Saúde

Cromossomo Y pode diferir entre as espanãcies, diz pesquisa da UFRJ
Numa anãpoca em que a afirmaa§a£o da diversidade sexual e de gaªnero ganha cada vez mais importa¢ncia entre os seres humanos, pesquisadores de biologia evolutiva enfrentam um mistério sobre os machos.
Por Rosa Maria Mattos - 18/09/2019

Dos nossos 44 cromossomos, guardia£es do DNA, dois deles destacam-se pela fama e função: determinar o sexo biola³gico. XX para o sexo feminino, XY para o masculino. O cromossomo Y, exclusivo dos machos, éencontrado não apenas em humanos, mas em inúmeros outros seres vivos, de plantas a insetos. Como esses cromossomos surgem e evoluem diversas vezes em diferentes grupos de animais e plantas? Por que são mais “curtos” (possuem bem menos genes) que os cromossomos X?
Foto: INCT em Entomologia Molecular

Este texto não ira¡ responder a nenhuma dessas perguntas osmas o grupo coordenado por Anta´nio Bernardo de Carvalho, pesquisador do Departamento de Genanãtica do Instituto de Biologia da UFRJ, estãofazendo sua parte na montagem desse complexo quebra-cabea§as. Uma pesquisa com 400 espanãcies de moscas de fruta osas drosãofilas ostraz um novo e intrigante elemento para a mesa de debates: nada étão simples como parecia ser. O artigo com o achado foi publicado na revista Plos Genetics e recentemente recomendado pela F1000 prime, plataforma de avaliação de pesquisas cienta­ficas que considerou o trabalho relevante, partindo  de uma ideia simples e inteligente.

Para adentrar no mistério épreciso falar da dificuldade de estudar o cromossomo Y. “Apesar de sua importa¢ncia para o sexo masculino, pouco se sabe sobre o cromossomo Y. E o motivo disso éporque édifa­cil estuda¡-lo, já que estãoem uma regia£o de DNA de difa­cil sequenciamento, o que faz com que seja tão necessa¡rio desenvolver técnicas e manãtodos para estudar essa regia£o”, afirma Eduardo Dupim, cientista cuja pesquisa de doutorado culminou na publicação do artigo.

Apesar de tanta complexidade, as moscas de fruta ostambém conhecidas como “mosquinhas da banana” ossão um modelo cla¡ssico para estudo genanãtico e dos cromossomos usado hámais de 100 anos devido a sua simplicidade. Que o diga Thomas Hunt Morgan, que venceu o praªmio Nobel em 1933 justamente por um estudo sobre as cores dos olhos das moscas, genanãtica e hereditariedade!

Saltando para 2005, um trabalho do professor Anta´nio Bernardo demonstrou que genes relacionados a  fertilidade de um grupo de espanãcies das drosãofilas não estavam no cromossomo Y, onde se esperava que estivessem, mas num autossomo osnome dado aos demais pares de cromossomos não sexuais. Ou seja: o cromossomo Y era completamente diferente entre as espanãcies, e os genes masculinos do cromossomo Y original haviam sido incorporados por um autossomo.

Imagem: INCT em Entomologia Molecular

“Mas a questãoéque Drosophila éum gaªnero enorme de moscas de fruta, tem mais de mil espanãcies, e a nossa pergunta foi: seráque aquele evento que observamos − a fusão dos genes do Y ao autossomo − pode ter acontecido mais vezes na história evolutiva das moscas?”, questiona Eduardo.

Os pesquisadores, então, ampliaram a amostra para o expressivo número de 400 espanãcies. Usando PCR osuma técnica simples e de baixo custo de biologia molecular, usada na maioria dos laboratórios –, eles analisaram o material genanãtico das 400 diferentes espanãcies de mosquinhas em busca de nove genes conhecidos do cromossomo Y de duas moscas de fruta com genoma sequenciado. A pergunta refeita 400 vezes: esses genes estavam no cromossomo Y ou no autossomo X?

E os pesquisadores encontraram outros casos em que os genes que deveriam estar no Y estavam fora do Y? “A resposta ésim, a gente encontrou mais um evento, em um grande grupo de espanãcies asia¡ticas, do subgrupo montion, no qual todos os genes não estãono cromossomo Y, mas em outro cromossomo”, diz Eduardo. No total, 13% das espanãcies amostradas (52 de 400) possuem um cromossomo Y incorporado: onde a maioria dos genes osantes presentes apenas em machos ospassa a estar presente em ambos os sexos. O pra³ximo passo dos pesquisadores éentender melhor as consequaªncias dessa mudança nos genes e em qual cromossomo eles foram parar.

A pesquisa mostra hoje, em 2019, que, diferentemente do observado em humanos e outros mama­feros, o cromossomo Y pode evoluir de forma mais dina¢mica do que se acreditava. “O que podemos afirmar éque a evolução do Y vista nas drosãofilas não éigual a que se observa em mama­feros, erroneamente assumida como se fosse a evolução de todos os cromossomos Y. O que estamos vendo claramente éque, estudando mais a fundo diferentes Y, em diferentes gêneros de animais, a gente estãodescobrindo novos caminhos e novas histórias, com novas tramas e dina¢micas”, finaliza o cientista.

 

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