O recente “apaga£o†das várias plataformas digitais do CNPq, que durou mais de duas semanas e foi parcialmente reestabelecido são no último dia 10/8, éapenas mais um sinal do desmonte vivido pelo a³rga£o.

Domanio paºblico
A CAPES (Coordenação de Aperfeia§oamento de Pessoal de Navel Superior), órgão ligado ao MEC, e o CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientafico e Tecnola³gico), ligado ao MCTI, formam a base sobre a qual se sustenta praticamente toda a pesquisa e a pós-graduação brasileiras.
Para exercer esse papel fundamental para o desenvolvimento cientafico e tecnola³gico dopaís, esses órgãos necessitam contar com gestores experientes, capazes de fazer frente aos enormes desafios enfrentados pela humanidade, em um momento em que sua própria existaªncia écolocada em risco por pandemias,mudanças climáticas, caraªncia de recursos naturais, entre vários outros temas de suprema e vital importa¢ncia.
Mas o que estãoocorrendo sob a anãgide do atual governo federal, liderado por um governante negacionista e anti-ciaªncia, éjustamente o oposto disso. A comea§ar pelos respectivos ministros, ambos com profundas limitações para compreender a importa¢ncia das pastas que, supostamente, dirigem, bem como dos órgãos a elas vinculados. Vale destacar que o ministro da Ciência, Tecnologia e Inovações, o ex-astronauta Marcos Pontes, tem dedicado parte considera¡vel de sua agenda para atividades mais “importantesâ€, como participar de motociatas com o presidente da República e receber em audiaªncia a deputada alema£ que lidera um partido neo-nazista.
O recente “apaga£o†das várias plataformas digitais do CNPq, que durou mais de duas semanas e foi parcialmente reestabelecido são no último dia 10/8, éapenas mais um sinal do desmonte vivido pelo a³rga£o. Todo um ecossistema de fomento a pesquisa e a pós-graduação étotalmente dependente dessas plataformas, desde editais de pesquisa, análise de propostas, análise e concessão de bolsas de estudo, entre muitos outros. Os sucessivos comunicados supostamente “tranquilizadores†da direção do órgão sobre o problema são revelaram a enorme vulnerabilidade do sistema, que teria de ter um grau estratanãgico de redunda¢ncia para fazer frente a eventuais falhas, e aparentemente não tem. O que se sabe éque faltam investimentos não somente para as atividades-fim, como mostram os vários editais regulares cancelados nos últimos dois anos (como o Edital Universal), mas também para manutenção da infraestrutura, como mostra esse “apaga£o†das plataformas digitais.
Já a CAPES vem sofrendo sucessivas e desastrosas trocas no seu comando no último biaªnio, que culminaram em abril com a exoneração do defensor do “design inteligente†(um eufemismo para designar o criacionismo que tenta contrapor a Teoria da Evolução), Prof. Benedito Aguiar Neto, e a nomeação da Profa. Cla¡udia Queda de Toledo. A nova presidente atéser nomeada para a CAPES exercia o cargo de reitora de um nega³cio familiar de educação superior, o Centro Universita¡rio de Bauru (antigo Instituto Toledo de Ensino), fundado por seu pai.
Entre os destaques do curraculo acadêmico da referida professora constam o fato de ter sido coordenadora de um curso de pós-graduação que recebeu nota 2 na avaliação da CAPES de 2017 (em uma escala que vai de 1 a 7), e o grau de doutora em Direito pela própria instituição e por esse mesmo curso que coordenava. De resto, não se encontrou nenhuma evidência de que reuniria experiência manima como gestora para assumir a responsabilidade por uma agaªncia da dimensão, importa¢ncia e conexões nacionais e internacionais como a CAPES. Por esse motivo, a anãpoca da sua nomeação, inaºmeras entidades e associações cientaficas, tendo a frente a Academia Brasileira de Ciências (ABC) e a Coaliza£o Ciência e Sociedade, manifestaram seu repaºdio pela não observa¢ncia de critanãrios de competaªncia e de qualificação na escolha dos dirigentes da CAPES pelo atual ministro da Educação, o professor e pastor Milton Ribeiro. Segundo o documento divulgado pela ABC, a nomeação da Profa. Cla¡udia de Toledo representou uma afronta a memória do eminente educador Anasio Teixeira, fundador e primeiro presidente da CAPES.
Tendo esperado baixar a poeira de sua lamenta¡vel nomeação, eis que na semana que se encerrou a presidente da CAPES decide exonerar o Diretor de Relações Internacionais (DRI) e nomear para o cargo Livia Palumbo, sua orientanda de doutorado no Centro Universita¡rio de Bauru. Nãosatisfeita, e aproveitando o ensejo, exonerou também o Coordenador Geral de Programas da mesma DRI e nomeou Lucas Felippe Bacas para o cargo, que atéentão era professor de história do mesmo Centro Universita¡rio de Bauru. Desnecessa¡rio dizer que nenhum desses dois novos dirigentes da CAPES tem qualquer experiência em coordenação de redes de colaboração internacional, ou qualquer outro atributo que os qualifiquem para exercerem os cargos para os quais foram nomeados.
Uma breve visita aos dados dessas três pessoas registrados na Plataforma Lattes (que alia¡s estava fora do ar na semana em que as nomeações foram feitas) revela indicadores abaixo de medaocres do ponto de vista tanto de gestão, como do exercacio acadaªmico. Novamente, entidades e associações cientaficas, incluindo a ABC e a Sociedade Brasileira Para o Progresso da Ciência (SBPC), emitiram notas de repaºdio, sem maiores consequaªncias...
Assim, a CAPES vai ser tornando um “puxadinho†do Centro Universita¡rio de Bauru, em uma clara demonstração (mais uma!) da caquistocracia* que tomou de assalto o governo federal.
* Caquistocracia éo sistema de governo onde os lideres são os piores, menos qualificados e/ou mais inescrupulosos cidada£os.
As opiniaµes expressas neste artigo são de responsabilidade exclusiva do(s) autor(es), não refletindo necessariamente a posição institucional do maisconhecer.com
Alvaro Penteado Cra³sta
Professor Titular do Instituto de Geociências da Universidade Estadual de Campinas, Membro Titular da Academia Brasileira de Ciências, da Academia de Ciências do Estado de Sa£o Paulo e Bolsista de Produtividade em Pesquisa do CNPq.