As vacinas anuais contra a gripe podem se tornar uma coisa do passado com uma nova estratégia de vacina desenvolvida e testada pelo virologista Eric Weaver, da Universidade de Nebraska-Lincoln, e sua equipe de laboratório.

Resultados de pesquisa publicados na Nature Communications revelam um possível avanço. O estudo, "Vacina otimizada por epítopo proporciona imunidade entre espécies contra o vírus da influenza A", descreve uma vacina que protege contra a gripe suína H1N1 e também pode proteger contra a gripe em humanos e aves.

"Esta pesquisa prepara o terreno para o desenvolvimento de vacinas universais contra a gripe, para que as pessoas não precisem ir ao médico e tomar vacina contra a gripe todos os anos", disse Weaver. "Esta vacina protegerá contra as diferentes cepas existentes."

Os suínos vacinados com os imunógenos desenvolvidos no laboratório de Weaver não apresentaram sinais de doença após serem expostos a uma cepa de gripe de circulação comum; desenvolveram anticorpos contra uma infinidade de vírus de várias décadas e de múltiplas espécies; e mantiveram sua resposta imunológica durante todo o estudo longitudinal de seis meses .

A análise de regressão pós-experimento indicou que a imunidade não se dissiparia por uma década, disse Weaver.

A vacina Epigraph, nomeada em homenagem ao software de computador usado para projetá-la, superou significativamente uma vacina comercial usada pela indústria suína e uma vacina "selvagem" baseada em cepas naturais com imunógenos semelhantes.

Os resultados recém-publicados confirmam pesquisas anteriores que demonstraram que o design da vacina protegeu contra o subtipo H3 da gripe. Os novos resultados são particularmente encorajadores, disse Weaver, porque as variantes H1 da gripe suína são detectadas duas vezes mais frequentemente que as variantes H3 — e têm quase três vezes mais diversidade genética.

"Este subtipo H1 é o maior e mais diverso geneticamente em suínos", disse Weaver. "Também está entre os vírus que passaram dos suínos para os humanos, causando a pandemia de gripe suína de 2009. É um alvo grande e um dos mais difíceis de atingir."

O vírus influenza A infecta regularmente até 15% da população humana e causa milhares de mortes a cada ano. As vacinas atuais frequentemente não oferecem proteção duradoura devido à diversidade genética e à rápida mutação das proteínas que ajudam a formar o vírus. Os subtipos H1 e H3, por exemplo, refletem diferentes mutações da hemaglutinina, as moléculas de proteína e carboidrato que revestem a superfície do vírus e permitem que ele se infiltre nas células do corpo.

Outro desafio no controle da gripe é que ela infecta diversas espécies: aves, suínos, cavalos e cães, além de humanos. Os suínos frequentemente atuam como um veículo de mistura, pois são suscetíveis às variantes da gripe humana e aviária, contribuindo para a evolução de novas formas da doença que podem ser transmitidas de volta aos humanos.

A pandemia de gripe suína de 2009, por exemplo, resultou de uma transmissão zoonótica de suínos para humanos. Cerca de 25% da população humana foi infectada com a nova variante e mais de meio milhão de pessoas morreram por causa dela no primeiro ano, segundo algumas estimativas. As pandemias de gripe espanhola de 1918, gripe asiática de 1957 e gripe de Hong Kong de 1968 também resultaram da transmissão entre espécies para humanos.

A estratégia de vacina de Weaver, que foi patenteada, usou o software Epigraph para analisar os códigos genéticos de mais de 6.000 cepas do vírus da gripe ocorridas entre 1930 e 2021 e criar um coquetel de vacinas representando seus epítopos mais comuns.

Epítopos são regiões de um vírus que ativam o sistema imunológico para produzir anticorpos para neutralizá-lo e enviar células T para destruir as células infectadas. À medida que o vírus evolui, alguns epítopos desaparecem, evitando assim a resposta imune. A estratégia Epigraph, derivada computacionalmente, aumenta a probabilidade de a vacina conter os epítopos necessários para desencadear uma resposta imune e prevenir doenças.

A análise de dados mostrou que as vacinas forneceram proteção contra variedades de influenza humana que surgiram nos últimos 20 anos e para variedades de influenza suína que surgiram no século passado.

"Isso é algo incrivelmente poderoso", disse Weaver. "O objetivo final seria ter um impacto significativo na carga de doenças em nossa sociedade."

Weaver disse acreditar que a ciência das vacinas está à beira de um grande salto à frente, em parte graças às melhorias na tecnologia de sequenciamento genético e nos bancos de dados.

"Nossa capacidade de entender como os vírus evoluem aumentou exponencialmente nos últimos 20 anos", disse ele. "O que vejo no horizonte é uma terceira onda, na qual passaremos de boas vacinas para vacinas universais para toda a vida."

No estudo com suínos, quatro grupos de cinco porcos foram vacinados com vacinas Epigraph, selvagens, comerciais ou simuladas.

Os anticorpos funcionais foram medidos contra quatro subtipos da gripe suína, incluindo a variante da pandemia de gripe suína de 2009, duas cepas humanas representativas do vírus H1N1 da pandemia de 2009 e uma cepa representativa da gripe aviária. Os suínos vacinados com Epigraph atingiram níveis limiares de imunidade para todas as 12 cepas testadas, enquanto os suínos vacinados com o tipo selvagem demonstraram imunidade contra oito das 12 cepas.

Os suínos vacinados comercialmente apresentaram respostas de anticorpos três a cinco vezes menores do que as observadas nos suínos vacinados com Epigraph e com o tipo selvagem, atingindo níveis limiares em apenas seis das 12 cepas testadas. Importante ressaltar que o estudo em suínos também mostrou que a vacina Epigraph induziu respostas de células T significativamente maiores.

Os próximos passos incluem testar uma vacina para proteger contra as cepas H1 e H3 da gripe . Weaver espera, eventualmente, firmar uma parceria com uma empresa de biotecnologia para desenvolver uma vacina humana. Embora os resultados até agora tenham sido satisfatórios, Weaver disse estar ansioso para ver se outros cientistas confirmam seus resultados.

"Fazemos os controles mais rigorosos possíveis porque queremos ter certeza absoluta — e não tenho dúvidas de que esta vacina é melhor do que as vacinas atuais", disse ele.