Opinião

Uma nova pesquisa aponta que os dinossauros já estavam em decla­nio antes que o asteroide os destrua­sse
Como estavam os dinossauros antes desse cataclismo? Esta éa pergunta que tentamos responder em nosso novo estudo, cujos resultados acabam de ser publicados na revista cienta­fica Nature Communications .
Por Fabien Condamine - 04/07/2021


A vida já estava ficando mais difa­cil para os dinossauros antes que um asteroide os destrua­sse. metha1819 / Shutterstock

Cerca de 66 milhões de anos atrás, na pena­nsula de Yucata¡n, no Manãxico, um asteroide de 12 quila´metros de largura caiu na Terra. O impacto causa uma explosão cuja magnitude édifa­cil de imaginar hoje - vários bilhaµes de vezes mais poderosa do que a bomba atômica lana§ada em Hiroshima.

A maioria dos animais do continente americano émorta imediatamente. O impacto também desencadeia tsunamis em todo o mundo. Toneladas e toneladas de poeira são ejetadas na atmosfera, mergulhando o planeta na escurida£o. Este “inverno nuclear” causa a extinção de muitas espanãcies vegetais e animais.

Entre estes últimos, o mais emblema¡tico: os dinossauros. Mas como estavam os dinossauros antes desse cataclismo? Esta éa pergunta que tentamos responder em nosso novo estudo, cujos resultados acabam de ser publicados na revista cienta­fica Nature Communications .

Esta¡vamos interessados ​​em seis fama­lias de dinossauros, as mais representativas e as mais diversificadas dos 40 milhões de anos que antecederam a chegada do asteroide.

Traªs dessas fama­lias eram carna­voras: os Tyrannosauridae, os Dromaeosauridae (incluindo os famosos velociraptors, que ficaram famosos com os filmes do Jurassic Park) e os Troodontidae (pequenos dinossauros semelhantes a pa¡ssaros).

Os outros três eram herba­voros: os Ceratopsidae (representados em particular pelo Triceratops), os Hadrosauridae (a mais rica de todas as fama­lias em termos de diversidade) e os Ankylosauridae (representados em particular pelo anquilossauro, um dinossauro coberto por uma armadura a³ssea com um cauda em forma de taco).

Saba­amos que todas essas fama­lias sobreviveram atéo final do Creta¡ceo marcado pela queda do asteroide. Nosso objetivo era determinar a que taxa essas fama­lias se diversificaram - formaram novas espanãcies - ou se extinguiram.

Durante cinco anos, compilamos todas as informações conhecidas sobre essas fama­lias para tentar descobrir quantas delas havia na Terra em um determinado momento e quais espanãcies estavam em cada grupo. Na paleontologia, cada fa³ssil recebe um número aºnico para fins de rastreabilidade, o que nos permite acompanha¡-lo na literatura cienta­fica ao longo do tempo.

O trabalho era tedioso - inventamos a maioria dos fa³sseis conhecidos dessas seis fama­lias, que representavam mais de 1.600 indivíduos de cerca de 250 espanãcies. Nãoéfa¡cil categorizar adequadamente cada uma das espanãcies e data¡-las corretamente: um pesquisador pode ter dado a um registro uma determinada data e espanãcie, e então outro pode reexamina¡-lo e fazer uma análise diferente. Nesses casos, ta­nhamos que fazer nossas próprias ligações - se ta­nhamos muitas daºvidas, elimina¡vamos o fa³ssil do estudo.

Depois que cada fa³ssil foi devidamente categorizado, usamos um modelo estata­stico para estimar o número de espanãcies que evolua­ram ao longo do tempo para cada fama­lia. Pudemos assim rastrear as espanãcies que apareceram desaparecidas entre 160 e 66 milhões de anos atrás e estimar, novamente para cada fama­lia, as taxas de especiação - a evolução de novas espanãcies - e extinção ao longo do tempo.

Para estimar essas taxas, tivemos que levar em consideração vários fatores de confusão. O registro fa³ssil étendencioso: édesigual no tempo e no Espaço, e alguns tipos de dinossauros simplesmente não fossilizam tão bem quanto outros. Este éum problema bem conhecido na paleontologia ao estimar a dina¢mica da diversidade do passado.

Modelos sofisticados podem ser responsa¡veis ​​pela preservação desigual ao longo do tempo e entre espanãcies. Ao fazer isso, o registro fa³ssil se torna mais confia¡vel para estimar o número de espanãcies em um determinado momento. Mas éimportante ter cautela, porque estamos falando de estimativas, e essas estimativas podem mudar se encontrarmos mais fa³sseis, por exemplo, ou novos modelos anala­ticos.

Um decla­nio acentuado

Nossos resultados mostram que o número de espanãcies estava em decla­nio acentuado de 10 milhões de anos antes da queda do asteroide atéa extinção dos dinossauros. Esse decla­nio éparticularmente interessante porque émundial e afeta grupos carna­voros, como tiranossauros, e grupos herba­voros, como triceratops.

Algumas espanãcies diminua­ram drasticamente, como os anquilossauros e ceratopsianos, e apenas uma familia das seis - os troodonta­deos - mostra um decla­nio muito pequeno, que ocorreu nos últimos cinco milhões de anos de existaªncia dos dinossauros.


a) Dina¢mica das taxas de especiação (azul) e extinção (vermelho) ao longo do
tempo para as seis fama­lias de dinossauros. b) Taxas de diversificação
ao longo do tempo. Fabien Contamine

O que poderia ter causado esse forte decla­nio? Uma das teorias éa mudança climática: naquela anãpoca, a Terra passava por um período de resfriamento global de 7 a 8 ° C.

Sabemos que os dinossauros precisam de um clima quente para que seu metabolismo funcione adequadamente. Como costumamos ouvir, eles não eram animais ectotanãrmicos (de sangue frio) como crocodilos ou lagartos, nem endotanãrmicos (de sangue quente), como mama­feros ou pa¡ssaros. Eles eram mesotanãrmicos, um sistema metaba³lico entre ranãpteis e mama­feros e precisavam de um clima quente para manter sua temperatura e assim desempenhar funções biológicas ba¡sicas. Essa queda de temperatura deve ter tido um impacto muito forte sobre eles.

Deve-se notar que encontramos um decla­nio escalonado entre herba­voros e carna­voros: os comedores de grama diminua­ram ligeiramente antes dos comedores de carne. a‰ prova¡vel que o decla­nio dos herba­voros tenha causado o decla­nio dos carna­voros. Isso éo que chamamos de extinção em cascata.

O golpe de nocaute

Uma grande questãopermanece: o que teria acontecido se o asteroide não tivesse caa­do? Os dinossauros estariam extintos de qualquer maneira, devido ao decla­nio que já havia comea§ado, ou poderiam ter se recuperado?

a‰ muito difa­cil dizer. Muitos paleonta³logos acreditam que, se os dinossauros tivessem sobrevivido, os primatas e, portanto, os humanos, nunca teriam aparecido na Terra.

Um fato importante éque um possí­vel rebote na diversidade pode ser muito heterogaªneo e dependente do grupo, de modo que alguns grupos teriam sobrevivido e outros não. Os hadrossauros, ou dinossauros “de bico de pato”, por exemplo, mostraram alguma forma de resistência ao decla­nio e podem ter se recuperado após o decla­nio.

O que podemos dizer éque os ecossistemas no final do período Creta¡ceo estavam sob pressão significativa devido a  deterioração climática e grandesmudanças na vegetação, e que o asteroide deu o golpe final.

Este éfrequentemente o caso no desaparecimento de espanãcies: primeiro elas estãoem decla­nio e sob pressão, então outro evento intervanãm e acaba com um grupo que pode estar a  beira da extinção de qualquer maneira.

As opiniaµes expressas neste artigo são de responsabilidade exclusiva do(s) autor(es), não refletindo necessariamente a posição institucional do maisconhecer.com

Fabien Condamine
Chercheur au CNRS en Phyloganãnie et Evolution Molanãculaire, Universitéde Montpellier

 

.
.

Leia mais a seguir