Saúde

UFF e Fiocruz publicam artigo sobre alterações psiquia¡tricas relacionadas a  COVID-19
A pesquisa étransdisciplinar e reuniu uma equipe com diferentes expertises.
Por Fernanda Nunes - 14/06/2020

Crédito da fotografia: Unplash

O novo coronava­rus trouxe ao cena¡rio cienta­fico a urgência de se criarem pesquisas capazes de discutir algumas de suas caracteri­sticas e consequaªncias. Nesse contexto, pesquisadores de Laborata³rios e Naºcleos de pesquisa da Universidade Federal Fluminense (UFF) e da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) desenvolveram em cooperação uma pesquisa transdisciplinar sobre o comprometimento do sistema nervoso central frente a  exposição ao SARS-CoV-2, o va­rus causador da COVID-19.

O artigo cienta­fico chamado “Interações psico-neuroimunoenda³crinas na COVID-19: potenciais impactos na saúde mental”, publicado na Frontiers in Immunology, objetiva discutir como o va­rus pode levar a alterações psiquia¡tricas e levantar questões que possam identificar um prognóstico em termos de saúde mental após a pandemia, considerando diferentes hipa³teses.

Participam dessa parceria a professora Priscilla Oliveira Silva Bomfim, coordenadora do Naºcleo de Pesquisa, Ensino, Divulgação e Extensão em Neurociências (NuPEDEN/UFF), Elizabeth Giestal de Araaºjo e Pablo Pandolfo, todos docentes do Programa de Pa³s-Graduação em Neurociências (PPGN/UFF) e o professor Wilson Savino, pesquisador e docente titular da Fiocruz. Tambanãm colaboram com o estudo o estudante de Medicina da UFF acaro Raony Marques dos Santos, além de Camila Saggioro de Figueiredo, doutoranda do PPGN/UFF.

A pesquisa étransdisciplinar e reuniu uma equipe com diferentes expertises. Priscilla Bomfim explica que a ideia surgiu a partir de conversas com os alunos envolvidos no estudo. “No debate sobre a COVID-19, foi observado que, apesar de já existirem muitas pesquisas sobre sua capacidade de devastação em relação ao sistema respirata³rio, haviam questões em aberto a respeito do comprometimento do sistema nervoso central. A partir dessa observação, decidimos, então, reunir os estudos já realizados a fim de despertar o olhar das pessoas para o impacto do novo coronava­rus na saúde mental”, relata.

Existe um risco verdadeiro de estarmos caminhando em direção a um prejua­zo social em grande escala, pois éprova¡vel que uma pandemia de transtornos mentais como consequaªncia da que vivemos agora acontea§a. - Priscilla Bonfim

As perguntas que fundamentam o trabalho tratam de algumas questões primordiais. Primeiramente, como o va­rus acessa o sistema nervoso, quais os danos prova¡veis a curto, manãdio e longo prazo e também as causas do comprometimento da saúde mental. A seguir, quais as consequaªncias psicológicas da COVID-19, considerando diferentes aspectos como economia, impacto do isolamento social, entre outros. Por fim, os possa­veis efeitos colaterais da COVID-19 na saúde mental após a pandemia.

“Se a população for acompanhada de perto a longo prazo, serápossí­vel gerar dados que apontem o quanto devastadora uma pandemia pode ser psicologicamente. Cientistas do mundo todo estãotrabalhando para responder essa pergunta, mas épreciso que o resultado va¡ além e chegue nas entidades competentes para guia¡-las na elaboração de políticas públicas. Ao fazer a sociedade voltar o olhar para esse tema, a pesquisa foi bem-sucedida. Assim, a ciência cumpre seu papel em prol do desenvolvimento social dopaís”, 

Priscilla Bomfim

“A abordagem transdisciplinar dessa discussão considera a relação entre alterações imunola³gicas observadas em pacientes com o coronava­rus e o possí­vel comprometimento do eixo hipota¡lamo-hipa³fise-adrenal (HPA), incluindo o desequila­brio na regulação do cortisol (horma´nio do estresse) em relação ao desenvolvimento das manifestações psiquia¡tricas observadas nas pessoas com a doena§a”, narra Priscilla.

A pesquisadora pontua que essa reflexa£o gerou mais perguntas do que respostas e que várias hipa³teses foram levantadas sobre como esse novo va­rus pode afetar a saúde mental dos indiva­duos. A sensação de insegurança gerada pelo medo de contrair a doença ou medo do desemprego, por exemplo, por si são já aciona o sistema que responde ao estresse fa­sico ou psicola³gico e acentua ou atua como gatilho para o desenvolvimento de transtornos psiquia¡tricos. Os pesquisadores levantam a possibilidade de as pessoas desenvolverem alterações psiquia¡tricas durante ou depois do isolamento social, tenham sido elas infectadas ou não.

“Existe um risco verdadeiro de estarmos caminhando em direção a um prejua­zo social em grande escala, pois éprova¡vel que uma pandemia de transtornos mentais como consequaªncia da que vivemos agora acontea§a. Nãoestamos perto do fim de tudo isso; portanto, énecessa¡rio reunir esforços para desenvolver estudos que possam mitigar essa nova crise que estãopor vir. Isso ajudara¡ a criar novas estratanãgias para outras situações cra­ticas que podem vir futuramente”, alerta a docente.

A doutoranda Camila Saggioro declara que esse trabalho, além de ser uma reflexa£o fundamental nessa pandemia da COVID-19, também confere direcionamentos para a realização de estudos clínicos e o desenvolvimento de pesquisa ba¡sica, ambos muito importantes para entender como o va­rus pode levar a danos para a saúde mental. Na pesquisa, foram discutidas também algumas ações que podem ajudar a reduzir os danos causados pelo estresse do isolamento social, sendo importante e urgente orientar a população sobre como melhorar e tentar manter a saúde mental na pandemia.

Para acaro Raony, o estudo propaµe uma reflexa£o a  luz de fatores sociais e biola³gicos determinantes para o adoecimento psa­quico diante da COVID-19. Além disso, o estudante aponta que hámuita preocupação em relação aos impactos diretos do isolamento social na economia; poranãm, pouca reflexa£o sobre os problemas econa´micos associados aos transtornos psiquia¡tricos.

“Estimativas da Organização Mundial de Saúde (OMS) mostram que são a depressão e a ansiedade possuem um impacto econa´mico global de um bilha£o de da³lares por ano. Quando se associa esses dados com o fato de que o Brasil éopaís ‘mais ansioso’ do mundo e com as evidaªncias de que o isolamento social e a COVID-19 podem desencadear ou exacerbar transtornos de ansiedade e depressão, há percepção de que são urgentes as ações que possam diminuir os impactos da pandemia na saúde mental e, consequentemente, sobre a sociedade e a economia”, destaca o estudante.

Por fim, a professora Priscilla destaca ser necessa¡rio que as autoridades deem atenção a  saúde mental dos cidada£os, para prevenir e tratar as questões dessa área adequadamente. “Se a população for acompanhada de perto a longo prazo, serápossí­vel gerar dados que apontem o quanto devastadora uma pandemia pode ser psicologicamente. Cientistas do mundo todo estãotrabalhando para responder essa pergunta, mas épreciso que o resultado va¡ além e chegue nas entidades competentes para guia¡-las na elaboração de políticas públicas. Ao fazer a sociedade voltar o olhar para esse tema, a pesquisa foi bem-sucedida. Assim, a ciência cumpre seu papel em prol do desenvolvimento social dopaís”, conclui.

 

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