Saúde

Medicamento da Unicamp reduz a ocorraªncia de tumores malignos na bexiga
Para se dimensionar a gravidade do problema, dados da OMS apontam que são em 2018 foram diagnosticados 550 mil casos novos no mundo que atingem, principalmente, pessoas idosas.
Por Katia Kishi - 19/06/2020


O nanofa¡rmaco trata-se de uma molanãcula totalmente sintanãtica produzida em
laboratório, que ao ser usado no tratamento com aplicações intramusculares
estimula o sistema imunológico para combater o tumor

Um dos tumores malignos mais comuns que aflige o sistema urina¡rio éo câncer de bexiga maºsculo não-invasivo, aquele mais superficial que não atingiu o maºsculo interno do a³rga£o. Esse tumor maligno representa 70% dos casos de doenças no trato urina¡rio e éconsiderado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como a nona neoplasia mais comum no mundo. Para se dimensionar a gravidade do problema, dados da OMS apontam que são em 2018 foram diagnosticados 550 mil casos novos no mundo que atingem, principalmente, pessoas idosas.

Hoje, o tratamento mais comum para esse tipo de câncer que não invade a camada muscular da bexiga éuma cirurgia para raspar o tumor, seguida pelo tratamento com uma vacina baseada no Bacilo Calmette-Guanãrin, mais conhecida como ONCO BCG e também usada como base da vacina de prevenção de tuberculose, para se evitar que o tumor retorne e/ ou progrida.

No entanto, segundo o professor Wagner Fa¡varo do Instituto de Biologia da Universidade Estadual de Campinas (IB Unicamp), hádois problemas nesse tratamento convencional: primeiro, que aproximadamente 70% dos pacientes que se submeteram a ele tiveram recidiva sendo forçados ao mesmo tratamento e, em casos mais graves ou de uma nova recidiva, submetidos a  retirada da bexiga seguido de quimioterapia, que tem uma taxa de falha de 80% dos casos e com efeitos colaterais.

“O tratamento émuito agressivo porque o câncer de bexiga acontece a partir, majoritariamente, da sexta década de vida. E normalmente esse paºblico tem muita comorbidade, ou seja, costumam ter mais doenças ou alterações que acontecem ao longo da vida, como hipertensão e diabetes, que impossibilitam a retirada do órgão ou, ainda por conta da comorbidade, 90% dos pacientes acabam tendo efeitos colaterais ao tratamento do ONCO BCG e sem perspectiva terapaªutica.”, explica Fa¡varo sobre o risco no tratamento convencional desse tumor.

O segundo problema para esse tipo de tratamento éa falta mundial de abastecimento de medicamentos a  base de BCG, sendo que o aºnico laboratório brasileiro que produzia, com exclusividade, esse medicamento foi interditado em 2019 pela Agência Nacional de Vigila¢ncia Sanita¡ria (Anvisa) por não cumprir requisitos técnicos de boas prática s para a produção de medicamentos.

OncoTherad: uma alternativa de tratamento

Nesse cena¡rio e após 13 anos de pesquisa com carcinogaªnese urogenital, Fa¡varo em parceria com o professor Nelson Dura¡n do Instituto de Quí­mica (IQ Unicamp) desenvolveram um novo medicamento menos agressivo chamado OncoTherad, cuja marca e patente foram protegidas pela Agência de Inovação da Unicamp para a Universidade.

Trata-se de um nanofa¡rmaco, uma molanãcula totalmente sintanãtica produzida em laboratório, que ao ser usado no tratamento com aplicações intramusculares estimula o sistema imunológico para combater o tumor, com uma taxa de sucesso de 88,5% para animais e 80% em seres humanos, conforme detalhou o docente sobre o desenvolvimento e resultados do medicamento.

“Na³s comea§amos todo o desenvolvimento em animais (camundongo, ratos e coelhos). Depois, evolua­mos para um ensaio cla­nico veterina¡rio em ca£es que apresentaram espontaneamente câncer de bexiga. Vale ressaltar que o tratamento de câncer de bexiga para o ca£o éterra­vel e muito restrito, com uma sobrevida por volta de 161 dias com o tratamento tradicional. Na³s tratamos mais de 30 ca£es com 88,5% de redução tumoral de animais que estãovivos hámais de 542 dias. a‰ um ganho muito grande em termos de sobrevida e qualidade de vida desses animais.”, detalha Fa¡varo.

Apa³s os resultados positivos em animais e com a autorização da comissão de anãtica da Unicamp, os ensaios clínicos evolua­ram para pessoas cujo tratamento tradicional falhou e estavam sem perspectiva terapaªutica. “Temos 30 pacientes que estamos acompanhando hádois anos. Desses 30 pacientes, tivemos uma taxa de sucesso de 80%. Ou seja, tivemos 24 pacientes que o tumor não voltou e 6 pacientes que tiveram recidiva. No entanto, nos casos que recidivaram, constatamos recidiva em um grau muito menor do que quando esses pacientes começam o tratamento com o OncoTherad.”, comemora Fa¡varo com os resultados obtidos.

O ensaio cla­nico aconteceu em parceria com o Hospital Municipal de Paula­nia, interior de Sa£o Paulo, onde háo Ambulata³rio de Urologia e Imunoterapia, visto que o medicamento se enquadra na categoria de imunoterapia ao estimular o sistema imunológico.

Novas etapas para o medicamento ir para o mercado

A próxima etapa para se ter a autorização da Anvisa e da Food and Drug Administration (FDA), órgãos reguladores no Brasil e nos Estados Unidos respectivamente, que garantem a segurança e eficácia do medicamento para poder ir para o mercado são os resultados de ensaios clínicos multicaªntrico multinacional.

Isso significa que o mesmo protocolo utilizado com os pacientes do Hospital Municipal de Paula­nia deve ser aplicado em outros centros dentro e fora do Brasil. Para prosseguir com esses ensaios, os pesquisadores fundaram uma empresa spin-off da Unicamp chamada CND Pharma, que em 2019 licenciou a patente e a marca do OncoTherad para produção do medicamento para uso veterina¡rio e humano.

“Agora, junto com a empresa, vai haver um escalonamento da produção do medicamento para que se possa ter o volume necessa¡rio para aplicação tanto no campo veterina¡rio quanto no campo humano. Sa³ assim, serápossí­vel prosseguir com o ensaio cla­nico multicaªntrico.”, comenta o pesquisador sobre a nova fase antes de se ter a autorização dos órgãos reguladores que possibilitara£o a chegada do nanofa¡rmaco ao mercado nacional e internacional.

 

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