Descaso e deboche, caºmplices das três centenas de milhares de mortes. Nãoháoutra palavra, caºmplices, quando não mandantes.
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Descaso e deboche, caºmplices das três centenas de milhares de mortes. Nãoháoutra palavra, caºmplices, quando não mandantes. Exemplos de como proceder em favor da vida, informações e apelos não faltaram durante todo esse ano. Restou virar como se podia em cada rinca£o dopaís, virar-se enfrentando as franquias do descaso e do deboche, nutridos pela desinformação e seu entulho: a negação; a banalização; o contanuo desprezo pelas ma¡scaras, adornos de “maricasâ€, e pelo distanciamento social, coisa de “covardesâ€. Trocando o certo pelo errado: a ilusão cruel do tratamento precoce. Tratamento repetida e exaustivamente sob escrutanio da ciaªncia, que repete sua conclusão: éineficaz. E perigoso. Além da ilusão, que acaba levando a a³bitos pela Covid-19, a falsa proteção dissemina ainda mais o varus e suas variantes e hoje a automedicação cobra sua conta: recuperados ou não da Covid-19, os enganados (ou que se deixaram enganar) baixam aos hospitais com as drama¡ticas consequaªncias, esperando agora por transplantes, necessa¡rios pelo uso indiscriminado e irresponsável do “kit covidâ€. Irresponsavelmente propalado por pusila¢nimes, que agora se dizem a favor da vacina. Vacina contra a qual atéontem se posicionaram, também com deboche e descaso.
300 mil e a conta seráainda maior com o total descontrole da pandemia. Conta já paga a vista por 300 mil e em prestações pelos outros cerca de 210 milhões desamparados nessepaís. Ou seja, nós. Governos do mundo se debrua§aram sobre o problema, aprenderam e, infelizmente, relaxaram, quando não deviam. Mas reconhecem erros e assumiram responsabilidades e voltaram a enfrentar o problema, infelizmente ampliado. Aqui pouco se fez e muito se sabotou, erros não foram reconhecidos, nem responsabilidades assumidas: e daa, o que querem que eu faz? Nãose quis tomar conhecimento da falta de oxigaªnio nos hospitais, mas se fez questãode debochar da falta de ar de quem morria nas filas. Deboche em imagem gravada e disseminada, alto e bom som, por quem, com o deboche, causa mortes. Â
300 mil foram necessa¡rias para o anaºncio de um comitaª de crise. Comitaª 300 mil mortes atrasado, um ano inteiro adiado. Incranãdulos nos perguntamos se épara enfrentar mesmo o problema ou criar outra cortina de fumaa§a e seguir com o deboche e o descaso. No meio da urgência, reuniaµes são anunciadas, mas não para ontem, são para depois de amanha£. O que nos resta éa obscena realidade em que ações não coordenadas, como deveriam ser, trazem são aos poucos as vacinas, por tanto tempo debochadas por quem hoje finge que as defende. Mas são as palavras e imagens passadas que não permitem a chancela de credibilidade do que passa a ser dito a contragosto. A realidade écruel, alimentada pela estulta realidade paralela dos aca³litos da desumanidade.
Em todas as colunas que escrevi, procurei articular diferentes ideias, buscar referaªncias a outros exemplos. Hoje não, não épossível. Nãoháideias que ainda possam ser articuladas com o que se vaª, não háreferaªncias a algo remotamente parecido com o que testemunhamos e sofremos. Ha¡ apenas a indignação com o desrespeito e descaso a todas as referaªncias, dados e ideias apresentados por tantos colegas dentro e fora das universidades, em instituições que prezam a vida. Ha¡ a indignação pela realidade alternativa das fake News, que seguem matando no nosso Brasil real. Ha¡ perplexidade com o grau da traganãdia, de como isso se tornou possível, embora se saiba bem como. Na espera de que algo mude de fato nessepaís, antes que morram outros 300 mil, o repaºdio aos responsa¡veis por termos alcana§ado os primeiros 300 mil. a‰ hora de um pacto, a comea§ar por todos dizendo basta. Que caia esse castelo de cartas da realidade paralela desumana, que os jogadores desse truco letal vendem e que tantos ainda aceitam.
*As opiniaµes expressas neste artigo são de responsabilidade exclusiva do(s) autor(es), não refletindo necessariamente a posição institucional do maisconhecer.com
Peter Schulz foi professor do Instituto de Fasica "Gleb Wataghin" (IFGW) da Unicamp durante 20 anos. Atualmente éprofessor titular da Faculdade de Ciências Aplicadas (FCA) da Unicamp, em Limeira.