Os argumentos de Nabuco para justificar a transformação pessoal revelam raciocanio arguto que, cedo, percebeu os perigos para a nação do radicalismo revoluciona¡rio de qualquer natureza, seja republicano ou socialista.
(...)
Nos últimos dois anos (2020-2021) o mundo foi assolado com a Pandemia Covid-19, todos ospaíses lançaram ma£o de estratanãgias de enfrentamento da doena§a, nenhum de expressão mundial convive ao mesmo tempo com crises políticas internas entre os poderes constituintes da ordem polatica, forjadas no Legislativo e no Judicia¡rio tendo como justificativa o gerenciamento da crise sanita¡ria, cujo aºnico objetivo éa desestabilização do governo nacional eleito, somente o Brasil! Portanto, a citação acima, de Nabuco e Bagehot, sobre a incapacidade do governo republicano presidencial para enfrentar grandes questões de maneira eficiente enquadra analiticamente o Brasil de hoje, e revela a genialidade polatica de ambos.
A influaªncia de Walter Bagehot na conversão mona¡rquica de Joaquim Nabuco se exprime na mudança de atitude em relação a transmissão de poder do Estado mediante a hereditariedade dina¡stica, que garantiu a continuidade da monarquia parlamentar inglesa e ésambolo de sua estabilidade hámais de 800 anos. Isto significa 40 gerações de saºditos ingleses (aproximadamente 20 anos cada) compartilhando e aperfeia§oando suas instituições sociais [que criam a identidade de uma sociedade] com as respectivas tradições (costumes), “conservando†o que comprovadamente deu certo pela experiência coletiva da população e descartando novidades aventureiras como o radicalismo igualita¡rio e uta³pico dos iluministas franceses, que mergulharam a Frana§a no caos da Revolução (BURKE: 2017):
(...) Antes de o ler, eu tinha o preconceito democra¡tico contra a hereditariedade, o princapio dina¡stico e a influaªncia aristocra¡tica. Foi esse democrata [observem como Nabuco se refere a Bagehot, mostrando como não háincompatibilidade entre ser democrata e monarquista] que me fez compreender como o que ele chamou as partes imponentes [a monarquia dina¡stica] da Constituição inglesa, “as que produzem e conservam o respeito das populaçõesâ€, são tão importantes como as eficientes [o gabinete parlamentar], “as que da£o a obra o movimento e a direçãoâ€. (...) “A massa de gente sem instrução na Inglaterra não poderia ouvir hoje tranquilamente estas simples palavras: Ide escolher o vosso governo; semelhante ideia lhes perturbaria a razãoe lhes faria recear um perigo quimanãrico. A vantagem incalcula¡vel das instituições imponentes em umpaís livre éque elas impedem essa cata¡strofe. Se a nomeação dos governantes se faz sem abalo, égraças a existaªncia aparente de um governo não sujeito a eleição. As classes pobres e ignorantes imaginam ser governadas por uma rainha heredita¡ria [na anãpoca de Bagehot a Rainha Vita³ria, hoje Elizabeth II] e que governa pela graça de Deus, quando na realidade são governadas por um gabinete e um Parlamento composto de homens escolhidos por elas mesmas e que saem das suas fileiras.†(NABUCO, 2004, p. 27-28)
Nabuco ressalta a perspica¡cia sociola³gica de Bagehot ao descrever como ele identificou nas representações sociais (consciência coletiva; imagina¡rio social) que tornam concretas no cotidiano, reais, quase palpa¡veis, para o povo inglês suas instituições políticas o alicerce do Estado (DURKHEIM, 1983; CASTORIADIS: 1982), ou seja, ele estãoenraizado na história dessa sociedade, não éum experimento social nascido da imaginação de alguns teóricos radicais como a república francesa de 1789:
A pompa, a majestade, o aparato todo da realeza entrava assim para mim nos artifacios necessa¡rios para governar e satisfazer a imaginação das massas, qualquer que seja a cultura da sociedade; a realeza passava naturalmente para a classe das instituições a que Herbert Spencer [um dos fundadores da sociologia inglesa] chamou cerimoniais (...). “Nada mais pueril [infantil] na aparaªncia do que o entusiasmo dos ingleses pelo casamento do prancipe de Gales. Mas nenhum sentimento estãomais em harmonia com a natureza humana.†(...) E mais: “Enquanto a espanãcie humana tiver muito coração e pouca raza£o, a realeza seráum governo forte, porque se harmoniza com os sentimentos espalhados por toda parte, e a República, um governo fraco, porque se dirige a raza£oâ€. (NABUCO, 2004, p. 28)
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Nabuco viu, certamente, representações sociais semelhantes nas raazes da tradição mona¡rquica parlamentar no Impanãrio do Brasil o, que, provavelmente, foi uma das motivações para a conversão mona¡rquica após o contato com a obra de Walter Bagehot. Isto o faria deplorar a Proclamação da República e intuir a era de crises, de governos fracos e incompetentes que sobreviria, ele estava absolutamente correto, a história republicana lhe deu raza£o: