Saúde

Intel de uma cla­nica ambulatorial COVID-19
O que podemos aprender das pessoas com coronava­rus que procuram atendimento em ambulata³rios?
Por Ekaterina Pesheva - 07/05/2020

Capturas de Tai / Unsplash

Desde os primeiros dias da crise do COVID-19, a literatura cienta­fica e os noticia¡rios tem dedicado muita atenção a dois grupos de pacientes - aqueles que desenvolvem doenças cra­ticas e requerem cuidados intensivos e aqueles que tem infecções silenciosas ou minimamente sintoma¡ticas.

Tais relatos negligenciaram principalmente outra categoria grande e importante de pacientes - aqueles com sintomas suficientemente preocupantes para procurar atendimento, mas não suficientemente graves para necessitar de tratamento hospitalar.

Agora, um novo relatório de pesquisadores da Harvard Medical School e da Cambridge Health Alliance afiliada a Harvard oferece insights sobre essa categoria intermedia¡ria com base em dados coletados de pessoas que se apresentam em uma cla­nica ambulatorial COVID-19 na Grande Boston.

As observações da equipe, publicadas em 20 de abril na revista  Mayo Clinic Proceedings ,  são baseadas em dados de mais de 1.000 pacientes que procuraram atendimento para doenças respirata³rias desde que o COVID-19 foi declarado pandemia em mara§o.

As descobertas oferecem uma compilação de pistas que podem ajudar os médicos a distinguir entre pacientes com infecções por COVID-19 e aqueles com outras condições que podem imitar os sintomas de COVID-19.

Essas pistas são cra­ticas porque a triagem precoce e a rápida tomada de decisaµes continuam essenciais, mesmo agora que os testes estãose tornando mais amplamente disponí­veis do que nos primeiros dias da pandemia, disse a equipe de pesquisa. Os testes continuam longe de ser universais e, mesmo quando dispona­veis, os testes ainda podem ter um tempo de resposta de um a três dias. Além disso, alguns testes rápidos de ponto de atendimento que surgiram no mercado não foram totalmente confia¡veis ​​e causaram leituras falso-negativas.

"O reconhecimento precoce e a triagem adequada são especialmente importantes, uma vez que nos primeiros dias de infecção, as pessoas infectadas com SARS-CoV-2 podem apresentar sintomas indistingua­veis de várias outras infecções virais e bacterianas agudas", disse o principal autor do estudo,  Pieter Cohen , professor associado de medicina na Harvard Medical School (HMS) e médico na Cambridge Health Alliance. "Mesmo quando os testes de diagnóstico no ponto de atendimento estãodispona­veis, dado o potencial de resultados falso-negativos, entender a história natural precoce do COVID-19 e as boas habilidades cla­nicas a  moda antiga continuara¡ sendo indispensa¡vel para o atendimento adequado".

Um entendimento detalhado da apresentação ta­pica do COVID-19 em ambiente ambulatorial também pode ajudar os médicos a determinar com que frequência o retorno aos pacientes, acrescentaram os pesquisadores. Por exemplo, aqueles que começam a desenvolver falta de ar exigem um monitoramento muito pra³ximo e acompanhamento frequente para verificar como a falta de ar estãoevoluindo e se um paciente pode estar se deteriorando e precisar ir ao hospital.

Segundo o relatório, o COVID-19 geralmente apresenta sintomas sugestivos de infecção viral, geralmente com febre baixa, tosse e fadiga e, menos comumente, com problemas gastrointestinais. A falta de ar geralmente surge alguns dias após os sintomas iniciais, torna-se mais acentuada após o esfora§o e pode envolver quedas acentuadas nos na­veis de oxigaªnio no sangue.

Entre as descobertas da equipe

A febre não éum indicador confia¡vel. Se presente, poderia se manifestar apenas com elevações moderadas de temperatura.

COVID-19 pode comea§ar com várias permutações de tosse sem febre, dor de garganta, diarreia, dor abdominal, dor de cabea§a, dores no corpo, dor nas costas e fadiga

Tambanãm pode apresentar dores corporais graves e exaustão.

Uma dica precoce confia¡vel éa perda do olfato nos primeiros dias do ini­cio da doena§a.

No COVID-19 grave, a falta de ar éum diferencial crítico de outras doenças comuns.

Quase ninguanãm, no entanto, desenvolve falta de ar, um sinal fundamental da doena§a, nos primeiros dias ou dois do ini­cio da doena§a.

A falta de ar pode aparecer quatro ou mais dias após o aparecimento de outros sintomas.
Os primeiros dias após o ini­cio da falta de ar são um período crítico que requer monitoramento pra³ximo e frequente dos pacientes atravanãs de visitas de telemedicina ou exames presenciais.

A varia¡vel mais cra­tica a ser monitorada écomo a falta de ar muda com o tempo. Os na­veis de saturação de oxigaªnio também podem ser uma pista valiosa. Os na­veis de oxigaªnio no sangue podem cair vertiginosamente com o esfora§o, mesmo em pessoas previamente sauda¡veis.

Um pequeno número de pessoas pode nunca desenvolver falta de ar, mas pode ter outros sintomas que podem indicar baixos na­veis de oxigaªnio, incluindo tontura ou queda.

A ansiedade - comum entre pacientes preocupados com sintomas virais sugestivos de COVID-19 - também pode induzir falta de ar.

a‰ fundamental distinguir entre falta de ar induzida pela ansiedade e falta de ar relacionada ao COVID-19. Existem várias maneiras de diferenciar os dois.

Principais diferenciadores

Tempo de ina­cio: a falta de ar induzida pela ansiedade ocorre rapidamente, aparentemente inesperadamente, enquanto a falta de ar da COVID-19 tende a se desenvolver gradualmente ao longo de alguns dias.

Descrição da sensação pelo paciente: Pacientes cuja falta de ar écausada por ansiedade geralmente descrevem a sensação que ocorre durante o repouso ou enquanto tenta adormecer, mas não se torna mais pronunciada com as atividades dia¡rias. Eles costumam descrever uma sensação de incapacidade de obter ar suficiente nos pulmaµes. Por outro lado, a falta de ar induzida por quedas de oxigaªnio relacionadas ao COVID-19 piora com o esfora§o fa­sico, incluindo a realização de atividades dia¡rias simples, como caminhar, subir escadas ou limpar.

A falta de ar relacionada a  ansiedade não causa quedas nos na­veis de oxigaªnio no sangue

Durante um exame cla­nico, um dispositivo comumente usado, o oxa­metro de pulso, pode ser valioso na distinção entre os dois. Preso no dedo, o dispositivo mede os na­veis de oxigaªnio no sangue e a freqa¼aªncia carda­aca em questãode segundos.

Va¡rios tipos de pneumonia - um termo geral que denota infecção nos pulmaµes - podem apresentar uma semelhança impressionante com o COVID-19. Por exemplo, os sintomas respirata³rios do COVID-19 parecem imitar de perto os sintomas causados ​​por uma condição conhecida como pneumocystis pneumonia, uma infecção pulmonar que afeta predominantemente os alvanãolos, os pequenos sacos de ar que revestem asuperfÍcie dos pulmaµes. Tanto os pacientes com COVID-19 quanto os com pneumonia por pneumocystis sofrem quedas acentuadas nos na­veis de oxigaªnio com esfora§o e falta de ar. No entanto, no caso da pneumonia por pneumocystis, a falta de ar geralmente se desenvolve insidiosamente ao longo de semanas, não em dias, como éo caso do COVID-19. Aqui, um hista³rico cuidadoso do paciente detalhando a evolução dos sintomas seria cra­tico, disseram os autores.

Da mesma forma, durante os dias iniciais da infecção, a gripe e o COVID-19 podem ter apresentações idaªnticas, mas a partir daa­ o curso das duas infecções diverge. Pessoas com gripe descomplicada raramente desenvolvem falta de ar significativa. Quando eles tem problemas para respirar, a falta de ar ésuave e permanece esta¡vel. Nas raras ocasiaµes em que a gripe causa uma pneumonia viral, os pacientes se deterioram rapidamente, nos primeiros dois a três dias. Por outro lado, pacientes com COVID-19 não comea§am a desenvolver falta de ar atévários dias após adoecerem.

Os co-pesquisadores do estudo incluem Lara Hall, Janice Johns e Alison Rapaport.

 

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