Medicamentos são recomendados apenas para casos graves; metade das diretrizes mais relevantes não aborda risco de suicadio
Maioria das diretrizes clanicas para o tratamento da depressão indica o uso de
psicoterapia como primeira opção, são recomendando o uso de medicação em
depressaµes moderadas e graves; diretrizes auxiliam profissionais de saúde nas
decisaµes sobre o cuidado apropriado osImagem: Peggy und
Marco Lachmann-Anke osPixabay
As diretrizes clanicas para o uso de medicamentos no tratamento da depressão são analisadas em pesquisa da Faculdade de Ciências Farmacaªuticas (FCF) da USP. O estudo mostra que a maioria das diretrizes indica a psicoterapia como primeira opção, são recomendando o uso de medicação em depressaµes moderadas e graves. A pesquisa revela que apesar da depressão ser considerada o principal fator para o risco de suicadio, e este estar presente nas primeiras semanas de tratamento com antidepressivos, somente 50% das diretrizes clanicas mais relevantes abordam a questãodiretamente, o que aponta uma lacuna em sua estratanãgia de implementação.
A pesquisa traz uma revisão das diretrizes para o tratamento farmacola³gico da depressão, produzidas por diversas instituições de saúde em todo o mundo, e que podem ser adaptadas para o contexto de cadapaís por instituições locais, seguindo critanãrios internacionais de validação. No Brasil, também existem as diretrizes da Associação Manãdica Brasileira (AMB).
“A pesquisa comparou as recomendações de diretrizes clanicas mais relevantes para o tratamento farmacola³gico da depressão, elaborando recomendações que possam facilitar processos locais de adaptaçãoâ€, afirma a pesquisadora Franciele Cordeiro Gabriel, que realizou o estudo. “As diretrizes clanicas, quando são bem elaboradas, ou seja, desenvolvidas com transparaªncia e de forma sistema¡tica, auxiliam os profissionais da saúde nas decisaµes sobre o cuidado apropriado, com base nas melhores evidaªncias para questões clanicas especaficas.â€
Variações entre diretrizes clanicas são motivadas por variações culturais entrepaíses,
estrutura disponavel para atenção da saúde, valores das instituições responsa¡veis
pelas diretrizes e custo das intervenções osImagem: Gerd Altmann osPixabay
Segundo Franciele, a maioria das diretrizes clanicas recomenda a psicoterapia como primeira opção, são então recomendando o uso de medicamentos para depressaµes moderadas e graves. “Como opção de primeira linha de tratamento farmacola³gico, as diretrizes clanicas recomendam os inibidores seletivos de recaptação de serotonina (ISRS)â€, ressalta. “A decisão de apoiar determinada recomendação pela diretriz clanica pode variar de acordo com o contexto de saúde em que o paciente estãoinserido.â€
A formulação das recomendações, bem como parte das variações entre diretrizes clanicas, éexplicada por uma sanãrie de fatores, aponta a pesquisadora. “As diferenças são motivadas por variações culturais entrepaíses, estrutura disponavel para atenção a saúde, valores das instituições ou organizações responsa¡veis pela elaboração das diretrizes clanicas e valores dos pacientes, bem como o custo das intervençõesâ€, enumera.
Tratamento
A maioria das diretrizes clanicas para depressão concorda com a indicação de psicoterapia em conjunto com fa¡rmacos antidepressivos para tratamento da depressão grave, tendo a indicação de fa¡rmacos ISRS como opção de primeira linha de tratamento. “Já o uso de antipsica³ticos como estratanãgia de potencialização éindicado apenas para pacientes que não respondam a intervenções farmacola³gicas iniciaisâ€, observa Franciele. “Tambanãm éimportante frisar que muitos pacientes tem falha terapaªutica e podem precisar substituir o antidepressivo, considerando-se outras classes farmacola³gicasâ€, acrescenta a pesquisadora.
De acordo com a pesquisadora, antidepressivos tem o potencial de causar reações adversas e isso deve ser discutido com o paciente para nortear a tomada de decisão compartilhada. “Um aspecto que chamou muito a atenção na pesquisa éque, apesar de a depressão ser considerada o principal fator de risco de suicadio, e este estar presente nas primeiras semanas de tratamento com antidepressivos, apenas 50% das diretrizes clanicas mais relevantes abordaram essa questãode forma diretaâ€, destaca.
O estudo édescrito em dissertação de mestrado orientada pela professora Eliane Ribeiro, do Programa de Pa³s-Graduação em Ciências Farmacaªuticas da FCF, com bolsa da Coordenação de Aperfeia§oamento de Pessoal de Navel Superior (Capes). O trabalho faz parte da linha de pesquisa do grupo CHRONIDE, formado por professores e alunos da USP, Universidade Federal de Sa£o Paulo (Unifesp) e Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA). “Desde 2015, o grupo desenvolve a análise da qualidade e transparaªncia de diretrizes clanicas, e também das recomendações das diretrizes de melhor qualidade para o tratamento de doenças crônicas não transmissaveis [DCNT] na atenção prima¡riaâ€, aponta Franciele.
“O trabalho do grupo pretende facilitar o processo de adaptação local de diretrizes clanicas, de modo que o cuidado do SUS possa ser realizado com base nas melhores evidaªncias cientaficas disponaveisâ€, ressalta a pesquisadora. Tambanãm participaram do estudo a professora Daniela Oliveira de Melo, da Unifesp, e os pa³s-graduandos Natha¡lia Celini Leite, da FCF, e Rafael Augusto Mantovani Silva, da Unifesp. A discussão das recomendações das diretrizes clanicas teve a colaboração do professor Renanãrio Fraguas, da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP), com linha de pesquisa em depressão.