Escribas controlados por IA que registram visitas de pacientes e elaboram notas clínicas para revisão médica levaram a reduções significativas no esgotamento dos médicos e melhorias no bem-estar, de acordo com um estudo do Mass General Brigham de dois grandes sistemas de saúde.

As descobertas, publicadas no  JAMA Network Open , baseiam-se em pesquisas com mais de 1.400 médicos e profissionais de prática avançada do Mass General Brigham, afiliado a Harvard, e do Emory Healthcare, de Atlanta.

Na MGB, o uso de tecnologias de documentação ambiental foi associado a uma redução absoluta de 21,2% na prevalência de burnout em 84 dias, enquanto a Emory Healthcare viu um aumento absoluto de 30,7% no bem-estar relacionado à documentação em 60 dias.

“A tecnologia de documentação ambiental foi verdadeiramente transformadora, libertando os médicos de seus teclados para uma interação mais presencial com seus pacientes”, disse a coautora sênior do estudo, Rebecca Mishuris , diretora de informações médicas da MGB, docente da Harvard Medical School e médica de atenção primária no sistema de saúde. “Nossos médicos nos dizem que recuperaram suas noites e fins de semana de trabalho e redescobriram a alegria de praticar medicina. Literalmente, não há nenhuma outra intervenção em nossa área que tenha um impacto tão grande no esgotamento.”

O esgotamento profissional afeta mais de 50% dos médicos nos EUA e tem sido associado ao tempo gasto em prontuários eletrônicos, principalmente após o expediente. Há evidências adicionais de que o  peso e a expectativa de precisar preencher suas anotações de consulta  também contribuem significativamente para o esgotamento profissional.

“O esgotamento profissional afeta negativamente tanto os profissionais de saúde quanto seus pacientes, que enfrentam maiores riscos à sua segurança e ao acesso ao atendimento”, afirmou Lisa Rotenstein , coautora sênior do estudo e diretora do Centro de Experiência Médica e Excelência na Prática do Brigham and Women's Hospital. Ela também é professora clínica assistente de medicina na Faculdade de Medicina da UCSF. “Este é um problema que hospitais em todo o país buscam resolver, e a documentação ambiental oferece uma tecnologia escalável que merece um estudo mais aprofundado.”

 

O feedback qualitativo dos usuários destacou que a documentação ambiental possibilitou maior "contato com pacientes e familiares", melhorias em sua "alegria na prática", ao mesmo tempo em que reconheceu seu potencial para "mudar fundamentalmente a experiência de ser médico". No entanto, alguns usuários sentiram que ela aumentava o tempo gasto na escrita de anotações ou tinha menos utilidade para determinados tipos de consultas ou especialidades médicas. Desde o início dos estudos piloto, as tecnologias de IA evoluíram à medida que os fornecedores fazem alterações com base no feedback dos usuários, e os grandes modelos de linguagem que impulsionam as tecnologias se aprimoram por meio de treinamento adicional, justificando estudos contínuos.

Os pesquisadores analisaram dados de pesquisas com usuários piloto de tecnologias de documentação ambiental em dois grandes sistemas de saúde. No Mass General Brigham, 873 médicos e profissionais de prática avançada responderam a pesquisas antes da inscrição, após 42 e 84 dias. Cerca de 30% dos usuários responderam às pesquisas após 42 dias e 22% após 84 dias. Todos os 557 usuários piloto da Emory foram entrevistados antes dos pilotos e após 60 dias de uso, com uma taxa de resposta de 11%. Os pesquisadores analisaram os resultados da pesquisa quantificando diferentes medidas de burnout no Mass General Brigham e de bem-estar dos médicos na Emory Healthcare.

Os autores do estudo acrescentaram que, como esses eram usuários piloto e havia taxas limitadas de resposta à pesquisa, as descobertas provavelmente representam a experiência de usuários mais entusiasmados, e mais pesquisas são necessárias para rastrear o uso clínico da documentação ambiental em um grupo mais amplo de provedores.

O programa de documentação ambiental do Mass General Brigham foi lançado em julho de 2023 como um estudo piloto de prova de conceito envolvendo 18 médicos. Em julho de 2024, o piloto, que testou duas tecnologias diferentes de documentação ambiental, expandiu-se para mais de 800 profissionais. Em abril de 2025, as tecnologias foram disponibilizadas a todos os médicos do Mass General Brigham, com mais de 3.000 profissionais utilizando as ferramentas rotineiramente. Ainda este ano, o programa buscará expandir-se para outros profissionais de saúde, como enfermeiros, fisioterapeutas e terapeutas ocupacionais, e fonoaudiólogos.  

“A tecnologia de documentação ambiental oferece um avanço na área da saúde e novas ferramentas que podem impactar positivamente nossas equipes clínicas”, disse Jacqueline You , principal autora do estudo, líder clínica digital e médica associada de atenção primária no Mass General Brigham. “Embora as histórias de profissionais de saúde que conseguem ligar para mais pacientes ou ir para casa brincar com seus filhos sem precisar se preocupar com anotações sejam impactantes, acreditamos que os dados sobre burnout falam da mesma forma sobre a promessa dessas tecnologias e a importância de continuar a estudá-las.”

O uso da documentação ambiental continuará a ser estudado com pesquisas e outras medidas que monitorem as taxas de burnout e o tempo gasto em anotações clínicas dentro e fora do horário de trabalho. Os pesquisadores avaliarão se as taxas de burnout melhoram ao longo do tempo, à medida que a IA evolui, ou se esse burnout se estabiliza ou se reverte.

Este projeto recebeu apoio financeiro da Physician's Foundation e da National Library of Medicine dos National Institutes of Health.