Opinião

Importações chinesas de soja devem passar de 105 milhões de toneladas até2029
Aqui no Brasil os prea§os ao fechar esta coluna estavam em R$ 110 para a saca da soja e R$ 45 para o milho, entregue em cooperativa de Sa£o Paulo. Muita gente vendendo produa§aµes futuras, e eu faria isto. Estamos com poucos gra£os no Brasil.
Por Marcos Fava Neves - 11/08/2020


Doma­nio paºblico

Nosso resumo mensal traz os eventos principais de julho e o que observar em agosto. Comea§ando pela economia mundial, o mundo segue acompanhando diariamente os impactos das políticas de isolamento, números de infecções e fatalidades e a consequente queda da confianção na economia mundial. O PIB dos EUA sofreu a maior redução da história em um trimestre, segundo o Departamento de Comanãrcio, com queda de 32,9% entre abril e junho de 2020. Mas em algunspaíses emergentes um clima de maior otimismo comea§a a prevalecer com o não aparecimento de segundas ondas de infecções e a retomada gradual das atividades econa´micas.

Na economia brasileira, o mercado melhorou suas expectativas para o PIB de 2020, mas ainda com retração de 5,77%, e recuperação em 2021 de 3,5%. Segundo o boletim Focus do BACEN (24 de julho), o IPCA deve fechar 2020 em 1,67% e 2021 em 3%; já a meta Selic, para os respectivos anos, deve encerrar em 2% e 3%. A projeção do ca¢mbio éde R$ 5,20 no fechamento deste ano e R$ 5,00 no pra³ximo. No momento do fechamento desta coluna a taxa cambial estava em 1 US$ = R$ 5,18. a‰ interessante que cada projeção melhora um pouco a perspectiva, aparentemente hámais a¢nimo que no maªs passado.

Entre estudos internacionais deste maªs, destaca-se um realizado pelo Instituto de Manãtricas e Avaliação em Saúde da Universidade de Washington (IHME) que revela redução na população global a partir de 2050, além demudanças representativas na pira¢mide eta¡ria em 2100. Com a redução de população ativa, algunspaíses como China e andia devem apresentar menores taxas de crescimento econa´mico. No Brasil, o pico populacional deve acontecer em 2043, com 245 milhões de habitantes, fechando 2100 com 164 milhões. Interessante observar isto, pois a onda de expansão quantitativa do agro brasileiro não seráeterna.

Ainda nos temas do maªs, uma área que deve crescer brutalmente éa dos fundos verdes, ligados a projetos que tragam ganhos ambientais, com grandes grupos financeiros ampliando o direcionamento de recursos para negociação de fundos verdes no Paa­s. Atualmente, o Brasil possui R$ 30 bilhaµes em fundos desse tipo, valor muito menor que o mercado global, que éde U$ 1 trilha£o. Investidores estrangeiros e organizações brasileiras iniciaram a estruturação das primeiras emissaµes de Certificados Receba­veis do Agronega³cio (CRA) em da³lar (possibilitada pela MP do Agro) para financiamento do setor produtivo, o que deve aportar investimentos de US$ 550 milhões em ta­tulos envolvendo uma cerealista e uma usina de biocombusta­veis. As emissaµes de ta­tulos de CRA em 2019 tiveram um aumento de 78,5%, e em 2020, já movimentaram mais de 8,3 bilhaµes. No primeiro semestre de 2020, as emissaµes foram 11,5% maiores que o mesmo período de 2019.

O gigante varejista chinaªs Alibaba pretende desenvolver na cidade chinesa de Zibo, em Shandong, toda uma infraestrutura agra­cola digital para otimizar a distribuição de alimentos frescos por todo opaís. O projeto envolve centros de processamento e distribuição. Temos que observar, tive a chance de visita¡-los em 2019 e fiquei impressionado.

Mas antes de pular ao agro, aparentemente na economia estamos melhorando. Resta observar os movimentos principalmente nos EUA, com a eleição presidencial e as trombadas com a China. Mas continuo acreditando em mais confianção e na valorização do real e da Bolsa.

No Brasil, o 10º boletim da safra publicado pela Conab reforça a expectativa de recorde de produção de gra£os, com volume estimado em 251,4 milhões de toneladas, 3,9% a mais que no ciclo anterior. Já a área plantada deve chegar a 65,8 milhões de hectares, 4% a mais que na safra passada. Estima-se aumento da produção de algoda£o de 4%, atingindo 2,89 milhões de toneladas com a colheita já em pleno andamento. O milho 2ª safra também estãoem fase de colheita, com expectativa de produção de 73,5 milhões de toneladas, o que, somado a s 1ª e 3ª safras, garantira¡ o recorde de 100,6 milhões de toneladas. A soja teve a colheita encerrada, produzindo 120,9 milhões de toneladas, 5,1% a mais que em 2018/19. As culturas de inverno estãoem plena semeadura, com destaque para o trigo que aumentou 13,7% sua área. Esta safra éum alento ao Brasil em momento tão difa­cil dopaís.

De acordo com o MAPA, novo recorde foi atingido para as exportações de junho, somando US$ 10,17 bilhaµes, quase 25% superior ao mesmo período do ano passado e representando 56,8% das exportações totais do Brasil. Cada vez mais um agropaa­s. Destaque novamente para o complexo soja, exportando US$ 5,42 bilhaµes (+53,4%), com gra£os representando US$ 4,67 bilhaµes (+61,9%), farelo US$ 563,1 (+2%) e a³leo US$ 186,6 milhões (+92,8%). Vendas de carnes atingiram US$ 1,41 bilha£o (+4,5%), valor recorde para o maªs, com participação da carne bovina de US$ 742,6 milhões, sua­na US$ 196,9 milhões e de frango US$ 438,2 milhões (-32,1%). Produtos florestais exportaram US$ 962,6 milhões (-13,8%) sofrendo com a queda de prea§os, apesar do volume ter aumentado; já o cafévendeu US$ 324,6 milhões (-13,1%). Por outro lado, as importações do agro reduziram 16,1%, chegando a US$ 984,6 milhões, o que érefletido em um saldo positivo da balana§a comercial do setor de US$ 9,34 bilhaµes.

No acumulado do 1º semestre de 2020, o agro vendeu US$ 51,6 bilhaµes, maior valor registrado pela sanãrie hista³rica, com saldo positivo na balana§a de US$ 45,4 bilhaµes. Impressionante, pois se mantivermos esta performance no segundo semestre, o agro pode deixar algo entre US$ 85 a 90 bilhaµes de saldo na balana§a comercial.

Projeção do MAPA revela que o Valor Bruto da Produção (VBP) deve atingir o recorde de R$ 716,7 bilhaµes em 2020, superior em 8,8% ao do ano passado. O grande protagonismo fica a cargo da soja, com faturamento estimado de 173,5 bilhaµes, 3,5% superior ao de 2019. Já o VBP da pecua¡ria deve alcana§ar R$ 236,6 bilhaµes, com alta de 3,4%.

E as perspectivas de futuro continuam boas. O estudo Perspectivas Agra­colas 2020-29, realizado pela OCDE e FAO, aponta a consolidação da Amanãrica Latina como fornecedor mundial de produtos agra­colas nos pra³ximos dez anos, com a produção aumentando em 14%, enquanto que as exportações devem crescer 1,7% por ano. Em 2029, a regia£o devera¡ responder por 60% das exportações globais de soja, 40% do milho, 39% do açúcar e 35% de carnes (bovina e frango). O Brasil, China, EUA e Unia£o Europeia devem representar 60% da produção mundial de carnes até2029.

Nos pra³ximos 10 anos, deve acontecer um aumento no consumo manãdio de carnes por habitante de 0,24% por ano, empaíses desenvolvidos, e de 0,8%, nospaíses em desenvolvimento. Segundo a OCDE e FAO, a China deve representar 29% das importações mundiais, tendo Brasil, Canada¡, EUA e Unia£o Europeia como principaispaíses exportadores. O Brasil devera¡ exportar 105 milhões de toneladas de soja para a China em 2029, com a produção atingindo 140 milhões de toneladas, frente a 120 milhões dos EUA.

O Brasil também deve se firmar como segundo maior exportador mundial de algoda£o em 2029, com crescimento de 94% no período. Em relação ao milho, o Brasil deve participar de 20% da parcela mundial, enquanto que os EUA participam de 31% do mercado.

Em relação aos prea§os no mercado de soja e milho, pouca variação neste maªs. O USDA aponta que os contratos futuros de milho para setembro foram negociados em US$ 3,25/bushel, enquanto que os futuros da nova safra de dezembro fecharam a US$ 3,33. O USDA manteve suas classificações de 69% do milho na condição de bom para excelente nessa semana. Na soja, os prea§os futuros para agosto caa­ram para US$ 8,9/bushel essa semana, e para novembro estãoem US$ 8,94. Os a­ndices para soja voltaram a 69% de bom para excelentes, após quedas recentes. Aqui no Brasil os prea§os ao fechar esta coluna estavam em R$ 110 para a saca da soja e R$ 45 para o milho, entregue em cooperativa de Sa£o Paulo. Muita gente vendendo produções futuras, e eu faria isto. Estamos com poucos gra£os no Brasil.

Fecho a análise do agro deste maªs com os avanços impressionantes da digitalização, pois a pandemia intensificou a busca por soluções digitais de monitoramento de propriedades a distância e sistemas de informação. Outros servia§os como compra de insumos on-line e venda das commodities tem se destacado. Oferecendo descontos, a Orbia, por exemplo, chegou a vender R$ 10 milhões em produtos em sua plataforma digital. O John Deere Conecta, aplicativo de suporte lana§ado no maªs de maio, registrou mais de 320 mil acessos em 30 dias. Segundo a John Deere, 85% dos atendimentos no período da pandemia foram solucionados virtualmente a plataforma gerou a venda de 300 ma¡quinas desde a sua criação. A Coopercitrus lançou novidades no aplicativo Campo Digital durante a sua feira Expo Digital, realizada no final de julho. Pelo aplicativo, o produtor podera¡ solicitar servia§os de tecnologia em agricultura de precisão como amostragem georreferenciada, pulverizações por drones, monitoramento via satanãlite e outros. Os produtores podem acessar a plataforma em qualquer dispositivo (tablet, celular ou computador).

Os cinco fatos do agro para acompanhar agora diariamente em agosto são:

O avanço da flexibilização do isolamento social em cadapaís e se teremos retomada mais rápida da economia mundial;

Da mesma forma, acompanhar a flexibilização no Brasil e seus impactos na economia brasileira e no ca¢mbio;

As ações do governo na questão do desmatamento ilegal, seus resultados e impactos nas pressaµes contra o Brasil na questãoambiental;

O comportamento do clima na safra dos EUA que vem atéo momento sem problemas;
China: seguir as nota­cias das relações com os EUA e importações de produtos do Brasil.

*As opiniaµes expressas neste artigo são de responsabilidade exclusiva do(s) autor(es), não refletindo necessariamente a posição institucional do maisconhecer.com


Marcos Fava Neves

Professor titular da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade de Ribeira£o Preto (FEA-RP)

 

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