Estudo com 8.780 participantes concluiu que ingestãomoderada da bebida pode reduzir em 20% risco de hipertensão
Pesquisa com 8.780 participantes mostra que consumo moderado de cafépode reduzir risco de hipertensão em 20%; estudos recentes mostraram que efeito benanãfico do consumo moderado de cafééatribuado aos polifena³is, compostos bioativos, que são encontrados em abunda¢ncia nessa bebida osFoto: Free-Photos via Pixabay / CC0
A associação entre o consumo de cafée o risco de hipertensão éinvestigada em pesquisa da Faculdade de Saúde Paºblica (FSP) da USP. Com base na análise dos hábitos de consumo da bebida, dados sociodemogra¡ficos, de estilo de vida, exames de sangue e medição de pressão arterial de um grupo de 8.780 funciona¡rios paºblicos, o estudo concluiu que a ingestãomoderada de café(uma a três xacaras por dia) pode reduzir em 20% o risco de hipertensão. Os resultados do estudo são detalhados em artigo da publicação cientafica Clinical Nutrition, no último dia 7 de junho.
A pesquisa usou dados do Estudo Longitudinal de Saúde do Adulto (ELSA Brasil), feito com 15.105 funciona¡rios de seis instituições públicas brasileiras de ensino superior e pesquisa. “Atravanãs de um questiona¡rio padronizado foram obtidos dados sociodemogra¡ficos, como idade, sexo, cor da pele, renda familiar per capita,níveleducacionalâ€, relata Andreia Miranda, pa³s-doutoranda da FSP que realizou o presente estudo. “Além disso, também foram obtidos dados de estilo de vida, entre os quais prática de atividade física, ha¡bito de fumar, ingestãode bebida alcoa³lica, bem como o hista³rico médico-familiar, uso de medicação, além de medição do peso e altura e avaliação do consumo alimentar por meio de um questiona¡rio especafico.â€
Pesquisa se baseou no Estudo Longitudinal de Saúde do Adulto (ELSA Brasil), projeto
que envolve 15.105 funciona¡rios de seis instituições públicas brasileiras de ensino
superior e pesquisa. Foram analisados os dados de 8.780 participantes osFoto: UFBA
Durante a pesquisa foi realizada a coleta de sangue para análises bioquímicas e também foi aferida a pressão arterial dos participantes por um enfermeiro previamente treinado. “Para o presente estudo, foram excluados da amostra os indivíduos com diagnóstico de hipertensão no inicio da pesquisa, aqueles que apresentavam hista³rico prévio de doença cardiovascular (infarto do mioca¡rdio, acidente vascular cerebral e cirurgia cardaaca), além dos que não tinham informação sobre o consumo de cafanãâ€, explica a pesquisadora. Dessa forma, foram analisados 8.780 participantes, com seguimento manãdio de quatro anos.â€
O consumo de caféfoi obtido por meio de um questiona¡rio de frequência alimentar, sendo agrupado em quatro categorias: quem nunca ou quase nunca tomava cafanã, quem bebia menos de uma xacara por dia, de uma a três xacaras por dia e mais de três xacaras por dia. “Foi definido que o tamanho das doses de cafééde 50 mililitros (50 ml), o que corresponde a uma xacara pequenaâ€, relata Andreia. “A presença de hipertensão foi definida com o valor de pressão acima de 140 por 90 milametros de mercaºrio (mmHg), o uso de medicação anti-hipertensiva ou ambos.â€
Consumo de cafanã
Consumo de caféfoi obtido por questiona¡rio de frequência alimentar, agrupado
em quatro categorias: quem nunca ou quase nunca tomava cafanã, quem bebia
menos de uma xacara por dia, de uma a três xacaras por dia e mais de três
xacaras por dia osFoto: Marcos Santos/USP Imagens
Para analisar a relação entre o consumo de cafée o risco de hipertensão foi utilizado um manãtodo estatastico, conhecido como regressão de Poisson, que permitiu calcular o risco relativo e o respectivo intervalo de confiana§a. “O modelo final foi ajustado de acordo com outras varia¡veis descritas na literatura que poderiam influenciar no resultado, tais como idade, sexo, cor da pele,níveleducacional, renda, tabagismo, consumo de a¡lcool, prática de atividade física, andice de massa corporal (IMC), consumo de frutas e vegetais, ingestãode sãodio, pota¡ssio e gordura saturada, açúcar de adição, uso de suplementos, e naveis sanãricos de glicose, colesterol total e trigliceradeosâ€, aponta a pesquisadora. “Em estudos prévios, já bem documentado que o tabagismo éum fator de risco, fortemente associado com a ingestãode cafée que pode exercer influaªncia no desenvolvimento de doença cardiovascular, em especial na hipertensão. Por esse motivo, na pesquisa foi avaliado o efeito da interação do cafécom o tabagismo.â€
A pesquisa apurou que o consumo manãdio de cafééde 150 ml por dia, o equivalente a três xacaras. “A maioria dos participantes relatou consumir a bebida com cafeana, filtrada/coada e com adição de açúcar, o que corresponde ao ha¡bito tradicional de consumo de cafépelos brasileiros. Durante os quatro anos de acompanhamento, um total de 1.285 participantes desenvolveu hipertensãoâ€, destaca Andreia. Dessa forma, foi possível observar uma associação significativa inversa entre o consumo moderado de cafée a incidaªncia de hipertensão. Ou seja, comparativamente a s pessoas que nunca ou quase nunca tomavam cafanã, o risco de hipertensão foi aproximadamente 20% menor naqueles que ingeriam de uma a três xacaras por diaâ€. “Estudos recentes mostram que o efeito benanãfico do consumo moderado de cafééatribuado aos polifena³is, compostos bioativos que são encontrados em abunda¢ncia nessa bebida.â€
Como foi verificada uma interação significativa entre o ha¡bito de fumar e a ingestãode cafanã, novas análises estatasticas foram realizadas. “Verificou-se então uma diminuição do risco de hipertensão somente em pessoas que nunca fumaram e tomavam de uma a três xacaras por diaâ€, afirma a pesquisadora.
Entre os fumantes e não fumantes, bem como na maior categoria do consumo de cafanã, ou seja, quem tomava mais de três xacaras por dia, não se verificou associação significativa no risco de desenvolver hipertensão. “Esses achados não permitem afirmar que haja um risco nessa população ou se trata de uma dose prejudicial para a saúdeâ€, diz Andreia. “Em resumo, os resultados mostram o efeito benanãfico da ingestãode uma a três xacaras de cafépor dia e a importa¢ncia de moderar o consumo dessa bebida para a prevenção da hipertensão.â€
A pesquisa teve o apoio da Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado de Sa£o Paulo (Fapesp) e contou com a colaboração dos professores Alessandra Goulart, Isabela Bensea±or e Paulo Lotufo, do Centro de Pesquisa Clanica e Epidemiola³gica do Hospital Universita¡rio (HU) da USP e da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP) e da professora Dirce Marchioni, da FSP. Os resultados da pesquisa são apresentados no artigo Coffee consumption and risk of hypertension: A prospective analysis in the cohort study, publicado no Clinical Nutrition Journal.