Doena§as crônicas fara£o brasileiros de baixa renda os mais afetados pela covid-19
Projea§a£o éde relatório produzido pela economista Laura Carvalho; na outra via, professora Marta Arretche alerta que pandemia fara¡ pobreza aumentar já no curto prazo
O estudo foi produzido com dados de 2013 da Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) do
IBGE. Foto: Vinson Tan osPixabay
Baixa escolaridade e desigualdades sociais são determinantes para elevação da taxa de transmissão e severidade da covid-19 no Brasil e, e em face dessa condição, seria necessa¡rio pensar em políticas sensaveis voltadas exclusivamente para a população em estado de vulnerabilidade. a‰ o que sugere relatório produzido pela professora Laura Carvalho, do Departamento de Economia da Faculdade de Economia, Administração, Contabilidade e Atua¡ria (FEA) da USP, em parceria com outras duas pesquisadoras, Luiza Nassif Pires, da Levy Economics Institute (LEI) e Laura de Lima Xavier, da Harvard Medical School (HMS). O estudo foi elaborado a partir de dados de 2013 da Pesquisa Nacional de Saúde (PNS), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatastica (IBGE).
Além dos dados da PNS, Laura Carvalho também se baseou no estudo norte-americano We need class, race, and gender sensitives policies to fight the covid-19 crises, de autoria das pesquisadoras da HMS e da LEI, entre outros, e que mostra que a covid-19 e a severidade dos casos foram maiores na população de baixa renda. Com base nesses materiais, a professora da FEA fez uma estimativa da proporção de brasileiros que se enquadrariam no grupo de risco para covid-19. “Além de estarem mais sujeitos a contaminação, os mais pobres estãodesenvolvendo quadros mais graves da doena§aâ€, disse a professora ao Jornal da USP. O trabalho norte-americano também sugere que uma das explicações para essa desproporção seja a maior incidaªncia de doenças crônicas associadas aos casos mais graves da covid-19.
Gra¡fico da proporção da população em risco de contaminação pela Covid-19 por grau
de escolaridade. Foto: Relata³rio de pesquisa dados PNS (IBGE/2013)
Nesse contexto, considerando pessoas com idade acima de 60 anos, diagnosticados com diabetes, hipertensão arterial, problemas cardaacos e respirata³rios e insuficiência renal crônica, a PNS apontou que 42% da população se encontrava em 2013 em algum grupo de risco. Esse percentual se elevava quando se levou em conta onívelde escolaridade dos entrevistados: 54% para os que declararam ter frequentado apenas o ensino fundamental; 28% para os que disseram ter o ensino manãdio e 34% para os com ensino superior ou pós-graduação. As comorbidades também atingiram em maior proporção os brasileiros que frequentaram o ensino fundamental: 42%, contra 33% para os demais grupos.
Desigualdades de acesso aos sistemas de saúde
Para a pesquisadora brasileira, tais evidaªncias preocupam ainda mais pelas desigualdades de acesso aos sistemas de saúde. Os dados da PNS indicaram que, entre os 20% mais pobres, 94% não tinham plano de saúde, embora 10,9% se autoavaliassem com saúde regular, ruim ou muito ruim. Entre os 20% mais ricos, esses andices eram de 35,7% e 2,2%, respectivamente. O número disponavel de leitos de Unidade de Tratamento Intensivo era quase cinco vezes inferior para os usuários do Sistema ašnico de Saúde (SUS) os1,04 leito por 10 mil habitantes osdo que para quem tem acesso a rede privada os4,84 leitos por 10 mil habitantes.
Diante desse quadro que mostra evidaªncias de que a pandemia pode atingir de maneira desigual pessoas mais vulnera¡veis, a pesquisadora brasileira defende que sejam pensadas políticas públicas especaficas para esse grupo. Nesse sentido, Laura Carvalho recomenda que a renda ba¡sica aprovada recentemente no Congresso Nacional seja liberada o mais rapidamente possível para garantir a população algum meio de subsistaªncia – e a possibilidade de permanecer em casa com menos risco de ser infectada pela covid-19. Além dessa proposta, Laura Carvalho também éfavora¡vel a realocação de leitos do sistema privado de saúde e destinação maior de recursos para o SUS.
Epidemias como motor de mais desigualdade
Nãoésão a desigualdade que afeta a o modo como uma epidemia ésentida. Uma epidemia de grandes proporções pode deixar marcas socioecona´micas profundas, influenciando a dina¢mica de distribuição de renda nos locais afetados. No último dia 2, a professora Marta Arretche, do Departamento de Ciência Polatica da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP falou sobre este tema em um semina¡rio online promovido por Lorena Barberia, também professora da FFLCH.
Conforme explicou Marta Arretche, cada epidemia se espalha de maneira distinta, e esse éo primeiro fator que determina seu impacto socioecona´mico. “Uma epidemia em que todos são igualmente atingidos (ricos e pobres), como éo caso das ocorridas na Idade Manãdia, aumenta-se a pobreza, mas se reduz a desigualdade. Já quando são os mais pobres são impactados, a desigualdade aumenta.â€
Outro ponto importante éo impacto na capacidade produtiva de cadapaís. Por causa do número de pessoas que acabam mortas ou doentes, as epidemias costumam ter como consequaªncia o aumento da escassez da força de trabalho, mas não necessariamente diminuem a capacidade produtiva das empresas. Quando isso acontece, um cena¡rio possível éque os trabalhadores possam negociar melhores sala¡rios, bem como a regulação das condições de trabalho.
A professora explica que essa éuma condição necessa¡ria para redução de desigualdade, mas sozinha não ésuficiente osoutros fatores também precisam ser observados no modo como cada regia£o éimpactada. A peste negra, por exemplo, fez com que a renda do trabalho crescesse na Europa Ocidental, mas não na Europa Oriental.
Quanto a pandemia atual, causada pela disseminação do novo coronavarus, ainda émuito cedo para saber qual seráseu impacto na desigualdade no Brasil e no mundo. Poranãm, uma consequaªncia certa éo aumento da pobreza já no curto prazo. O isolamento social, apesar de necessa¡rio, tem um papel direto nisso, uma vez que seus efeitos estãocondicionados a desigualdade pré-existente. Por isso, favorecem as pessoas que possuem empregos formais e podem trabalhar remotamente, que possuem reservas de emergaªncia, e que moram em residaªncias de baixa densidade e com acesso a TV e internet. Os demais acabam sofrendo um impacto muito mais duro.
“No cena¡rio atual, causa muita preocupação a velocidade que a pobreza extrema vai aumentar como resultado imediato das estratanãgias de isolamento social, em comparação a velocidade com que os governos tomara£o medidas em relação a issoâ€, comentou a pesquisadora.
Para conferir o semina¡rio na antegra, acesse o vadeo no YouTube.
Mais informações: e-mail lcarvalho@usp.br, com Laura Carvalho ou pelos telefones (11) 3091-6054/6070