Quem não pesa voca¡bulos, conceitos, manãtodos, tomba na charlatanice e na violência. O pensamento universita¡rio écrítico ou reunia£o de certezas a soldo de poderes obscurantistas na tarefa de semear a morte.

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Agradea§o a honra de falar aos funciona¡rios, estudantes, colegas da Universidade Federal de Roraima. Recordarei, em momento de perigo para as ciências e a vida humana, aspectos de nosso passado desde que existem pessoas e instituições ligadas ao pensamento, cuja etimologia liga-se a balana§a: pensar vem do ato de pesar. Quem não pesa voca¡bulos, conceitos, manãtodos, tomba na charlatanice e na violência. O pensamento universita¡rio écrítico ou reunia£o de certezas a soldo de poderes obscurantistas na tarefa de semear a morte.
A universidade comea§a nas Academias gregas, sobretudo as de Pita¡goras, Platão, Arista³teles, Estoicos, Epicuristas. Ali o pensamento adquire os traa§os anãticos que reconhecemos no labor cientafico, tanãcnico, humanastico. As pesquisas da Granãcia cla¡ssica abarcam o universo espiritual e fasico, sempre armadas pela matemática. a‰ canãlebre o dito na Academia plata´nica: οá½Î´ÎµÎ¯Ï‚ ἀγεωμÎÏ„Ïητος εἰσίτω (quem não conhece geometria, não entre). A busca amiga do saber –Φιλοσοφία osabarca a existaªncia sem limites ou regras que limitem a pesquisa. Ela se opaµe ao a³dio pelo pensamento, μισολογία, termo inventado por Platão para designar a mente obscurantista e violenta.
Na guerra entre a busca do saber e a misologia, ocorre a luta da curiosidade malsa£ versus a procura do que anã. Plutarco indica os dois caminhos: o da ciência e o da nefasta curiosidade. Os olhos reaºnem duas formas de atenção: a pesquisa (zetesis) e a curiosidade, “polupragmosineâ€. O zetetanãs, investigador, usa os olhos para captar o que ée atinge um conhecimento dificilmente comunica¡vel. O curioso caça informações sobre tudo e todos, coisas e atos sem releva¢ncia para o Bem. A cura do curioso seria a pesquisa, tratamento que consiste em “transferir a curiosidade, transformando-a em gosto por assuntos honestos e agrada¡veis: seja curioso do que se passa no canãu e na terra, nos ares e no mar, os segredos da natureza, pois esta não se enraivece quando eles são roubados…†(De Curiositate, 5). Nas Academias gregas épraticada a pesquisa (Zetesis). O fato recebe atestação do após tolo Paulo. Em contraste com os judeus que exigem sinais, os helenos pesquisam: á¼Ï€ÎµÎ¹Î´á½´ καὶ ἰουδαῖοι σημεῖα αἰτοῦσιν καὶ ἕλληνες σοφίαν ζητοῦσιν: Quoniam et Juda¦i signa petunt, et Gra¦ci sapientiam qua¦runt. Pois, enquanto judeus pedem sinal, os gregos buscam sabedoria (II Corintios, 1, 22). O Renascimento retoma as Academias. Elas da£o alento para as universidades já presas nas malhas do controle ranãgio ou papal.
Vejamos as universidades. Valho-me de Jacques Le Goff. O que éo intelectual? Pessoa “que faz do pensar seu ofacio e, dele, o mister do ensinoâ€. Eles surgem no século 12 e se espalham pela Europa. Bolonha reaºne intelectuais, mas ésustentada pela corporação dos advogados, daa a sua autonomia diante dos poderes feudais, da Igreja, dos reis. Ela mantanãm as marcas das corporações de ofacio, fechadas aos não membros. As outras universidades no século 12 são corporações abertas. Comea§am a se despovoar os feudos, clericais ou laicos, com a fuga dos camponeses. Os membros da jovem universidade são na maioria imigrantes que fogem dos feudos rumo a s cidades. O comanãrcio retoma estradas do Impanãrio Romano com a troca de mercadorias e ideias. As rotas são retomadas para algo que não pode ser recusado pelos senhores feudais: a peregrinação. Surgem templos dedicados a Virgem Maria, as catedrais ga³ticas. Os arquitetos que as erguem seguem modelos matema¡ticos gregos como em Chartres, onde se usa o plano geomanãtrico de Platão no dia¡logo Timeu. A vastida£o dos novos edifacios religiosos, sua transparaªncia com vitrais reluzentes, tudo depende de ca¡lculo e peracia. Para atender tal necessidade surgem as reuniaµes universita¡rias. Estas últimas, segundo Le Goff se afirmam como “oficinas de onde são exportadas as ideias como se fossem mercadoriasâ€. Elas se organizam como corporações que acolhem os fugitivos do feudo.
Aos milhares e milhares os jovens falam as mais diversas languas. O latim os une. Professores e estudantes debatem com liberdade. Todos apresentam questões, saber e peracia na análise lógica são mais relevantes do que os tatulos de mestre ou doutor.
O ensino da Teologia éseguido pela Medicina e Direito. A Igreja e o novo aparelho estatal precisam de intelectuais para aplicar saberes administrativos (os primeiro germes da burocracia); regular as relações econa´micas com o direito; curar as mazelas da população na luta contra epidemias geradas no inanãdito aglomerado urbano. Documentos mostram ofertas de reis e papas aos pesquisadores competentes, acenam com melhores sala¡rios, condições de vida adequadas, autonomia no estudo e no debate.
Com o fortalecimento das ma¡quinas estatais e eclesia¡stica, suas burocracias estabelecidas, fraqueja a liberdade universita¡ria, brotam regras ragidas de estudo e ação. A liberdade cede passo a s ordens emanadas das instituições externas que financiam a ordem universita¡ria. Os campi se transformam em conjuntos submetidos a hierarquias ragidas. O saber universita¡rio torna-se o servia§al dos poderes. Quem paga a conta manda na forma e conteaºdo dos estudos. O reitor Gerson diz com brutalidade: pouco importa o debate sobre a justia§a “desde que os donos das galinhas durmam em pazâ€. O mundo universita¡rio épolacia da propriedade privada e do mando estatal ou religioso. Censor das ideias e prática s cientaficas ou humanasticas e unido ao Rei e a Inquisição ele aparece, no enunciado de Jacques Le Goff, como a “corporação dos queimadores de livrosâ€. Relevantes intelectuais, do século 17 em diante, são tratados como seus inimigos. Pesquisas e pensamentos se desenvolvem fora e contra a universidade. Assim écom Descartes, Pascal, Leibniz, Spinoza e outros. O campus se define como fa¡brica de técnicos de governo osexpressão de Imanuel Kant –, polacia das ideias e da ciaªncia, saber encastelado.
No século 18 Denis Diderot, campea£o da campanha em prol do saber popular contra as tiranias estatais e religiosas, indica ser a universidade de seu tempo um fantasma ga³tico. Estranha a vida moderna em termos arquiteturais osatéhoje resiste a arquitetura ga³tica em universidades europeias e norte-americanas osela o étambém na ordem dos saberes. Em projeto para uma nova universidade, a ele solicitado por Catarina 2 da Raºssia, Diderot retoma o programa de Francis Bacon para o ensino a ser construado. Bacon –como Descartes osécontra a aristocracia “natural†do saber. Ele confia no manãtodo cientafico que democratizaria a cultura. Para trazr um carculo perfeito épreciso enorme peracia. Poucos conseguem tal faznha. Com o compasso todos o podem trazr. O manãtodo iguala forças intelectuais. Bacon usou a profecia bablica osno livro de Daniel, 12:4 ospara justificar a expansão máxima da ciência pela humanidade. “E tu Daniel, encerra estas palavras e sela este livro atéo fim do tempo; muitos correra£o de uma parte para outra, e o conhecimento se multiplicara¡â€.
Marca expansiva do saber
Dois elementos encontram-se na leitura de Daniel feita por Bacon. Primeiro, a marca expansiva do saber. a‰ impossível fecha¡-lo em muros inexpugna¡veis dentro dos quais apenas alguns usufruem a ciência e a técnica. Um saber verdade, por excelaªncia, pode e deve ser comunicado ao maior número de seres humanos. Segundo: a imagem espacial importa muito na expansão da ciaªncia, no ensino. Para adquirir conhecimentos os
estudantes medievais que inauguram as universidades viajam, seguem para localidades ignoradas nas quais são recebidos como perigosos imigrantes. Enquanto a universidade medieval éviva e livre, ela éo lugar de passagem de indivíduos e grupos de todas as origens. A universidade reaºne imigrantes. A maioria deles épobre, sem recursos pra³prios, depende de auxalio e bolsas concedidas pela Igreja ou pelos governos. Professores italianos ensinam na Alemanha, alema£es na Frana§a, Inglaterra, Holanda. Ao longo dos séculos, atéos nossos dias, nenhuma universidade écomposta apenas de nativos, de cidada£os nascidos nas fronteiras dospaíses. A circulação de pesquisadores, estudantes e mesmo de funciona¡rios integra o pra³prio sentido da universidade. Sem estrangeiros, sem imigrantes, nenhuma universidade évia¡vel. As universidades chinesas, hoje na ponta das pesquisas cientaficas e técnicas, acolheram investigadores de todos ospaíses, e ainda os acolhe.
Tal fato, o deslocamento constante de cientistas e professores, alunos, funciona¡rios, éessencial a universidade. Um campus puramente nacional vai contra a universidade que, pelo pra³prio nome, abarca todos ospaíses, culturas, languas, costumes. Daa o crime duplo dos fascismos europeus, todos nacionalistas, ao expurgarem estrangeiros de seus quadros. Eles praticam um atentado contra a humanidade e matam a fonte que nutre a ciência em seu pra³priopaís. A produção cientafica alema£ durante o nazismo foi muito enfraquecida, salvo em pequenos departamentos ligados a guerra. E mesmo em tais setores a Alemanha se enfraqueceu com a expulsão dos oponentes e estrangeiros. “Os nazistas aplicam verbas apenas nos setores que servem aos seus desagnios, reduzem onívelsuperior de ensino a propaganda ou censura. Cientistas deixam a Alemanha por não aceitar o regime. Sete ganhadores do praªmio Nobel saem dos campi a partir de 1933. Anna-Maria Sigmund resume a situação germa¢nica: “O abandono pelo Estado nazista do potencial econa´mico e intelectual (...) assim como a atitude retra³grada do IIIº Reich diante da pesquisa e da ciência arrastou em prazo espantosamente curto consequaªncia tremendas. Enquanto os nazistas no poder obstaculizavam os trabalhos de cientistas sanãrios (...) nutrindo entusiasmo por teorias obscuras (...) os fasicos que eles expulsaram preparavam a guerra atômica†(Roberto Romano, “Brasil, o Assassinato do Esparitoâ€, palestra inaugural no Encontro de Reitores (Andifes) em 2020, reproduzida no Jornal da Unicamp).
A reforma universita¡ria proposta por Bacon foi recusada e combatida por Oxford e Cambridge, as quais resistem atéa barba¡rie neoliberal da Baronesa Margareth Thatcher. Entre as medidas da primeira-ministra, vão os obsta¡culos a contratação de quadros estrangeiros, salvo os que colaborassem para a economia de mercado. Mas então não se trata de uma reforma democratizante do saber, mas da sua redução a mercadoria quantifica¡vel, submetida a s avaliações de “produtividade†para lucro privado.
Ao lado da ampla democratização do conhecimento trazida pelo manãtodo Diderot, no Plano de Uma Universidade para a Raºssia exige a democracia no ingresso aos campi. Uma universidade, diz ele, deve ser dirigida aos setores pobres. Os ricos tem condições de comprar conhecimentos. Usando o ca¡lculo ele diz ser mais prova¡vel encontrar gaªnios em muitos casebres do que em poucos pala¡cios. a‰ recomenda¡vel a retomada daquele projeto agora, quando o Estado e as igrejas buscam privatizar as universidades em favor das classes abastadas e jogam as desprovidas de recurso nas margens da vida.
Contra a tendaªncia democra¡tica das Luzes, os poderes nacionais instalam universidades para dominar povos pelo controle do direito, da medicina, da teologia. Imanuel Kant em O Conflito das Faculdades denuncia a subserviaªncia das chamadas escolas superiores (Direito, Teologia, Medicina) frente aos governos. Durante a Revolução francesa as universidades pouco fazem para o movimento democra¡tico. Como resposta a Revolução suprime 22 universidades (1793). Com a Reação ressurgem as universidades dominadas pelo Estado. Elas optam pelo ensino tanãcnico e profissionalizante. Hegel diz que na invasão napolea´nica da Ita¡lia as universidades são tratadas como bordanãis.
No século 20 o pior exemplo universita¡rio vem da Alemanha. Nãoque os campi norte-americanos, franceses, italianos sejam modelo de correção cientafica ou anãtica. A Eugenia brota dos Estados Unidos, exportada para a Europa, acolhida pelo nazismo. O elo entre as escolas superiores alema£s e o regime nazista vai além do que se pode imaginar. Desculpas surgem para o comportamento de professores e estudantes. Entre elas, a penaºria financeira trazida pela Primeira Guerra e a crise de 1929. Os cofres vazios, não hácomo nomear novos professores e conseguir meios para a pesquisa. A maior parte da universidade tomba no a³dio racista, xena³fobo, avesso a ciência Cientistas judeus e estrangeiros são banidos, presos, mortos. Poucos professores protestam. A vergonha máxima da¡-se na eleição de Martin Heidegger para a reitoria, quando ele entra para o Partido nazista e jura fidelidade ao Lader. Admoestado por seu colega Jaspers que lhe pergunta “como pode um homem tão sem cultura como Hitler governar a Alemanha?†ele replica: “Olhai apenas as suas ma£os maravilhosas!â€. Jarpers medita: nas adesaµes docentes e discentes ao nazismo “estava em jogo a liberdade de ensino, destruada nas raazes quando se permite que os docentes sejam investigados devido a s suas opiniaµesâ€.
Planos decepados no Brasil
Na história colonial brasileira, com a violência do Estado portuguaªs e sua rapina de nossas riquezas, a censura proabe a edição de livros e produções industriais. Os levantes ocorridos contra El Rey reivindicam o direito de impressão, leitura, indaºstria. Os revoltosos tem ligações com o pensamento inglês, francaªs, norte-americano. Suas bibliotecas estãolotadas por volumes das Luzes. Basta consultar o livro de Eduardo Frieiro, O Diabo na Livraria do Ca´nego. Um historiador da Inconfidaªncia Mineira indica: entre os planos da possível república estãoa instalação de uma fa¡brica e uma universidade.
Tais planos são decepados como o corpo do Tiradentes. Apenas nos anos 40 do século 20, após a criação do Ministanãrio da Educação e Saúde, chegamos a um arremedo de sistema universita¡rio. Passos importantes são dados para a polatica cientafica em 1951, com o CNPq e a Capes. Sem eles as universidades ainda estariam no bera§o. Em Sa£o Paulo a Fapesp (Fundação de Amparo a Pesquisa) ajuda a USP, Unicamp e Unesp a resistir aos ataques de governos do regime ditatorial como Paulo Salim Maluf.
Com o golpe de 1964 foi bruta a guerra contra as universidades públicas. Professores, alunos, funciona¡rios cassados, presos, mortos. O cotidiano dos campi éde medo e terror. Reitorias colaboram com órgãos repressivos como o SNI. No acordo MEC/Usaid o aparelho universita¡rio brasileiro éposto em papel secunda¡rio. O governo civil/militar violenta as universidades, mas possui interesses em alguns campos de pesquisa. a‰ o caso da física experimental, quando surgem os planos de energia nuclear com a Alemanha. Mas a escolha dos reitores segue a prática oliga¡rquica: membros das elites regionais, fortes pelos tratos com poderosos em Brasalia, recebem verbas, docentes, bolsas de pesquisa e de ensino. Os demais permanecem com o pires sem moedas.
A Carta de 1988 proclama o princapio, ainda não regulamentado, da autonomia universita¡ria. Se estabelece mesmo assim, de susto em susto, um sistema universita¡rio e de pós-graduação. Matanãria veiculada no Jornal da Fapesp, anos atrás, demonstra que o referido sistema pode emular o italiano, o francaªs, o inglês e outros. Apa³s a perseguição da ditadura e com auxalio do CNPq, Capes, Fapesp e similares em outros Estados, laboratórios, bibliotecas, salas de aula brasileiras produzem pesquisas das humanidades a s ciências e técnicas avana§adas. Mesmo assim, mazelas da administração pública e da polatica trazem obsta¡culos, diminuem recursos financeiros e humanos. O Brain Drain suga nossos pesquisadores que se dirigem aospaíses que incentivam a ciência a‰ melanca³lico verificar que, na atual pandemia, nomes brasileiros lideram pesquisas internacionais. Nãotiveram aqui os apoios requeridos para continuar seu labor. Nos governos Collor e FHC chega a tentativa de privatizar as universidades, seguindo a lógica do neoliberalismo. Nos governos Luas Ina¡cio da Silva e Dilma Roussef diminui a perseguição. Mas nos derradeiros momentos de Roussef verbas de pesquisa sofrem cortes considera¡veis.
Chegamos ao descalabro de hoje, na polatica federal diante das universidades públicas. Nãocomento os atentados cometidos pelo presidente da república por intermanãdio de pretensos ministros da educação. A calaºnia, a mentira, a propaganda para desmoralizar a ciência e as humanidades retomam momentos drama¡ticos vividos pela universidade alema£ sob o nazismo e pelos campi norte-americanos sob o macartismo. Os cortes dos recursos são inanãditos, a grosseria contra o saber idem. A Universidade Federal de Santa Catarina éinvadida por supostos defensores da moral pública que, ao arrepio da autonomia universita¡ria e das leis comuns dopaís prendem sem provas o Magnafico Reitor Luiz Carlos Cancelier de Olivo, humilhando-o atéo suicadio. A Universidade Federal de Minas Gerais, uma das mais nobres e dignas de respeito cientafico e também anãtico, foi violentada pela polacia com humilhações, ataques sãordidos ao corpo docente e autoridades universita¡rias. Ensaios de totalitarismo são renovados pelo governo e instituições como o Ministanãrio Paºblico, além da Polacia Judicia¡ria, que deveriam zelar pelos direitos cidada£os e institucionais.
Em plena pandemia o governo federal labuta contra as vidas humanas, menospreza o perigo coletivo, pratica charlatanismo cientafico, persegue pesquisadores competentes. Os campi continuam a gerar saberes aºteis aos brasileiros e a Humanidade. Neles reside a esperana§a de sobrevivaªncia. a‰ contra eles que mira o a³dio contra a ciência Sem as universidades e o conhecimento nelas gerados com certeza a mortandade seria pior. Institutos como o Butanta£ são caluniados pelo poder ma¡ximo da república. Este último boicota sua produção de vacinas em nome de uma pequenez ideola³gica absurda. E também de um racismo explacito contra chineses, que nos fornecem meios para lutar pela vida. Os ataques aos campi retomam, com os herdeiros da ditadura de 1964, perseguições que desgraçaram o mundo no século 20. Resistiremos atéquando? Havera¡ ciência no futuro Brasil? Alceu Amoroso Lima, nos alvores do regime imposto em 1964 falou em “terrorismo culturalâ€. O mesmo terrorismo ataca hoje, não apenas pelas vias oficiais como o pra³prio Ministanãrio da Educação, mas pela internet. a‰ como se tivanãssemos as técnicas de Goebbels potenciadas milhões de vezes. Ministanãrios são controlados por criacionistas contra¡rios a ciaªncia, donos de uma pauta fana¡tica e sem rubor de apoiar governantes que elogiam a ditadura, a tortura, a morte dos adversa¡rios. Na tentativa de invasão, pelo Exanãrcito, das dependaªncias universita¡rias no Rio de Janeiro, o reitor Calmon diz a um jovem oficial: “meu filho, aqui são se entra com vestibularâ€. Infelizmente muitos reitores de hoje não seguem o exemplo. E o manãtodo atual de nomear reitores, pela presidaªncia da república, tende a acrescer o número dos que discordam do respeita¡vel Pedro Calmon.
Com a Internet osa semelhança do que ocorre no uso da imprensa por Gutenberg osas informações se multiplicam sem análise cratica, sem pesquisa, sem prudaªncia. Esta¡ formado o campo de onde brotam, em meios avana§ados da comunicação os mais baixos sentidos da curiosidade, da kakourgia, da misologia. Tal onda penetra fambrias importantes da universidade. Existem doutores que aderem aos fascismos, aos procedimentos do charlatanismo cientafico. As supostas redes sociais aprofundam os defeitos acadaªmicos como a inveja, a concorraªncia sem regras contra os pares, os murmaºrios dos corredores. Mas a malha constituada pelas universidades, apesar de tudo, irradia saber e esperana§a. Em todo o planeta, se háuniversidade existe pesquisa e saber, esperana§a.
Colegas, estudantes e funciona¡rios da Universidade Federal de Roraima: coragem! Cabe-nos valorizar a busca do conhecimento como nas Academias gregas e da Renascena§a, nas escolas cujo labor serve a Humanidade, não a s seitas e governos tira¢nicos. Scientia vinces: com a ciência vencera¡s. Este éo dastico no brasão de uma universidade que mais sofreu com a ditadura de 1964, a USP. Ele continuara¡ va¡lido após o fim de governos inimigos do saber. Bom ano de estudos, boas prática s e miserica³rdia. a‰ disso que precisamos. Obrigado.
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Roberto Romano da Silva
Professor titular aposentado do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH) da Unicamp. Autor de vários livros, entre eles “Brasil, Igreja contra Estado†(Editora Kayra³s, 1979), “Conservadorismo roma¢ntico†(Editora da Unesp), “Silaªncio e Ruado, a sa¡tira e Denis Diderot†(Editora da Unicamp), “Raza£o de Estado e outros estados da raza£o†(Editora Perspectiva).Â