Saúde

Dois novos va­rus identificados em pacientes brasileiros com suspeita de dengue
O estudo foi financiado pela Fundaa§a£o de Pesquisa de Sa£o Paulo - FAPESP. Os resultados são publicados na revista PLOS ONE .
Por Karina Toledo - 17/04/2020

Doma­nio paºblico

Duas novas espanãcies de va­rus foram identificadas em amostras de sangue de pacientes da regia£o norte do Brasil que apresentavam sintomas semelhantes aos da dengue ou zika, como febre alta, dor de cabea§a intensa, erupção cuta¢nea e manchas vermelhas na pele. Um pertence ao gaªnero Ambidensovirus e foi encontrado em uma amostra coletada no estado do Amapa¡. O outro pertence ao gaªnero Chapparvova­rus e foi encontrado no sangue do estado do Tocantins. O estudo foi financiado pela Fundação de Pesquisa de Sa£o Paulo - FAPESP. Os resultados são publicados na revista PLOS ONE .

"O que mais nos surpreendeu foi encontrar um ambidensova­rus em uma amostra humana. As espanãcies virais desse gaªnero foram descritas apenas em insetos, moluscos e outros invertebrados. Nunca em mama­feros", disse Antonio Charlys da Costa, pesquisador de pa³s-doutorado na Universidade de Sa£o Paulo. Faculdade de Medicina de Sa£o Paulo (FM-USP) e um dos autores do estudo.

Segundo Costa, diferentes espanãcies de Chapparvova­rus foram descritas em outros mama­feros, mas, novamente, nunca em humanos. "No entanto, ainda não sabemos se esses va­rus foram ativos nos pacientes, muito menos se causaram os sintomas", disse ele.

Para Eric Delwart, pesquisador saªnior do Vitalant Research Institute nos Estados Unidos e supervisor do projeto, os cientistas podem usar essas descobertas para investigar se novos va­rus estãopresentes em outras pessoas na regia£o ou em outras populações e se existe um risco. de divulgação.

"Atéagora, nenhuma evidência foi encontrada de que esses va­rus se espalhem ou sejam patogaªnicos", disse Delwart. "No entanto, écientificamente interessante que o ambidensova­rus tenha sido detectado em hospedeiros humanos. A descoberta mostra quanto pouco sabemos sobre a capacidade de certos va­rus infectarem diferentes tipos de células".

Delwart também enfatizou a importa¢ncia de reanalisar as amostras cla­nicas existentes em estudos epidemiola³gicos de possa­veis va­rus emergentes. No estudo discutido aqui, as amostras analisadas foram originalmente coletadas por laboratórios centrais de saúde pública (LACENs) em vários estados do Brasil, como parte de suas atividades de vigila¢ncia de rotina.

Diversidade viral

A identificação da nova espanãcie foi possí­vel graças a uma técnica conhecida como metagena´mica, que implica o seqa¼enciamento concomitante de todo o material genanãtico em uma amostra de sangue, urina, saliva ou fezes, incluindo cada um dos micróbios existentes nela. A técnica também pode ser usada, por exemplo, para estudar todas as bactanãrias e fungos no solo de uma regia£o ou mapear as diferentes espanãcies na microbiota intestinal de uma pessoa. Uma vez que todos os a¡cidos nuclanãicos de uma amostra foram extraa­dos e sequenciados, ferramentas de bioinforma¡tica são usadas para comparar os resultados com sequaªncias de genoma conhecidas descritas em bancos de dados.

Costa aprendeu a metodologia durante seu doutorado. pesquisa, enquanto ele estava em um esta¡gio no laboratório de Delwart. O supervisor no Brasil foi Ester Sabino, professor da FM-USP que chefiou o Instituto de Medicina Tropical da universidade (IMT-USP) entre 2015 e 2019.

O artigo PLOS ONE relata os resultados das análises de 781 amostras coletadas entre 2013 e 2016. Anellova­rus foram encontrados em 80% dos pacientes, enquanto 19% continham pegiva­rus humanos tipo 1 (HPgV-1). Pensa-se que nenhum dos gêneros causa patologias significativas. Em 17%, os pesquisadores detectaram o parvova­rus B19, que causa eritema infeccioso (sa­ndrome das bochechas tapa ou quinta doena§a), uma doença comum na infa¢ncia caracterizada por febre leve e erupções cuta¢neas no rosto, braa§os, pernas e tronco.

As espanãcies virais que nunca foram descritas, ambas pertencentes a  familia Parvoviridae, foram encontradas em apenas duas das amostras. As amostras de plasma foram fornecidas pelos LACENs para os estados do Amapa¡, Tocantins, Paraa­ba, Maranha£o, Mato Grosso do Sul, Piauí­ e Maranha£o.

"O estudo continua e, no total, recebemos 20.000 amostras para análise. Eles nos enviam amostras com teste negativo para dengue, zika e chikungunya. Em nosso laboratório na IMT-USP, realizamos testes moleculares para detectar outros flaviva­rus conhecidos [que causam febre amarela ou febre do Nilo Ocidental, por exemplo], alfava­rus [incluindo o va­rus Mayaro e várias espanãcies que causam encefalite] e enterova­rus [que podem causar doenças respirata³rias e sa­ndrome da ma£o-panã-boca-entre outros]. Se não encontrarmos nenhum, passamos a  análise metagena´mica ", disse Costa.

O objetivo do projeto, acrescentou, édescrever a diversidade viral encontrada no Brasil e identificar espanãcies que podem estar causando doenças em seres humanos despercebidas em meio a surtos de doenças causadas por arbova­rus.

Um estudo publicado na revista Clinical Infectious Diseases em 2019, por exemplo, relatou um surto oculto de parvova­rus B19 durante uma epidemia de dengue em 2013-14. O principal pesquisador foi o virologista Paolo Zanotto, professor da Universidade de Sa£o Paulo. O estudo foi apoiado pela FAPESP.

"Este éum caso significativo do ponto de vista da saúde pública. Se infectar mulheres gra¡vidas, o parvova­rus B19 pode causar problemas graves em seus fetos", disse Costa.

Pra³ximos passos

Mais estudos detalhados sera£o necessa¡rios para determinar se os dois novos va­rus descritos são perigosos para a saúde humana.

"Tentamos e não conseguimos infectar as culturas celulares no laboratório, porque esses va­rus não infectam o tipo de canãlula usado no experimento ou porque aspartículas virais contidas nas amostras analisadas não eram mais via¡veis. Nãosabemos ", Disse Costa.

No entanto, o grupo obteve uma segunda amostra do va­rus identificado no paciente do Tocantins (um chapparvova­rus) e agora estãodesenvolvendo um teste sorola³gico. "A ideia éverificar se esse paciente e sua familia tem anticorpos contra esse microorganismo, caso em que foram infectados no passado e produziram uma resposta contra o va­rus ", disse Costa.

 

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