Opinião

COVID-19 e a Agenda Econa´mica
O que ospaíses avana§ados podem e devem fazer para ajudar o mundo em desenvolvimento e os mercados emergentes a se recuperar da pandemia e de suas consequaªncias econa´micas.
Por Joseph E. Stiglitz - 27/03/2021


Uma mulher em Mumbai tem sua temperatura controlada como parte dos esforços na andia para combater a propagação do COVID-19.

Enquanto comemoramos a saa­da dos Estados Unidos da pandemia e a rápida e robusta recuperação econa´mica, graças ao forte apoio federal, ospaíses mais pobres enfrentam perspectivas muito mais sombrias. Eles não tem acesso a s vacinas COVID-19 ou aos recursos para reacender suas economias após a desaceleração global. Muitos estãoainda sobrecarregados por na­veis de da­vida que mal eram administra¡veis ​​antes da pandemia, mas estãoesmagando-os agora.

Primeiro contenha a doena§a

A Comissão sobre Transformação Econa´mica Global do Instituto para o Novo Pensamento Econa´mico, que eu copresido, acaba de publicar um relatório sobre como alcana§ar uma recuperação global rápida tanto da pandemia quanto de suas consequaªncias econa´micas - o que pode e deve ser feito pelospaíses avana§ados para ajudar o mundo em desenvolvimento e os mercados emergentes. Atéque a doença seja contida em todos os lugares e todas as economias voltem aos trilhos, o mundo não se recuperara¡ totalmente da pandemia ou de suas consequaªncias econa´micas.

O primeiro desafio édisponibilizar vacinas, medicamentos, testes e equipamentos de proteção em todos os lugares. O relatório enfatiza que, em grande medida, as restrições de oferta são artificiais. A verdadeira restrição éo acesso ao conhecimento, que éimpossí­vel de obter devido ao sistema distorcido de direitos de propriedade intelectual. Ironicamente, a pesquisa ba¡sica subjacente a grande parte desse conhecimento foi paga por governos e produzida por universidades e institutos de pesquisa. Os Estados Unidos e outrospaíses avana§ados precisam apoiar a suspensão dos direitos de propriedade intelectual relacionados ao COVID-19 e o agrupamento desses direitos, medidas que já estãosendo defendidas por muitospaíses em todo o mundo.

Mais espaço fiscal para operar

Ospaíses em desenvolvimento precisam de mais espaço fiscal para operar, e o relatório descreve medidas concretas que devem ser tomadas agora para dar-lhes esse Espaço. O primeiro éuma grande emissão de Direitos Especiais de Saque (SDR), um tipo de dinheiro global que o FMI pode distribuir rapidamente. Os SDRs são emitidos em uma base estereotipada, quer ospaíses precisem do dinheiro ou não, então seráimportante para ospaíses avana§ados realocarem seus SDRs para os mercados emergentes epaíses em desenvolvimento que precisam desesperadamente de fundos.

O quanto eles precisam do dinheiro fica claro pela disparidade nos gastos com esta­mulos entrepaíses ricos e pobres. O presidente Biden apresentou um caso convincente de que opaís precisava de um adicional de US $ 1,9 trilha£o em um pacote de resgate que elevou o total a cerca de 25% do PIB, ou US $ 17.000 per capita. O resultado éque o Fed agora espera um crescimento da ordem de 6,5% em 2021, e alguns analistas veem um crescimento recorde de 8%. Mas, em média, ospaíses mais pobres conseguiram gastar apenas US $ 2 per capita, um oitavo milanãsimo do que os EUA estãogastando. Nãoéde admirar que os analistas esperem que sua recuperação projetada seja anaªmica.

Um fardo de da­vida esmagador

Para piorar as coisas, estãoo peso esmagador da da­vida sob o qual um grande número depaíses estãosujeito, incluindo alguns dos mais pobres. Dinheiro usado para pagar o serviço da da­vida édinheiro que não estãodispona­vel para saúde, educação, desenvolvimento econa´mico mais amplo ou apenas para atender a s exigaªncias da pandemia. A paralisação preconizada pelo G-20 no ini­cio da crise foi recebida com recalcitra¢ncia por parte do setor privado. E agora que a crise pandaªmica durou mais do que o previsto háum ano, ospaíses mais pobres precisam de uma reestruturação da da­vida profunda, abrangente e oportuna. Mas não devemos esperar cooperação de credores privados sem alguma bajulação dos governos dospaíses credores.

O relatório observa certos aspectos da estrutura jura­dica dospaíses credores que realmente incentivam lita­gios e atrasos - a taxa de juros de pré-julgamento de 9% em Nova York, por exemplo - e identifica ações concretas que as jurisdições credoras podem realizar para ajudar a criar uma reestruturação da da­vida oportuna . Sem reestruturações, muitospaíses podem enfrentar recessaµes prolongadas e a recuperação global serámais fraca do que teria sido de outra forma.

Essas medidas, abordadas no relatório, devem ser tomadas agora para qualquer esperana§a de uma recuperação global rápida.

 As opiniaµes expressas neste artigo são de responsabilidade exclusiva do(s) autor(es), não refletindo necessariamente a posição institucional do maisconhecer.com

Joseph E. Stigitz
a‰ um economista americano, analista de políticas públicas e professor da Universidade de Columbia. Ele recebeu o Praªmio Nobel de Ciências Econa´mica

 

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