Opinião

O populismo surge quando as pessoas se sentem desconectadas e desrespeitadas
Compreender as raa­zes do populismo éessencial para lidar com sua ascensão e ameaça a  democracia.
Por Noam Gidron e Peter A. Hall - 06/01/2021


Apoiadores de Trump enfrentam contraprotestadores no Million MAGA March em Washington em 14 de novembro de 2020. Caroline Brehman / CQ-Roll Call, Inc via Getty Images

A sociedade americana estãodividida ao meio. Na eleição presidencial de 2020, 81 milhões de pessoas votaram em Joe Biden, enquanto outros 74 milhões votaram em Donald Trump. Muitas pessoas foram a s urnas para votar contra o outro candidato, em vez de apoiar entusiasticamente aquele que obteve seu voto.

Embora essa polarização intensa seja distintamente americana, nascida de um forte sistema bipartida¡rio , as emoções antaga´nicas por trás dela não o são .

Grande parte do apelo de Trump repousava em uma mensagem classicamente populista - uma forma de pola­tica evidente em todo o mundo que critica as elites tradicionais em nome das pessoas comuns.

A ressonância desses apelos significa que o tecido social da Amanãrica estãose desgastando nas bordas. Os socia³logos referem-se a isso como um problema de integração social. Os estudiosos argumentam que as sociedades são bem integradas apenas quando a maioria de seus membros estãointimamente ligada a outras pessoas, acredita que érespeitada por outras pessoas e compartilha um conjunto comum de normas e ideais sociais.

Embora as pessoas tenham votado em Donald Trump por muitos motivos, háevidaªncias crescentes de que muito de seu apelo estãoenraizado em problemas de integração social. Trump parece ter garantido forte apoio dos americanos, que sentem que foram empurrados para as margens da sociedade dominante e que podem ter perdido a fénos pola­ticos tradicionais.

Essa perspectiva tem implicações para entender por que o apoio a pola­ticos populistas tem aumentado recentemente em todo o mundo. Este desenvolvimento éo assunto de um amplo debate entre aqueles que dizem que o populismo se origina das dificuldades econa´micas e outros que enfatizam o conflito cultural como a fonte do populismo.

Compreender as raa­zes do populismo éessencial para lidar com sua ascensão e ameaça a  democracia. Acreditamos que ver o populismo como produto não de problemas econa´micos ou culturais, mas como resultado de pessoas se sentindo desconectadas, desrespeitadas e negadas como membros da corrente principal da sociedade, levara¡ a respostas mais aºteis sobre como conter o aumento do populismo e fortalecer a democracia.

Manifestantes anti-Trump segurando uma placa dizendo 'Daª um soco no rosto do
MAGA' em uma passeata em Washington, DC. Os partida¡rios de Trump se sentem
desrespeitados pela cultura dominante. Aqui, uma demonstração anti-Trump em
Washington, DC em 14 de novembro. Probal Rashid /
LightRocket via Getty Images

Nãosão na Amanãrica

Um pesquisador democrata descobriu que o apoio a Trump em 2016 foi alto entre as pessoas com pouca confianção nos outros. Em 2020, a pesquisa descobriu que “eleitores socialmente desconectados eram muito mais propensos a ver Trump positivamente e apoiar sua reeleição do que aqueles com redes pessoais mais robustas”.

Nossa análise de dados de pesquisas de 25países europeus sugere que este não éum fena´meno puramente americano.

Esses sentimentos de marginalização social e uma desilusão correspondente com a democracia fornecem aos pola­ticos populistas de todos os matizes e de diferentespaíses a oportunidade de alegar que as elites tradicionais traa­ram os interesses de seus cidada£os trabalhadores.

Em todos essespaíses, verifica-se que as pessoas que se envolvem em menos atividades sociais com outras pessoas, desconfiam das pessoas ao seu redor e sentem que suas contribuições para a sociedade não são reconhecidas tem maior probabilidade de confiar menos nos pola­ticos e menor satisfação com a democracia.

A marginalização afeta a votação

Sentimentos de marginalização social - refletidos em baixos na­veis de confianção social, envolvimento social limitado e a sensação de que falta respeito social - também estãoligados a se e como as pessoas votam.

Pessoas socialmente desconectadas tem menos probabilidade de votar. Mas, se decidirem votar, tem uma probabilidade significativamente maior de apoiar candidatos populistas ou partidos radicais - de ambos os lados do espectro pola­tico - do que pessoas bem integradas a  sociedade.

Essa relação continua forte mesmo depois que outros fatores que também podem explicar o voto em pola­ticos populistas, como gaªnero ou educação, são levados em consideração.

Ha¡ uma correspondaªncia impressionante entre esses resultados e as histórias contadas por pessoas que consideram os pola­ticos populistas atraentes. De eleitores de Trump no sul dos Estados Unidos a partida¡rios da direita radical na Frana§a , uma sanãrie de etna³grafos ouviram histórias sobre falhas de integração social.

Mensagens populistas, como "retomar o controle" ou "tornar a Amanãrica grande novamente", encontram um paºblico receptivo entre as pessoas que se sentem marginalizadas de sua comunidade nacional e privadas do respeito concedido a seus membros plenos.

Intersecção de economia e cultura

Uma vez que o populismo évisto como um problema de integração social, torna-se evidente que ele tem raa­zes econa´micas e culturais profundamente interligadas .

O deslocamento econa´mico que priva as pessoas de empregos decentes as empurra para as margens da sociedade. Mas o mesmo acontece com a alienação cultural , nascida quando as pessoas, especialmente fora das grandes cidades, sentem que as elites tradicionais não compartilham mais seus valores e, pior ainda, não respeitam mais os valores pelos quais viveram suas vidas.

Esses desenvolvimentos econa´micos e culturais hámuito moldam a pola­tica ocidental. Portanto, as perdas eleitorais de porta-estandartes populistas como Trump não significam necessariamente o fim do populismo.

A sorte de qualquer pola­tico populista pode diminuir e diminuir, mas drenar o reservata³rio de marginalização social de que dependem os populistas requer um esfora§o conjunto de reformas destinadas a promover a integração social.

As opiniaµes expressas neste artigo são de responsabilidade exclusiva do(s) autor(es), não refletindo necessariamente a posição institucional do maisconhecer.com


Noam Gidron
Professor Assistente de Ciência Pola­tica, Universidade Hebraica de Jerusalém

Peter A. Hall
Professor de Estudos Europeus da Fundação Krupp, Universidade de Harvard

 

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