As aventuras de Smith e Burke contra os arautos da utopia: a teoria conservadora!
O acervo da história contemporâneaencontra nas estantes as consequencias nefastas motivadas pelos dois estados de esparito, que produziram terraveis tiranias criminosas

Revista Estante
Ou por ingenuidade ou por ma¡ fédos defensores de utopias as sociedades contempora¢neas vivem sobressaltadas por debates polaticos desgastantes em torno de abstrações que pouca relação tem com a realidade cotidiana dos cidada£os.
Por ingenuidade, os que acreditam no sonho de sociedades terrenas perfeitas, sem crimes, sem injustia§as ou sem desigualdades (uma parte movida por ideais religiosos, outra parte movida por ideais seculares), por desconhecimento da crueza da natureza humana falavel (que pulsa dentro deles, o que prova que sequer se autoconhecem... imaginem o mundo!) desperdia§am a vida arquitetando projetos polaticos com o objetivo de, segundo gostam de dizer, pasmem, “transformar este mundoâ€!Â
Por ma¡ fanã, os que disseminam o sonho de sociedades terrenas perfeitas sabem que ele éirrealiza¡vel, no entanto, manipulam esta ilusão, que normalmente motiva esparitos juvenis (pois por um condicionante neurobiola³gico dessa fase da vida atanã, por volta dos 30 anos, tem os cérebros em ebulição, inquietos e desconforta¡veis... logo influencia¡veis!), em favor de interesses polaticos individuais ou de um pequeno grupo, cujas frustrações com a existaªncia alimentam egos desmesurados de egoasmo e ambição, que creem piamente que merecem ser mais do que são e que por isso a sociedade lhes deve!
O acervo da história contemporâneaencontra nas estantes as consequencias nefastas motivadas pelos dois estados de esparito, que produziram terraveis tiranias criminosas, a comea§ar por 1789 com a Revolução Francesa (matriz do que se conhece hoje como “a³dio do bemâ€, na verdade expressão do mal interior de indivíduos recalcados e infelizes!) e depois pelas sucessivas reencarnações: o comunismo sovianãtico (1917) e chinaªs (1949); e o nazismo alema£o (1933); para ficar com os mais conhecidos exemplos. Em comum e ironicamente, as palavras de ordem dessas experiências sociais fracassadas (poranãm terrivelmente sanguina¡rias para milhões de inocentes!) se referiam a reparação das injustia§as e das desigualdades!
Infelizmente, o que assusta, éa incapacidade dos humanos de aprenderem com a experiência emparica (factual) do laboratório da história, o que me faz duvidar das possibilidades de aperfeia§oamento das sociedades em geral, o que implica que muitas se autodestruira£o e colocara£o em perigo as poucas com um manimo de consciência da realidade!Â
Veja-se, por exemplo, o caso da palavra “desigualdade†e o significado socioecona´mico a que ela remete. O seu conteaºdo, que corresponde e reflete a existaªncia real da natureza e da sociedade, se tornou repugnante e indesejável, em favor da palavra anta´nima, a “igualdadeâ€, que, por sua vez, éuma mera abstração sem significado concreto, portanto vazia de conteaºdo, pois não encontra correspondaªncia e nem reflete a natureza real das coisas e tampouco as relações humanas em sociedade.
Sob a perspectiva da teologia crista£, composta pelo Velho e o Novo Testamento, a igualdade são éfactavel perante o plano espiritual divino, pelo qual aos olhos de Deus os humanos são iguais porque todos foram irmanados como filhos do Criador.Â
No entanto, deve se refletir que ao dotar o homem de livre-arbatrio, ao lhe facultar o direito de fazer opções sobre os destinos da própria vida (por mais difaceis que sejam as circunstancias que a determinam, como a pobreza ou uma doença terminal!), Deus estãoaquiescendo com o fato inescapa¡vel de que nem todos tera£o sucesso na a¡rdua maratona a procura da salvação da alma, como decorraªncia das decisaµes acertadas ou erradas ao longo do caminho terreno, do percurso biogra¡fico de cada um! Portanto, acertos e erros necessariamente diferenciam os indivíduos submetidos a ranãgua avaliadora das virtudes e pecados.
Talvez por isso, de acordo com os textos sagrados, Jesus tenha insistido que na Casa do Senhor existem muitas moradas, formulando assim uma alegoria poderosa que abrigava todas as diferenças individuais e entre as nações, as igualando no plano espiritual.Â
Com efeito, a concepção de um Criador universal (e não a de deuses nacionais, de um aºnico povo, como era a tradição atéo surgimento do cristianismo), constituiu força moral única que ao elevar o status do homem de reles mortal a um ser espiritual, portador de uma alma, também se tornou força civilizadora, por mais estranhos e reprova¡veis meios ela tenha se exercido e desenvolvido pela história das sociedades, seja mediante conquistas de povos ou destruição iconoclasta de tradições religiosas politeastas milenares.Â
Infelizmente, o que assusta, éa incapacidade dos humanos de aprenderem com a experiência emparica (factual) do laboratório da história, o que me faz duvidar das possibilidades de aperfeia§oamento das sociedades em geral, o que implica que muitas se autodestruira£o e colocara£o em perigo as poucas com um manimo de consciência da realidade!Â
a‰ certo, poranãm, que o freio moral imposto a s paixaµes dos instintos, que os princapios da convivaªncia crista£ inspirou, guiado pela esperana§a de vida depois da morte (feito jamais conseguido pelas mitologias da Antiguidade e nem pelas mais sofisticadas escolas filosãoficas gregas) amansou e moderou os esparitos pelos séculos da Era Crista£ e construiu a civilização ocidental, que praticamente se espalhou por todo o planeta, com exceção da forte resistência do mundo mua§ulmano (que provavelmente por isso padece com a constante instabilidade conflituosa, tanto internamente quanto com o mundo global, se sustentando pelo fundamentalismo dogma¡tico da fée pelo terror polatico aos quais submetem sua população!).  Â
Portanto, o freio moral dos princapios cristãos deve ser o “manãtron†(para¢metro) utilizado para rechaa§ar projetos de sociedade baseados na fantasia da igualdade absoluta entre os cidada£os, simplesmente porque são inalcana§a¡veis no plano da existaªncia temporal.Â
Smith e Burke viveram essa experiência! Homens do século XVIII, chamado “século das luzes†(O Iluminismo), Adam Smith (1723-1790) e Edmund Burke (1729-1797), um escocaªs o outro irlandaªs, saºditos do Impanãrio Brita¢nico, viram nascer na Frana§a o radicalismo polatico jacobino que em nome da conquista da igualdade era visceralmente ateu (anticristão) e republicano (antimonarquista), dois pilares basilares do denominado Antigo Regime, cujas instituições sociais, usos e costumes fincavam raazes no passado milenar da Antiguidade.
Ambos apontaram que processos de transformação social referenciados por idealismos abstratos estavam destinados ao desastre socioecona´mico e ao sofrimento das guerras, como efetivamente ocorreu com as consequaªncias imediatas da Revolução Francesa e os seus efeitos sobre experiências revoluciona¡rias posteriores pelos séculos seguintes.Â
Assim, como um antadoto contra vendilhaµes de utopias revoluciona¡rias (que hoje infestam os sistemas polaticos e as universidades), no livro “A Teoria dos Sentimentos Morais†(1759), Smith estabeleceu a distinção entre o “homem de esparito paºblico†e o “homem do sistema. Segundo ele, o primeiro, o “homem de esparito paºblicoâ€, émovido pelo sentimento de humanidade e benevolaªncia, cultivando condutas prudentes e realistas, sem jamais esquecer as circunstancias e os eventuais sofrimentos a terceiros resultantes de suas ações políticas. Por outro lado, o segundo, o “homem do sistema, estãoencantado pela beleza do seu projeto tea³rico prefeito, não hesitando em cumpri-lo, sem considerar sequer por um instante o prea§o material e humano que suas ações políticas destrutivas podem acarretar.
Por sua vez, Burke em sua “Correspondaªncia com Charles-Jean-Frana§ois Depont†(1789) e em “â€Reflexaµes sobre a Revolução na Frana§a†(1790), chamou a atenção que em Frana§a os revoluciona¡rios procuravam uma “perfeição tea³rica†sem atentar sequer por um momento para o problema de tratar com a inultrapassa¡vel imperfeição humana, e interrogou: sera£o os homens (os revoluciona¡rios) capazes de realizar na Terra o que esparitos mais humildes são esperam encontrar no Canãu? A resposta foi negativa! De acordo com ele, os homens, influenciados por elucubrações de fila³sofos sobre os alegados “direitos do homemâ€, lana§aram-se numa faºria destrutiva rumo a um fim perfeito; essa faºria, longe de preservar e reformar a estrutura institucional secular do reino implicou na destruição das instituições, dos princapios e dos valores que faziam parte do patrima´nio polatico e moral da Frana§a. A violência revolucionaria era o resultado inevita¡vel de quem sempre procura e promete a boa ordem para quando a “sociedade futura†chegar! Â
Por outro lado, sob a perspectiva da biologia evolutiva, sobretudo da evolução da espanãcie sapiens, falar sobre igualdade não tem sentido algum! O patrima´nio genanãtico que os humanos contempora¢neos herdaram éo resultado de 300 mil anos de intenso caldeamento de genes, promovido pelo intercambio do comercio ou da guerra, que colocou em contato populações diversas, cada qual com o conjunto genomico adaptado aos diferentes biomas do planeta.Â
Ora, nessa perspectiva a diferença éa regra e a igualdade a exceção, se éque existe! No extremo, atégaªmeos univitelinos (idaªnticos) são distintos, como os estudos recentes da disciplina epigenanãtica comprovam, ao indicar que gaªmeos sofrem impactos diferenciados na sua estrutura genanãtica (e consequentemente na expressão dos seus genes por meio do comportamento) como consequaªncia de experiências sociais ou afetivas no ambiente.
Com efeito, pode se estender para a herana§a genanãtica herdada pelos contempora¢neos o mesmo raciocino reverente que Burke usou nas “Reflexaµes sobre a Revolução na Frana§aâ€, ao contemplar o legado da tradição civilizata³ria ocidental, que remonta a imaginação filosãofica, polatica e estanãtica greco-romana e aos princapios morais universais cristãos orientados por uma teologia de esperana§a da vida após a morte. Segundo ele, a possibilidade de convivaªncia pacifica e produtiva de indivíduos em sociedade passa pelo reconhecimento de um pacto atemporal entre as gerações presentes com as gerações passadas (que viveram, lutaram e morreram para construir o mundo que se conhece, pacto que sempre pode e deve ser aperfeia§oado por meio de reformas prudentes) e com as gerações futuras (que ao vir ao mundo sem o direito de escolher, merecem uma herana§a que lhes permita condições satisfata³rias para a continuidade da saga humana).
A perspectiva heurastica cientafica (conhecimento tea³rico-emparico) da biologia evolutiva reforça o para¢metro moral fornecido pela perspectiva heurastica teola³gica (conhecimento especulativo) no combate aos sofistas pregadores de abstrações, como a igualdade em geral, que encobrem egos pervertidos pela frustração individual que explodem em egoasmo e ambição de projetos revoluciona¡rios que desprezam a experiência das tradições (usos e costumes) e do conhecimento humano acumulado pelas gerações passadas, tomando como partida promessas de um mundo uta³pico, que como tal, nunca existiu!
Russell Kirk (1918-1994), grande historiador americano do século XX, dedicou seu principal livro a divulgar as ideias de Edmund Burke, que somou a sua sãolida formação intelectual a experiência de décadas como deputado da Ca¢mara dos Comuns (junto ao Parlamento Brita¢nico) para construir os princapios da teoria conservadora, que deu origem ao primeiro partido moderno, de organização nacional como se conhece hoje, o Partido Conservador Inglaªs (os tories), que seráa referaªncia para a formação de todos os partidos da mesma tendaªncia ou de tendaªncias diferentes que surgiram depois pelo mundo. O livro se chamou “Edmund Burke: redescobrindo um gaªnio†(1957).
No livro, Kirk listou seis princapios teóricos nos quais se apoia a teoria conservadora de Burke, e que qualquer um que se autodenomine conservador obrigatoriamente tem de conhecer. Cada um comporta comenta¡rios mais elaborados que não cabem nos limites desse artigo. Poranãm, para encerrar, citarei dois, que dizem respeito diretamente a s perspectivas heurasticas aqui abordadas:
1) Ha¡ uma crena§a na intenção divina que rege a sociedade, bem como as consciências individuais (eu chamo a isso de “o mistério da fa¨â€, essencial para que os indivíduos exera§am diariamente o freio moral sobre os desejos inconfessa¡veis!). Assim, segundo ele, os problemas polaticos são também, no fundo, problemas religiosos (se referindo a preocupação com o destino do pra³ximo, não a questões inerentes aos cleros das igrejas) e morais.
2) Para se viver numa sociedade civilizada há necessidade de ordens e classes (o que na prática éo que acontece na complexidade da divisão social do trabalho estabelecida pelas grandes sociedades industriais, garantindo a coesão social, estudada por a‰mile Durkheim no livro “Da Divisão Social do Trabalhoâ€, de 1893). Assim, segundo ele, a única e verdadeira igualdade éa igualdade moral... (eu acrescentaria, com permissão a memória do grande Edmund Burke... o resto são tolices fantasiosas de egos recalcados e infelizes!).
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Prof. Dr. Geraldo FilhoÂ
Universidade Federal do Delta do Parnaaba (UFDPar)