, fato que se relaciona tanto ao estoque de recursos naturais quanto a sua capacidade de metabolizar resíduos. Em conjunto, estes são os chamados de servia§os ambientais que os ecossistemas fornecem a humanidade (Millennium Ecosystem Assessment, 2005).
Apesar destes fatos, o homem sempre alterou o seu meio na busca de seus interesses, convertendo campos e florestas em plantações agracolas, mudando o curso de rios e acelerando processos de extinção em massa. Estas alterações, apesar de trazerem benefacios econa´micos em curto prazo, acabaram por impor em um prazo mais longo altos custos ao meio ambiente e a s sociedades (como a misanãria e emergaªncia de novas doena§as, como a que o mundo vivencia com a covid-19).
Neste momento, muitos tornam-se conscientes do real valor desses recursos e do grande custo socioecona´mico gerado pelo mau gerenciamento do meio ambiente.
Devido a pandemia da covid-19, háconstante alerta por parte de economistas e organizações internacionais de desaceleração da economia e recessão global. Estudos sobre consumo e alterações sociais para os impactos da pandemia no Brasil ainda são prematuros, mas outrospaíses podem nos trazer alguma luz sobre o tema.
Durante a Pandemia, segundo Chassagne (2019), tivemos uma “versão rápida e não planejada do ‘decrescimento’ econa´mico osa transição que alguns acadaªmicos e ativistas hádécadas dizem ser necessa¡ria para lidar com asmudanças climáticas e deixar um planeta habita¡vel para as gerações futurasâ€. Lições aprendidas com a China, que teve o inicio da pandemia em dezembro de 2019, caminhando para sua superação em meados de mara§o de 2020, já podem ser trazidas.
Mudanças já estãosurgindo, mas não se sabe se se tornara£o permanentes.
De forma positiva, tem-se observado compras locais, apoiando pequenos comanãrcios locais. Chassagne (2019) utiliza a expressão “go slow, go local†para demonstrar que a covid-19 fora§ou uma redução imediata de como nos deslocamos e vivemos. Conexaµes locais são criadas, compras são feitas localmente, trabalha-se em casa e limita-se o consumo ao necessa¡rio.
Em contrapartida, segundo Baker et al. (2020), nos EUA, os gastos domanãsticos aumentaram cerca de 50% entre 26 de fevereiro e 11 de mara§o, permanecendo elevados até27 de mara§o, com um aumento de 7,5% em relação ao inicio do ano. Tambanãm houve aumento nos gastos com cartaµes, o que éconsistente com as famalias que gastaram a cranãdito para armazenarem bens.
Felizmente, com o decorrer da pandemia, as compras para armazenamento se reduziram. Muitas pessoas perceberam que não precisam tanto quanto costumavam gastar e temem a recessão que se aproxima. Muitas famalias tem ido a s lojas apenas para o essencial, e o restante tem sido realizado on-line.
Para quem se aventura a sair de casa, a compra física écontrolada nos mercados, com entrada de um número ma¡ximo de pessoas, uso de ma¡scaras, uso obrigata³rio de sacolas fornecidas pelo estabelecimento, não podendo ser usada sacola própria, em alguns locais. Observa-se, neste ponto, um retrocesso ao banimento da sacola pla¡stica e um aumento expressivo do uso de embalagens descarta¡veis de todos os tipos.
Os setores mais impactados foram as companhias aanãreas, que reduziram o número de voos e tiveram quedas nas receitas. Prevaª-se que, no futuro, as pessoas ira£o reduzir as viagens desnecessa¡rias e considerar manãtodos de comunicação on-line.
No Brasil, de uma forma geral, todas as empresas aanãreas foram impactadas. O número de voos semanais, em mara§o de 2020, passou de 14.781 para 1.241 em três companhias aanãreas. Este número de voos representa uma malha aanãrea emergencial acordada para manter o deslocamento de materiais, profissionais de saúde e de pessoas que necessitavam viajar.
Com a redução de mobilidade, analista do Centro de Pesquisa em Energia e Ar Limpo de Helsinque, Finla¢ndia, estima que a pandemia possa ter reduzido as emissaµes globais em 200 megatoneladas de dia³xido de carbono atéo momento, a medida que as viagens aanãreas foram interrompidas, as fa¡bricas fecharam e a demanda de energia caiu.
Nas primeiras quatro semanas da pandemia, somente o consumo de carva£o na China caiu 36% e a capacidade de refino de petra³leo, 34%.
Ha¡ décadas o mundo não respira um ar tão puro quanto nessa anãpoca de distanciamento social. Mas háprevisão de aumento do consumo de veaculos e, por conseguinte retorno da poluição.
Se as vendas de veaculo caaram 79% na China durante a COVID-19, com a estabilização da pandemia nopaís, as vendas de automa³veis podera£o subir. Uma pesquisa da Ipsos nopaís apontou uma mudança no perfil de comprador de carros. O medo de contaminação pela COVID-19 no transporte paºblico tem feito com que muita gente considere ter um veaculo no lugar a usar o transporte paºblico. Metade dos interessando em comprar um carro, querem automa³veis com climatização dotada de filtragem do ar e interior com materiais antibactericidas. A maioria pretende comprar carros pela internet e que sejam entregues com limpeza antibacteriana.
Uma locadora em Sa£o Paulo reduziu o aluguel mensal do carro de R$ 1.500 para R$ 900 para atingir os usuários de transporte coletivo e veaculos de aplicativo, que preferem evitar o risco de conta¡gio nesses modais.
O setor de saúde e beleza, que mais crescia, agora com o COVID-19 cedeu lugar a produtos para o cuidado com a casa. Desinfetantes e cremes para as ma£os fazem parte da lista de produtos para cuidados pessoais e de beleza durante a pandemia.
Segundo pesquisas da Kantar, em mara§o 2020, houve um aumento de 27% na compra alimentos mais nutritivos e sauda¡veis, de 20% alimentos ba¡sicos e produtos de limpeza, e 20% em remanãdios para gripes e resfriados sem prescrição médica os330.000 lares compraram vitaminas.
No Reino Unido, desde o inicio da pandemia, cerca de 3 milhões de pessoas encomendaram vegetais direto de agricultores locais pela primeira vez, o mesmo ocorreu na Alemanha e na Frana§a de acordo com o relatório “The Future 100†da Wunderman Thompson Intelligence (2020).
O comportamento humano relacionado ao consumo ébastante complexo e depende da influaªncia de diversos fatores. A pandemia da COVID-19 aponta novos rumos e padraµes que podem, ou não, se estabelecer ao longo dos pra³ximos anos. a‰ importante, entretanto, considerar que podemos aprender e repensar sobre nosso atual padrãocivilizata³rio focado no consumismo extremo de um lado, e misanãria permanente de outro, modelo que vem se acentuando nos últimos anos conectado a uma nova onda neoliberal fortemente excludente.
Como a população mais vulnera¡vel não éesperado um outro normal, que não o que já vivenciam hámuitos anos. Para as classes consumidoras, seria fundamental que as lições aprendidas na pandemia fossem efetivamente incorporadas e que um maior número de pessoas passe a agir de forma mais simples, coletiva, solida¡ria, inclusiva e corresponsável.
*As opiniaµes expressas neste artigo são de responsabilidade exclusiva
do(s) autor(es), não refletindo necessariamente a posição institucional do
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Sonia Maria Viggiani Coutinho, Vivian Aparecida Blaso Souza Soares Canãsar, Edson Grandisoli e Pedro Roberto JacobiÂ
Pesquisadores do programa USP Cidades Globais, do Instituto de Estudos Avana§ados da USP