Cardiologista e pesquisador esclarece os impactos do colesterol na saúde do coração e aponta caminhos para um estilo de vida mais saudável.

No dia 8 de agosto, é celebrado o Dia Nacional do Combate ao Colesterol – uma data que relembra o alerta à comunidade sobre os riscos do colesterol alto. De acordo com dados da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), a condição afeta aproximadamente 40% da população adulta no Brasil e cerca de 20% de crianças e adolescentes.
Apesar de ser essencial para o funcionamento do organismo, o colesterol em excesso está diretamente ligado ao desenvolvimento de doenças cardiovasculares, responsáveis pelo óbito de 360 mil brasileiros todos os anos, de acordo com o Ministério da Saúde. Além disso, fatores como má alimentação, sedentarismo e falta de acesso a exames e acompanhamento médico dificultam a prevenção e o controle do problema.
O debate sobre colesterol vai além da saúde individual: trata-se de um desafio coletivo, que envolve políticas públicas, educação em saúde e mudanças no estilo de vida da população. Para entender os impactos dessa condição e os caminhos possíveis de enfrentamento, conversamos com o professor do Departamento de Medicina Clínica da Universidade Federal Fluminense (UFF) e coordenador do Laboratório de Biomarcadores Cardiovasculares (Biomark Lab UFF), Humberto Villacorta.
O que é o colesterol e por que ele é essencial — mas também perigoso em excesso?
O colesterol é uma substância cerosa encontrada em todas as células do corpo, sendo um componente importante das membranas celulares, ajudando na sua integridade e fluidez. É essencial para a produção de hormônios, vitamina D e bile, que ajudam na digestão. No entanto, em excesso, ele pode se acumular nas artérias, contribuindo para doenças cardiovasculares, como infarto e AVC.
Qual é a diferença entre o colesterol bom (HDL) e o colesterol ruim (LDL)?
O HDL (lipoproteína de alta densidade) é conhecido como colesterol bom porque ajuda a remover o excesso de colesterol das artérias, transportando-o de volta ao fígado. O LDL (lipoproteína de baixa densidade), por outro lado, é considerado colesterol ruim, pois pode levar ao acúmulo de placas nas artérias, aumentando o risco de problemas cardíacos.
O colesterol alto tem sintomas perceptíveis ou é uma condição silenciosa?
O colesterol alto geralmente não causa sintomas perceptíveis, o que o torna uma condição silenciosa. Muitas pessoas só descobrem que têm níveis altos de colesterol ao fazer exames de rotina.
Quais são as doenças mais comuns associadas ao colesterol alto, e como elas se manifestam?
As doenças mais comuns são resultados da doença aterosclerótica (acúmulo de placas nas artérias), que podem causar infarto do miocárdio, AVC e doenças cardíacas. Os sintomas podem incluir dor no peito (no caso do infarto), falta de ar até fadiga inexplicável(insuficiência cardíaca) ou sintomas neurológicos, como perda de força muscular, alteração da fala (AVC).
Quais hábitos alimentares mais contribuem para o aumento do colesterol?
Dietas ricas em gorduras saturadas e trans, encontradas em carnes processadas, frituras, produtos lácteos integrais e alimentos ultraprocessados, são os principais vilões. O consumo excessivo de açúcares e carboidratos refinados também pode piorar a situação.

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Como o estilo de vida moderno, com estresse e sedentarismo, impacta a saúde cardiovascular?
O estresse crônico e o sedentarismo podem levar ao aumento da pressão arterial, ganho de peso e alterações nos níveis de colesterol. A falta de atividade física reduz o HDL e promove o LDL, aumentando o risco de doenças cardiovasculares.
Existe uma faixa etária em que o cuidado com o colesterol deve ser redobrado?
O cuidado com o colesterol deve ser redobrado a partir dos 20 anos, especialmente em pessoas com histórico familiar de doenças cardíacas. Aumenta a preocupação em pessoas acima de 40 anos, onde os riscos tendem a aumentar. Em crianças, recomenda-se uma primeira dosagem entre 9 e 11 anos de idade, principalmente naquelas com história de colesterol alto familiar (hipercolesterolemia familiar), obesidade ou diabetes.
Quais mudanças simples na rotina podem ajudar a manter os níveis de colesterol sob controle?
Adotar uma dieta saudável com mais frutas, vegetais, grãos integrais e gorduras saudáveis; praticar exercícios regularmente; evitar fumar; e moderar o consumo de álcool são mudanças eficazes. Além disso, fazer exames de rotina pode ajudar a monitorar os níveis de colesterol.
Humberto Villacorta Junior é Professor Associado da Disciplina de Cardiologia da Universidade Federal Fluminense, atuando na graduação e na pós-graduação, nas áreas de ensino, pesquisa e extensão. É Chefe da Disciplina de Cardiologia desde Outubro de 2021. Possui graduação em Medicina pela Universidade Federal do Pará (1987), Mestrado em Ciências Cardiovasculares pela Universidade Federal Fluminense (1998) e Doutorado em Cardiologia pela Universidade de São Paulo (2002). Atua na área de Cardiologia, com experiência em Insuficiência Cardíaca, com foco em biomarcadores, bioimpedância vetorial (BIVA), insuficiência cardíaca descompensada. Membro do Grupo Internacional de Pesquisadores MLB (Machine Learning and Biomarkers), com pesquisas em COVID-19, Embolia Pulmonar e IC aguda. Presta consultoria na área de Biomarcadores, Insuficiência Cardíaca e análise de dados em Medicina.