Opinião

A fila da vacina já estãoandando em diversospaíses, mas aqui...
O Governo Federal finalmente cedeu a s pressaµes e deve mesmo adquirir a CoronaVac, do Butantan, incorporando a mesma ao Plano Nacional de Imunizaa§aµes (PNI).
Por Luiz Carlos Dias - 04/01/2021

O Instituto Butantan adiou a data do anaºncio da eficácia em fase 3 da CoronaVac, desenvolvida em colaboração com a farmacaªutica chinesa Sinovac. A Anvisa concedeu, conforme publicação no Dia¡rio Oficial da Unia£o de 21/12/2020, o certificado de boas prática s de fabricação para a fa¡brica da vacina CoronaVac, na China, com validade de 2 anos. Este certificado éparte importante tanto do processo de registro, como de pedido de autorização de uso emergencial dessa vacina.

O Governo Federal finalmente cedeu a s pressaµes e deve mesmo adquirir a CoronaVac, do Butantan, incorporando a mesma ao Plano Nacional de Imunizações (PNI). Embora a compra inicialmente prevista pelo Governo Federal seja de cerca de 45 milhões de doses, o Butantan anunciou que pode oferecer mais 55 milhões de doses, chegando a 100 milhões de doses do imunizante para o PNI ainda no primeiro semestre de 2021. Além do Brasil, Indonanãsia, Turquia, Chile e a China estãoaguardando os resultados de eficácia e segurança em fase 3 e devem vacinar suas populações com o imunizante.

O governo do estado de Sa£o Paulo anunciou que vai receber um lote com matéria prima para preparar mais 5,5 milhões de doses no dia 24 de dezembro e tera¡ 10,8 milhões de doses da CoronaVac disponí­veis atéo dia 31/12/2020.

                        A VACINAa‡aƒO PELO MUNDO


SUaa‡A SAI NA FRENTE E AUTORIZA USO NaƒO EMERGENCIAL DA PFIZER/BIONTECH

A Sua­a§a éo primeiropaís a registrar e autorizar o uso não emergencial da vacina da Pfizer/BioNTech em sua população, baseada nos critanãrios de segurança, eficácia e qualidade. A Sua­a§a tem 8,6 milhões de habitantes, comprou 15,8 milhões de doses de vacinas, sendo 3 milhões da Pfizer/BioNTech, 7,5 milhões da Moderna e 5,3 milhões da AstraZeneca.

A vacina já foi aprovada para uso emergencial em váriospaíses, entre eles Reino Unido, Estados Unidos, Canada¡, Bahrein, Ara¡bia Saudita, Manãxico, Chile, Equador e Singapura, sendo que Reino Unido, Estados Unidos e Canada¡ já iniciaram as campanhas de aplicação do imunizante em suas populações.

OS EFEITOS ADVERSOS DA PFIZER/BIONTECH

Além das duas pessoas com hista³rico de anafilaxia que apresentaram reações alanãrgicas a  vacina da Pfizer/BioNTech no Reino Unido, outras seis pessoas nos Estados Unidos, entre 272 mil que tomaram a vacina, também tiveram reações alanãrgicas. Todos passam bem, mas um dos americanos não tinha hista³rico de alergias graves. Os tratamentos para reações alanãrgicas e choques anafila¡ticos normalmente envolvem o uso de corticosteroides, anti-histama­nicos, injeções de epinefrina ou de adrenalina.

Uma possibilidade ainda apenas como suspeita e bem especulativa éque as nanoparta­culas lipa­dicas (LNPs) a base de polietilenoglicol (PEG) possam ser responsa¡veis pelas reações alanãrgicas. O PEG nunca foi usado antes em vacinas, mas éencontrado em vários medicamentos que causam eventos adversos como anafilaxia, mas também em pastas de dente, cosmanãticos, shampoos e amaciantes. Então épossí­vel que pessoas que já usaram medicamentos contendo PEG, tenham adquirido uma resposta imunola³gica de anticorpos tipo IgM, IgG e especialmente IgE, que podem causar reações alanãrgicas como mecanismo de proteção contra PEG, o que poderia desencadear a resposta de anafilaxia.

Tanto a Pfizer como a Moderna, exclua­ram da fase 3, pessoas com hista³rico de alergias aos componentes das vacinas. A Pfizer não incluiu pessoas com alergias graves a outras vacinas. Certamente, mais estudos são necessa¡rios e o Instituto Nacional de Alergias e Doena§as Infecciosas dos Estados Unidos (NIAID) investiga o caso. Isto não impede as campanhas de vacinação, mas pessoas com alergias graves devem estar de sobreaviso.

VACINA DA MODERNA: A FANTaSTICA PLATAFORMA RNA

A FDA (Food and Drug Administration) americana aprovou a vacina da Moderna, baseada na fanta¡stica plataforma de RNA mensageiro (mRNA) para uso emergencial em maiores de 18 anos. A FDA confirmou que o tratamento tem eficácia de 94,1% e que a vacina não mostra problemas de segurança que impea§am a emissão de autorização para o uso de emergaªncia. O CDC (Centro de Controle e Prevenção de Doena§as) já aprovou e os Estados Unidos tera£o a segunda vacina aprovada para uso emergencial em sua população (a primeira foi a da Pfizer-BioNTech, também de mRNA, aprovada para uso emergencial em maiores de 16 anos).

A Moderna, que não possui nenhuma vacina aprovada em seu portfa³lio, planeja disponibilizar cerca de 125 milhões de doses do seu imunizante no primeiro trimestre de 2021, sendo até100 milhões para os Estados Unidos e até25 milhões para outrospaíses interessados. A vacina deve ser armazenada em temperatura de 20 graus Celsius negativos.

CHADOX1 + SPUTNIK V JUNTINHAS NO COMBATE ACOVID-19?

A empresa farmacaªutica AstraZeneca anunciou no dia 21/12/2020, que vai realizar estudos clínicos combinando a sua candidata vacinal ChAdOx1 (AZD1222) com a Sputnik V, vacina da Raºssia. A ChAdOx1 usa como plataforma um vetor viral baseado em adenova­rus que causa resfriado em chipanzanãs, enquanto a Sputnik V ébaseada em dois adenova­rus humanos diferentes, Ad5 e Ad26, que causam resfriado em humanos.

O objetivo éaumentar a eficácia da ChAdOx1, que foi de apenas 62% após a análise interina com duas doses completas, embora a eficácia maior de 90% com uma meia dose seguida de uma dose completa ainda esteja sendo investigada. Segundo os russos, a Sputnik V apresentou 92% de eficácia na primeira análise interina.

A aposta éde que o uso de dois vetores diferentes pode levar a uma eficácia maior do que usar um aºnico vetor viral nas duas doses. A parceria visa avaliar a imunogenicidade e segurança, combinando um dos componentes da Sputnik V com o adenova­rus da vacina AZD1222.

A AstraZeneca retirou no dia 10/12/2020 de seu site a previsão de testes da ChAdOx1 em criana§as maiores de 5 anos entre os voluntários. A empresa conversa com a Anvisa e espera conseguir aprovação para uso de sua vacina no Brasil em breve. Cerca de 2 milhões de doses da ChAdOx1 sera£o entregues ao Ministanãrio da Saúde a partir de 08/02/2021, sendo que a previsão éreceber 100,4 milhões de doses do imunizante da AstraZeneca ainda no primeiro semestre, segundo a Fiocruz.

UNIaƒO EUROPEIA VAI INICIAR CAMPANHA DE VACINAa‡aƒO UNIFICADA

Apa³s o ini­cio da vacinação contra a Covid-19 no Reino Unido, marco hista³rico no combate a  Covid-19 e para mostrar unidade no enfrentamento a  pandemia, os 27países da Unia£o Europeia (UE) va£o iniciar campanhas de vacinação unificadas, no dia 27/12/2020, já que a Agência Europeia de Medicamentos (EMA), órgão regulador da UE, aprovou a vacina da Pfizer/BioNTech. O Reino Unido saiu da Unia£o Europeia no dia 31/01/2020. Estamos na torcida para que de fato acontea§a, pois seria a³timo termos boas perspectivas para comea§ar a esquecer 2020 e o va­rus. Sa³ estaremos seguros quando todos estiverem seguros. Sem daºvida, uma das nota­cias mais gratificantes para trazer a este Espaço.

NOVAS VARIANTES DO SARS-COV-2 NO REINO UNIDO

Uma nova linhagem do SARS-CoV-2, batizada de VUI–202012/01, foi detectada recentemente em mais de 60 localidades no Reino Unido, após a identificação de 1.108 casos de Covid-19. Atéo momento, pouco mais de 40países suspenderam temporariamente voos provenientes do Reino Unido. Mas ainda não temos dados concretos que comprovem que essas mutações significam evolução do va­rus para ser transmitido mais facilmente entre as pessoas, para se tornar mais virulento ou para causar uma doença mais grave.

Este aumento no número de casos pode estar relacionado também ao relaxamento da população, principalmente mais jovem, não respeitando as medidas não farmacola³gicas de combate a  Covid-19. O comportamento humano durante esta pandemia épreocupante. Os cientistas já observaram milhares de mutações no SARS-CoV-2, mas algumas variações na protea­na Spike (espa­cula), que éutilizada pelo va­rus para entrar em nossas células, chamam a atenção. Neste caso, os cientistas observaram 17 mutações no genoma do va­rus, sendo 3 delas na protea­na Spike. Uma das mutações, conhecida como N501Y, acontece no doma­nio de ligação ao receptor, que o va­rus usa para se ligar a  protea­na ECA-2 em nossas células e entrar nas mesmas. A outra mutação (H69/V70), já foi observada anteriormente em humanos e nos mais de 10 milhões de visons infectados e sacrificados na Dinamarca.

O governo brita¢nico estãoreavaliando a estratanãgia de combate a  pandemia em virtude da recente divulgação desta nova cepa do va­rus SARS-CoV-2, que poderia ser mais transmissa­vel e ser responsável pelo impulsionamento da disseminação do va­rus por la¡. Mas fato éque não existem evidaªncias cienta­ficas robustas de que a nova variante seja transmitida mais facilmente, que cause uma doença mais grave ou atéque inutilize as vacinas.

A variante do SARS-CoV-2 conhecida como D614G, que édominante no Brasil, émais facilmente transmitida que a linhagem anterior sem esta mutação. Se a H69/V70 se comportar como a D614G, o impacto serámaior na proliferação da doença do que na mortalidade, mas o fato de ser mais transmissa­vel seria suficiente para causar estragos nos sistemas de saúde, pois com mais pessoas infectadas, maior seráa procura por tratamento hospitalar em menos tempo.

Uma outra variante do SARS-CoV-2 conhecida como N501.V2 foi detectada na áfrica do Sul e pode ser responsável pela maioria dos casos na segunda onda nopaís, infectando jovens e pessoas sem comorbidades, que desenvolveram casos mais graves da doena§a. Esta nova linhagem também foi observada no Reino Unido, pode ter sofrido mais mutações e pode apresentar alta taxa de transmissão, segundo as autoridades brita¢nicas.

Para o va­rus se tornar resistente a s vacinas sendo desenvolvidas, seria necessa¡ria uma mudança muito grande em seu ca³digo genanãtico na regia£o da protea­na Spike. Fato éque após o ini­cio das campanhas de vacinação em massa, para infectar as pessoas que foram imunizadas, o va­rus tera¡ que se adaptar e sofrer grandes transformações em sua protea­na Spike. Se isto acontecer como um processo natural de evolução do va­rus, muito provavelmente nosteremos que atualizar as vacinas, como éfeito para a gripe sazonal, mas atéagora não háevidaªncias que essas mutações possam prejudicar a eficácia de vacinas em desenvolvimento.

Os va­rus de RNA como o SARS-CoV-2 sofrem mutações o tempo inteiro, énormal, então émuito importante realizar vigila¢ncia epidemiola³gica, monitorar o comportamento do va­rus, aumentando a capacidade de sequenciamento, para detectar rapidamente formas mutantes que possam causar preocupação. Fato éque quanto mais o va­rus se espalhar e circular entre as pessoas, mais pessoas sera£o infectadas, um número cada vez maior de mutações aleata³rias vai ocorrer, sendo que algumas sera£o vantajosas para o va­rus, mas outras não. Neste processo, o va­rus pode evoluir.

As vacinas em desenvolvimento produzem anticorpos neutralizantes que va£o se ligar a diferentes pontos da protea­na Spike do va­rus, neutralizando o mesmo. Então, as mutações que não são na protea­na Spike não devem atrapalhar as vacinas em desenvolvimento e mesmo as mutações que ocorrerem na protea­na Spike, teriam que ocorrer em grande extensão de forma a impedir o reconhecimento da protea­na pelos anticorpos neutralizantes. E se isso acontecer no futuro, basta adaptar as plataformas que utilizam fragmentos da protea­na Spike, como as de adenova­rus e de RNA mensageiro, para preparar uma vacina mais robusta. Ou usar a nova linhagem do va­rus, inativada, mas penso que as plataformas de adenova­rus e especialmente de RNA mensageiro vieram para ocupar este Espaço. A ciência estãoatenta e com ciência nossairemos desta pandemia.

VACINA, UM PASSAPORTE PARA O FUTURO

Logo, logo, ospaíses va£o exigir a comprovação de vacinação contra a Covid-19. Sera¡ tipo um passaporte para o futuro, se quisermos alcana§ar um mundo sem Covid-19. Se não tem, não entra nopaís, ou toma uma vacina ao entrar, sentadinho la¡ no aeroporto. O governo federal publicou no dia 17/12/2020, uma portaria exigindo o exame de RT-PCR negativo para brasileiros ou estrangeiros que quiserem entrar nopaís de avia£o. A medida passa a valer a partir de 30/12/2020 e o teste, que deve ser realizado até72h antes do voo, seráexigido ao embarcar.

                       PANORAMA DA COVID-19 NO BRASIL


OS PRIMEIROS CASOS DE REINFECa‡aƒO NO BRASIL

O Ministanãrio da Saúde confirmou os dois primeiros casos de reinfecção por Covid-19 e informou que acompanha outros casos com suspeita que foram notificados por secretarias estaduais de Saúde e estãosendo avaliados em 9 estados. Alguns casos suspeitos já foram descartados, pois não atendem ao período ma­nimo de 90 dias entre a primeira e a segunda infecção, ou não apresentaram resultados de RT-PCR positivos, ou ainda não mostraram linhagens diferentes após o sequenciamento completo do genoma do coronava­rus nas duas infecções.

O termo linhagem corresponde a um grupo de va­rus que contanãm várias mutações em comum. O primeiro caso confirmado foi de uma médica do Rio Grande do Norte, de 37 anos, infectada por duas linhagens diferentes do SARS-CoV-2, coletadas em Joa£o Pessoa nos dias 23/06/2020 (linhagem B.1.1.33) e a segunda no dia 13/10/2020 (linhagem B.1.1.28), que confirma que são casos novos. O curto espaço de tempo entre a primeira e a segunda infecção, de menos de 4 meses, mostra que a médica não adquiriu proteção em termos de imunidade para evitar a reinfecção. Outro caso de reinfecção foi confirmado pelo Instituto Adolfo Lutz, em Sa£o Paulo, após o sequenciamento genanãtico de duas amostras cla­nicas de uma mulher de 41 anos.

A análise mostrou se tratar de duas linhagens diferentes, sendo que a primeira linhagem, diagnostica em junho, circula apenas no Brasil, enquanto a linhagem responsável pela segunda infecção, 145 dias depois após a primeira, envolve variante que já foi identificada circulando no Reino Unido, Austra¡lia, Chile e nos Estados Unidos. Aparentemente, o processo de reinfecção não éfrequente, mas a vigila¢ncia genanãtica do va­rus precisa continuar.

FAKE NEWS DO FUTURO SOBRE VACINAS

O va­rus SARS-CoV-2 éum dos piores inimigos que a humanidade já enfrentou. Mas hoje nosenfrentamos outros inimigos perigosos, como os va­rus da desinformação, do negacionismo cienta­fico, da ignora¢ncia e das narrativas falsas criadas em torno de medicamentos ineficazes no combate a  Covid-19 e em torno das vacinas. Eu já comentei aqui, sobre desinformação o movimento antivacinas e fakenews, e que nosseriamos atingidos pela maior onda de desinformação da história. Claramente, os benefa­cios das vacinas superam os eventuais prejua­zos que elas possam causar. No entanto, nosprecisamos nos preparar para combater a maior onda de disseminação de mentiras e fake News da história, que vai surgir em torno dos efeitos adversos relacionados a vacinas. O movimento antivacinas vai usar este momento para criar narrativas falsas sobre mortes sendo causadas por vacinas.

Nos pra³ximos meses, no pa³s-vacinação, pessoas va£o morrer de causas naturais, algumas por acidentes, mas falsas evidaªncias fantasiosas e mentirosas sera£o divulgadas relacionando as mortes com o fato das pessoas terem tomado esta ou aquela vacina. Sera£o construa­das narrativas apelando para coincidaªncias em mortes ou problemas de saúde que apareceram no pa³s-vacinação, mesmo que já fossem aparecer, com determinadas vacinas. Se uma pessoa que foi vacinada morrer por alguma causa natural, ou acidente, suica­dio, ca¢ncer, não importa a raza£o, este movimento criminoso vai espalhar que a pessoa morreu porque tinha chip na vacina, que tinha o va­rus que causa HIV na vacina, porque a vacina causou ca¢ncer, que foi para fazer controle populacional, que a vacina alterou o DNA e a pessoa ficou doente.

Então, precisaremos estar atentos e antecipar o combate a s mentiras destes grupos que usam sua criatividade para promover desinformação porque rejeitam a ciaªncia, motivados por interesses pola­ticos ou religiosos, ou outros interesses nefastos. E para combater este movimento criminoso, precisaremos de muita organização na fase de farmacovigila¢ncia, no pa³s-vacinação e de campanhas de esclarecimento da sociedade.

A JUDICIALIZAa‡aƒO DAS VACINAS

O mundo estãoháum ano em meio a uma pandemia que já ceifou a vida de quase 190 mil brasileiros e por mais incra­vel que possa parecer, estamos a s voltas com um processo de judicialização das vacinas. O Superior Tribunal Federal (STF) decidiu que os pais devem vacinar os filhos menores de 18 anos e negou autorização para os pais não vacinarem seus filhos com base em “convicções filosãoficas, religiosas, morais e existenciais”.

Outra decisão importante foi a autorização para que governos estaduais e municipais aprovem leis com sanções a pessoas que não tomarem vacinas contra a Covid-19. Estas decisaµes não podera£o ser impedidas pelo Governo Federal. O Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), apresentou uma ação ao STF solicitando "plena vigaªncia e aplicabilidade" da lei nº 13.979/2020, em caso de omissão da Anvisa. Então, uma liminar do ministro do STF, Ricardo Lewandowski, no dia 17/12/2020, autoriza os estados e munica­pios a importarem e distribua­rem vacinas que tenham sido registradas por autoridades sanita¡rias estrangeiras dos Estados Unidos, China, Japa£o e Unia£o Europeia, caso a Anvisa não cumpra o prazo para avaliar pedidos emergenciais. Isso vale para o governo federal com o plano nacional de vacinação contra a Covid-19.

A Anvisa informou no dia 14/12/2020 que o processo de análise de uso emergencial das vacinas com ensaios clínicos sendo realizados no Brasil seráconclua­do em prazo ma¡ximo de 10 dias e que vai trabalhar entre o Natal e o Ano Novo. Segundo a Agaªncia, apenas as candidatas vacinais com testes clínicos de fase 3 sendo conduzidos no Brasil podera£o receber a aprovação emergencial. Entre as candidatas vacinais em fase 3, quatro estãosendo testadas no Brasil: a da Pfizer/BioNtech; a da Oxford/AstraZeneca; a da Sinovac/Butantan; e a vacina da Johnson&Johnson.

MEDIDAS RESTRITIVAS PARA QUEM NaƒO SE VACINAR

Nopaís do obscurantismo e do negacionismo da pandemia e da ciaªncia, o STF autorizou, no dia 17/12/2020, os estados e munica­pios, a adotarem medidas restritivas para quem não se vacinar contra Covid-19, quando vacinas estiverem aprovadas e inclua­das no Programa Nacional de Imunizações. O STF (assim como pessoas com um ma­nimo de bom senso) defende que a saúde coletiva não pode ser prejudicada por decisaµes individuais. Nãosão medidas coercitivas, ninguanãm seráforçado a se vacinar, mas havera¡ sanções para quem não o fizer. A questãoéque o STF apenas autorizou, ou deu seu aval para que o presidente da República, os governadores e os prefeitos possam adotar medidas restritivas. O presidente afirmou que não tomara¡ a vacina contra a Covid-19 e chamou de “idiota” quem o vaª como mau exemplo por não se imunizar.

a‰ absolutamente inacredita¡vel, a ciência deu uma resposta tão rápida, eficiente e temos vacinas sendo aprovadas para uso emergencial em menos de um ano do ini­cio da pandemia, mas nestepaís algumas liderana§as promovem desinformação contra a vacinação. Este éo momento de todas as autoridades abraçarem e demonstrarem apoio incondicional a s campanhas de vacinação em massa contra a Covid-19, para que possamos ter a elevada cobertura vacinal que comea§ara¡ a nos tirar da pandemia.

A Constituição brasileira, nos artigos 6º e 196º, diz claramente que a saúde éum direito da população, direito de todos e dever do Estado. Cabe ao Estado brasileiro, garantir o uso de políticas sociais e econa´micas com o objetivo de reduzir riscos e combater doenças que afligem a população, matam ou incapacitam, fornecendo o acesso universal e igualita¡rio a s ações que tem por objetivo a proteção da saúde da população. Se a vacina mostrar segurança em todas as fases de estudos clínicos e eficácia em fase 3, sendo aprovada, épor quaª foi considerada segura para uso, embora restrições com relação a grupos que não possam tomar o imunizante devam aparecer na bula.

A sociedade não vai se auto-organizar, precisamos de liderana§as, que o Governo Federal lidere a Nação, mas não para o buraco. Este cena¡rio lamenta¡vel estãoacontecendo, não éficção, mas parece um daqueles filmes com roteiros bizarros, que deixaria Ed Wood com alguma inveja.

RESPOSTA DE DEFESA DAS VACINAS X RESPOSTA PELA INFECa‡aƒO NATURAL

As vacinas podem estimular o sistema imunológico a produzir uma resposta de defesa mais eficiente do que a resposta obtida pela infecção natural, com o va­rus selvagem. A carga viral ou a quantidade de va­rus, assim como as vias de entrada no organismo são diferentes. O SARS-CoV-2, que causa a Covid-19, entra em nosso organismo pelo sistema respirata³rio e ativa o sistema imunológico, mas a resposta em termos de imunidade de mucosa émenos potente. Uma vez dentro do organismo, o sistema imune pode produzir uma resposta adaptativa humoral com produção de anticorpos neutralizantes e reposta celular, com produção de linfa³citos T, as chamadas células TCD4 e as células citota³xicas TCD8, mas cuja duração de proteção ainda não bem conhecida.

Segundo os dados dispona­veis, esta resposta de proteção parece não ser muito duradoura. As vacinas funcionam atravanãs da introdução de um corpo estranho em nosso organismo para enganar o sistema imunológico, fazendo ele acreditar que tem um intruso que precisa ser combatido. As vacinas podem estimular o sistema imune a produzir uma resposta mais robusta de produção de anticorpos neutralizantes e de linfa³citos T, mas não necessariamente as duas respostas (humoral e celular). As vacinas baseadas em va­rus inativados, de adenova­rus, assim como as de va­rus atenuados ou enfraquecidos, precisam do uso de adjuvantes, que são compostos qua­micos, alguns a  base de sais de aluma­nio, para reforçar e ajudar na resposta do sistema imune. As vacinas de RNA mensageiro (mRNA) possuem as nanoparta­culas lipa­dicas protetoras a  base de polietileno glicol (PEG) que podem funcionar como adjuvantes.

Outro ponto importante éque no caso da infecção natural com o va­rus selvagem, como no caso do SARS-CoV-2, o nosso sistema imunológico éativado apenas quando o va­rus já entrou no organismo, ele não estava preparado, tendo que dar uma resposta de proteção e combater um va­rus que pode já estar causando algum estrago ao infectar nossas células. Com as vacinas, ao inocular um corpo estranho que tenha algumas caracteri­sticas do va­rus em nosso organismo, o nosso sistema imunológico estãosendo treinado para combater aquele intruso, então, quando o va­rus real, selvagem, entra nas nossas vias respirata³rias, o nosso sistema imune recorda que já viu algo parecido com aquele corpo estranho antes e vai la¡ combater. a‰ engenhoso.

CARTILHA DA FIOCRUZ PARA O FINAL DO ANO

Preservar vidas éo melhor presente neste fim de 2020. Nãoéhora de arriscar. A Fiocruz divulgou um material bem dida¡tico e informativo, contendo um plano de convivaªncia com orientações para o final de ano. Mais informações aqui. 

Eu acrescento, que caso vocêpense em fazer o teste RT-PCR para se reunir com familiares neste fim de ano, tenha cuidado. Vocaª pode estar infectado, ser assintoma¡tico, aa­ o risco de uma falsa sensação de segurança com um resultado falso negativo éenorme, em virtude da sensibilidade mais baixa do exame nessa situação, que depende atéde quando e como o material écolhido. 

Um resultado negativo não quer dizer que vocênão esteja infectado e não va¡ transmitir o va­rus para seus familiares e amigos. Ninguanãm pode relaxar nas medidas não-farmacola³gicas de proteção. Esse nega³cio de usar o teste RT-PCR como passaporte de segurança não existe. Em caso de teste RT-PCR positivo, aa­ éisolamento social.

UMA MENSAGEM FINAL

Atéo momento, pouco mais de dois milhões de pessoas foram vacinadas contra a Covid-19, em oitopaíses. Eu já disse isso, mas repito, as vacinas, junto com saneamento ba¡sico, águapota¡vel e esgoto tratado, são nossa melhor estratanãgia de saúde pública, são a melhor alternativa que a humanidade e a ciência tem para combater doenças que matam ou incapacitam as pessoas.

Ainda não sabemos quais vacinas va£o proteger as diferentes populações, então precisamos de todas as vacinas que se mostrarem seguras e eficazes, aprovadas para uso emergencial ou devidamente registradas pela Anvisa. Precisamos sair desta pandemia como Nação. Chega de disputas políticas que colocam em risco a saúde da população brasileira, a hora éde dia¡logo, de conversa, de equila­brio e sensatez. Ou o va­rus vai continuar entre nós, o ano de 2020 não vai acabar em 2021 e talvez nem em 2022.

O desenvolvimento das vacinas contra a Covid-19 foi reconhecido como o “Avana§o Cienta­fico do Ano” pela revista cienta­fica Science. a‰ sem daºvida, o maior legado desta pandemia. Na³s precisamos abraçar a causa da vacinação contra a Covid-19 e combater o movimento antivacinas, o negacionismo cienta­fico e o obscurantismo, com CIaŠNCIA. A persistirem os sintomas do anticientificismo, os cientistas do bem devem ser consultados. 

Eu 


Eu encerro as colunas de 2020 neste espaço no Jornal da Unicamp, me solidarizando com os familiares dos quase 190 mil mortos no Brasil por Covid-19 neste ano de desafios para todos nós. 

Desejo a todos e todas que sobreviveram a este ano fata­dico, um Natal de paz, luz, equila­brio, sabedoria, reflexa£o, serenidade e que 2020 acabe, que não continue em 2021. E que 2021 seja um ano de alento, solidariedade, afeto, empatia, bom senso, esperana§a, respeito a  coletividade e com vacinas seguras e eficazes contra a Covid-19.

E que 2021 seja o Ano Internacional da Celebração a  Vida! Fiquem, todas e todos, bem e em segurança.

As opiniaµes expressas neste artigo são de responsabilidade exclusiva do(s) autor(es), não refletindo necessariamente a posição institucional do maisconhecer.com


Luiz Carlos Dias
Professor Titular do Instituto de Quí­mica da Unicamp, membro titular da Academia Brasileira de Ciências (ABC), Comendador da Ordem Nacional do Manãrito Cienta­fico e membro da Fora§a-Tarefa da UNICAMP no combate a  Covid-19.

 

.
.

Leia mais a seguir