Na ciaªncia, diferentes interpretaa§aµes do mesmo dado experimental são comuns e atédesejáveis. O contradita³rio éuma das forças motrizes da ciência Assim, respeitamos a opinia£o do colega bia³logo, mas discordamos.

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No dia 3 de abril, em coluna no jornal O Estado de S. Paulo, o bia³logo Fernando Reinach comentou um estudo publicado como preprint (antes de revisão pelos pares) sobre segurança e potencial de estimular resposta imunola³gica pela CoronaVac, realizado no Chile.
Na ciaªncia, diferentes interpretações do mesmo dado experimental são comuns e atédesejáveis. O contradita³rio éuma das forças motrizes da ciência Assim, respeitamos a opinia£o do colega bia³logo, mas discordamos. Oferecemos aqui, ao leitor, uma outra interpretação do mesmo dado. Os resultados do estudo chileno são boa notacia para a CoronaVac.
O bia³logo comentou que a CoronaVac induz baixa quantidade de anticorpos totais e neutralizantes para a proteana S do varus, em comparação a s vacinas de RNA (Pfizer e Moderna). Ao final do texto, ele minimiza a capacidade da CoronaVac em estimular resposta de células imunola³gicas especaficas contra o varus, e conclui que os resultados do estudo indicam a possibilidade de a vacina ser ineficaz contra as novas variantes do varus.
a‰ normal e esperado que vacinas baseadas em varus inativados, como a CoronaVac, estimulem quantidades menores de anticorpos do que vacinas que não utilizam o varus inteiro. Sa£o estratanãgias diferentes. As vacinas de RNA priorizam estimular uma resposta potente de anticorpos para a proteana S, e para isso usam na sua formulação apenas essa proteana do varus para treinar o sistema imunológico. A CoronaVac, em contrapartida, busca estimular resposta imunola³gica contra todas as partes do varus, e para isso troca potaªncia por abrangaªncia.
As vacinas de RNA ou de vetores virais (como a Covishield, vacina desenvolvida pela parceria entre a AstraZeneca com a Universidade de Oxford) buscam estimular altos naveis de anticorpos para a proteana S, pois esse éo ponto fraco do varus. A desvantagem dessas vacinas éque elas ficam mais suscetíveis a perder potaªncia quando alguma das mutações que ocorrem aleatoriamente no varus acaba por modificar a proteana S de forma que comprometa esse reconhecimento por parte da resposta de anticorpos. Vacinas como a CoronaVac, por outro lado, apostam no fato de que anticorpos neutralizantes contra a proteana S não são a única arma do sistema imunológico. Assim, apesar de estimular naveis mais baixos de anticorpos, a CoronaVac busca gerar resposta imunola³gica para outras proteanas do varus, incluindo a indução de células do sistema imunológico (os linfa³citos).
Alguns estudos recentes sugerem que os linfa³citos são importantes para conter o agravamento da doena§a. O dado mais importante do estudo chileno éexatamente a detecção da resposta de linfa³citos induzidos pela CoronaVac em pessoas de todas as idades acima de 18 anos. Esse dado éuma a³tima notacia, pois indica que a vacina écapaz de treinar o sistema imunológico para agir contra todas as partes do varus, não apenas contra a proteana S, com a presença dos linfa³citos para compor o arsenal da resposta contra a infecção viral. Desta maneira, a nossa conclusão éque provavelmente a CoronaVac émenos suscetavel a s mutações que o varus faz na proteana S, e não mais suscetavel como interpretado pelo colega.
*As opiniaµes expressas neste artigo são de responsabilidade exclusiva do(s) autor(es), não refletindo necessariamente a posição institucional do maisconhecer.com
Daniel Youssef Bargieri
Professor do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da USP,
Mellanie Fontes-Dutra
Pesquisadora em bioquímica da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)