Saúde

A saúde mental e a pesquisa do cérebro devem ser uma prioridade mais alta na resposta global para combater a pandemia de COVID-19
Um novo estudo destaca uma necessidade urgente de combater os impactos nocivos da pandemia de COVID-19 na saúde mental e potencialmente no cérebro e exige que a pesquisa nessas áreas seja central para a resposta global a  pandemia.
Por Oxford - 17/04/2020



O documento alerta que a pandemia do COVID-19 pode ter um impacto 'profundo' e 'generalizado' na saúde mental global agora e no futuro, mas uma análise recente separada mostra que, atéagora, apenas uma pequena proporção de novas publicações cienta­ficas sobre o COVID -19 tiveram impactos na saúde mental. Os autores, incluindo o professor Andy Przybylski, do Instituto de Internet de Oxford, e a professora Irene Tracey, do Departamento de Neurociências Cla­nicas de Nuffield, pedem um monitoramento mais amplo da saúde mental e melhores maneiras de proteger e tratar a doença mental - as quais exigira£o novo financiamento e melhor coordenação.

O paºblico em geral já tem preocupações substanciais sobre a saúde mental em relação a  pandemia - de acordo com uma pesquisa Ipsos MORI de 1099 membros do paºblico do Reino Unido e uma pesquisa com 2198 pessoas realizada pela instituição de caridade brita¢nica MQ, que incluiu muitas pessoas com experiência em condições de saúde mental.

Ambas as pesquisas foram realizadas no final de mara§o, as medidas de bloqueio da semana foram anunciadas, para informar o jornal Lancet Psychiatry. Eles mostraram que o paºblico tinha preocupações especa­ficas relacionadas ao COVID-19, incluindo aumento da ansiedade, medo de ficar doente mental, acesso a servia§os de saúde mental e o impacto no bem-estar mental. 

A autora do artigo, Professora Emily Holmes, do Departamento de Psicologia da Universidade de Uppsala, na Suanãcia, comentou:

“Todos estamos lidando com incertezas sem precedentes e grandesmudanças na maneira como vivemos nossas vidas como resultado da pandemia de coronava­rus. Nossas pesquisas mostram que essasmudanças já estãotendo um impacto considera¡vel em nossa saúde mental.

“Os governos devem encontrar formas baseadas em evidaªncias para aumentar a resiliencia de nossas sociedades e encontrar maneiras de tratar remotamente aqueles com problemas de saúde mental para sair dessa pandemia de boa saúde mental.

“A equipe médica da linha de frente e os grupos vulnera¡veis, como idosos e pessoas com sanãrias condições de saúde mental, devem ser priorizados para um rápido apoio a  saúde mental.”

O documento pede um monitoramento "momento a momento" da ansiedade, depressão, auto-mutilação, suica­dio, além de outros problemas de saúde mental no Reino Unido e na população global. Tambanãm exige a rápida implantação de programas e tratamentos baseados em evidaªncias, que podem ser acessados ​​por computador, telefone celular ou outras formas remotas, para tratar condições de saúde mental e aumentar a resiliencia para manter as pessoas mentalmente sauda¡veis.

24 especialistas em saúde mental, incluindo neurocientistas, psiquiatras, psica³logos, especialistas em saúde pública e aqueles com experiência vivida de uma condição de saúde mental, se reuniram para criar o roteiro que épublicado hoje. O grupo de especialistas foi estabelecido e apoiado pela Academia de Ciências Manãdicas e pela instituição de caridade MQ.

O professor Matthew Hotopf CBE FMedSci, vice-diretor de pesquisa do Instituto de Psiquiatria e Neurociaªncia do King's College London e diretor do Centro de Pesquisa Biomédica NIHR Maudsley e um dos autores do artigo, disse:

“Este artigo nos fornece um roteiro de pesquisa para ajudar a proteger nossa saúde mental neste momento incrivelmente difa­cil e no futuro.

“Estamos pedindo monitoramento em tempo real da saúde mental da população para desenvolver tratamentos eficazes. Isso precisa estar em uma escala maior do que já vimos anteriormente e deve ser coordenado, direcionado e abrangente para nos dar uma imagem baseada em evidaªncias do que realmente estãoacontecendo nas sociedades ao redor do mundo.

“Saber o que estãoacontecendo em tempo real nos permitira¡ responder, criando maneiras mais amiga¡veis ​​e eficazes de promover uma boa saúde mental enquanto as pessoas estãoem suas casas. Acima de tudo, poranãm, queremos enfatizar que todas as novas intervenções devem ser informadas por pesquisas de primeira linha para garantir que funcionem. ”

O artigo enfatiza que não havera¡ uma abordagem única para nos manter mentalmente sauda¡veis ​​- e quaisquer novas abordagens precisara£o ser adaptadas a grupos específicos de pessoas, como a equipe de atendimento médico e social da linha de frente. Tambanãm exige pesquisa para entender o que torna as pessoas resilientes diante da crise e ações para construir resiliencia na sociedade - seja apoiando as pessoas a dormirem bem, sejam fisicamente ativas ou realizem atividades que melhorem sua saúde mental. As pesquisas mostraram que muitas pessoas já haviam iniciado atividades para melhorar sua saúde mental, como priorizar o tempo com a fama­lia, permanecer conectado, conectar-se a  natureza e fazer exerca­cios.

A autora do estudo, Kate King MBE, consultora de experiências vividas no The Mental Health Act Review 2018, tem experiência pessoal de depressão grave e disse:

“Nãoésurpreendente que as preocupações relatadas em nossas pesquisas relacionadas a  ansiedade e isolamento ou que a comunicação social seja vista por muitos como importante no apoio a  boa saúde mental. Isso destaca a vulnerabilidade daqueles que tem pouco contato com familiares ou amigos e, principalmente, daqueles para quem os relacionamentos são abusivos.

“A era digital, apesar de todos os seus problemas, deu um presente real: as ma­dias sociais, a Internet, as reuniaµes por va­deo e telefone significam que a comunicação e a pesquisa social podem continuar de uma maneira que seria impossí­vel atévinte anos atrás.

"Estamos todos juntos nisso, portanto, neste momento, éessencial que os pesquisadores continuem ouvindo e trabalhando com pessoas com experiência vivida e viva, para ajudar aqueles que vivem com desafios de saúde mental".


O artigo observa que "quase nada ainda éconhecido com certeza sobre o impacto do COVID-19 no sistema nervoso humano". Como foi demonstrado que outros coronava­rus passam para o sistema nervoso central, o artigo recomenda pesquisas para monitorar e entender se o COVID-19 também tem efeitos no cérebro e no sistema nervoso. Ele exige a criação de um novo banco de dados para monitorar quaisquer efeitos psicola³gicos ou cerebrais do COVID19 e a pesquisa para analisar como o va­rus pode entrar no sistema nervoso.

O autor do estudo, professor Ed Bullmore FMedSci, chefe do departamento de psiquiatria da Universidade de Cambridge, disse:

“Precisamos de uma resposta de pesquisa sem precedentes para limitar as consequaªncias negativas dessa pandemia na saúde mental de nossa sociedade, agora e no futuro.

“Para fazer uma diferença real, precisaremos aproveitar as ferramentas da nossa era digital - encontrando novas maneiras inteligentes de medir a saúde mental dos indivíduos remotamente, encontrando maneiras criativas de aumentar a resiliencia e encontrando maneiras de tratar as pessoas em suas casas. Esse esfora§o deve ser considerado central para nossa resposta global a  pandemia. ”

Sabe-se que surtos anteriores de doenças infecciosas tem um impacto na saúde mental da população; por exemplo, a epidemia de SARS foi associada a um aumento de 30% no suica­dio em mais de 65 anos e 29% dos profissionais de saúde experimentaram prova¡vel sofrimento emocional. Os autores enfatizaram que um aumento de suica­dios como resultado da pandemia do COVID-19 não era inevita¡vel, mas esse monitoramento e pesquisa são necessa¡rios com urgência. O documento insta as agaªncias de financiamento de pesquisa do Reino Unido a trabalharem com pesquisadores e pessoas com experiência nos impactos da pandemia na saúde mental, a fim de criar um 'grupo de coordenação de alto na­vel' para garantir que essas prioridades de pesquisa em ciências da saúde mental sejam abordadas com urgência. 

O professor Rory O'Connor, professor de psicologia da saúde da Universidade de Glasgow, disse: “Maior isolamento social, solida£o, ansiedade na saúde, estresse e uma crise econa´mica são uma tempestade perfeita para prejudicar a saúde mental e o bem-estar das pessoas.

“Se não fizermos nada, corremos o risco de ver um aumento nas condições de saúde mental, como ansiedade e depressão, e um aumento de comportamentos problemáticos, como dependaªncia de a¡lcool e drogas, jogos de azar, cyberbullying ou consequaªncias sociais, como falta de moradia e quebra de relacionamento.

“A escala deste problema égrave demais para ser ignorada, tanto em termos de toda vida humana que possa ser afetada, quanto em termos de um impacto mais amplo na sociedade.

“Apesar dessa situação fazer com que alguns de nosse sintam presos, isso não deve nos fazer sentir impotentes - podemos fazer a diferença se agirmos agora. Estamos pedindo aos órgãos financiadores, institutos de pesquisa e políticas que ajam agora para limitar o impacto da pandemia em todas as nossas vidas. ”

O professor Andy Przybylski, diretor de pesquisa do Instituto de Internet de Oxford da Universidade de Oxford, disse:

“Vocaª pode pensar em haver pelo menos três grupos que recebem diferentes na­veis de atenção e recursos de formuladores de políticas e criadores de agendas. Ha¡ os relativamente ricos, os que estãoem risco e os que estãoem crise.

“Com muita frequência, as duas últimas categorias são perdidas em investimentos sanãrios. Se essa crise nos leva a pensar de forma mais cra­tica e sistema¡tica sobre nossa infraestrutura de saúde mental, isso éuma coisa muito boa. O principal desafio para os dois últimos grupos tem sido consistentemente recursos. Ideias surgira£o entre os relativamente bem-sucedidos, como 'a ma­dia social estãodeprimindo as adolescentes?'.

“Debateremos coisas como esse ad nauseum, mas os estudos são mal realizados e, em seguida, o acompanhamento, em termos de recursos, estãototalmente ausente. Se leva¡ssemos a sanãrio a crise de saúde mental entre os jovens, relacionada a  ma­dia social ou não, vocêveria um movimento material em termos de garantir que os jovens tivessem acesso oportuno ao suporte cla­nico. Isso estava faltando nos tempos comuns e eu espero que essa crise destaque essa desconexa£o.”

 

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