Lindsay Thompson, especialista em direito e anãtica, discute as pressaµes esmagadoras que os profissionais de saúde enfrentaram durante a epidemia de COVID-19
Domanio paºblico
Eles foram aclamados como "hera³is da linha de frente" da crise da pandemia, "trabalhadores essenciais" inundados com um número surpreendentemente alto de pacientes com coronavarus nas salas de emergaªncia e unidades de terapia intensiva de hospitais em todo o mundo.
Para aqueles que estãolonge da linha de frente dos cuidados de saúde, podemos apenas imaginar a ansiedade e atéo desespero dos médicos, enfermeiros e outros profissionais médicos diante de decisaµes literalmente de natureza de vida ou morte. Quando os ventiladores são escassos, por exemplo, como vocêdetermina qual paciente recebe um e qual não recebe?
Lindsay Thompson - IMAGEM CRa‰DITO: FOTOGRAFIA DE CHRISTOPHER MYERS
O "estresse moral" dos trabalhadores em meio a essa crise éuma área de estudo para a professora associada da Johns Hopkins Carey Business School Lindsay Thompson . Especialista em direito e anãtica, liderana§a e mudança social perturbadora nos nega³cios, na sociedade e na cultura corporativa, Thompson discute a crise do coronavarus da perspectiva dos profissionais de saúde, abordando seu treinamento para um evento tão incomum, além de lições da crise que poderia tornar os sistemas de saúde e seus hera³is da linha de frente melhor preparados se houver uma próxima vez.
"a‰ IMPORTANTE QUE OS PROFISSIONAIS DE SAašDE SAIBAM QUE O FRACASSO MORAL - E O SOFRIMENTO QUE SE SEGUE - NaƒO PRECISA SER CATASTRa“FICO E DEBILITANTE. OS HUMANOS COMETEM ERROS a‰TICOS E MORAIS, E PODEMOS NOS RECUPERAR DELES".
Lindsay Thompson
Professor Associado de Pra¡tica
Vocaª poderia explicar o que quer dizer e dar exemplos quando se refere ao "estresse moral" no contexto dos profissionais de saúde durante a pandemia?
O estresse moral écada vez mais reconhecido como uma resposta autoprotetora a situações ou incidentes moralmente ameaa§adores. A adversidade moral e o estresse ativam a resposta normal ao estresse e, se forem muito prolongados ou graves, podem sobrecarregar as capacidades de gerenciamento do estresse. A resposta normal ao estresse éuma resposta fisiola³gica indiferenciada - frequência cardaaca e pressão arterial elevadas, dor ou desconforto fasico, hiperventilação, hipervigila¢ncia - desencadeada por uma ameaça física, emocional ou moral, como aproximar-se de passos em um beco escuro, testemunhar crueldade ou injustia§a, perder um emprego ou ente querido, ou sentimentos de vergonha ou humilhação. Essa resposta serviu aos seres humanos bem como um mecanismo adaptativo, mas a capacidade de tolerar e se recuperar do estresse éamplamente varia¡vel.
O estresse moral écomum entre os médicos que lidam com pacientes terminais ou feridos traumaticamente ou em situações em que a falta de instalações, tempo, suprimentos, experiência ou outros recursos limitam sua capacidade de prestar os cuidados necessa¡rios. Essa situação éespecialmente aguda durante a atual pandemia em que a falta de equipamento de proteção individual e ventiladores fora§ou os médicos a tomar decisaµes sobre quem receberia tratamento - negando assim o tratamento a outras pessoas. Os médicos podem experimentar isso como uma falha moral pessoal e minar a integridade pessoal, induzindo sentimentos de vergonha, falta de autoestima e desespero - especialmente se a situação continuar por um longo período de tempo. Então estamos lidando com sofrimento moral e possivelmente com dano moral.
Que tipo de treinamento os profissionais de saúde recebem para lidar com essas contingaªncias? E ainda existe treinamento para preparar os profissionais médicos para decidir quem recebe cuidados que salvam vidas e quem não recebe em falta de equipamentos de emergaªncia, como ventiladores; ou como lidar com mortes em massa?
Os enfermeiros desenvolveram a pesquisa e a educação clanica mais robustas sobre estresse e angaºstia moral. Sim, existe treinamento para médicos, especialmente médicos e enfermeiros, e todos os hospitais e unidades de saúde possuem protocolos para lidar com situações de emergaªncia, resposta a desastres e pandemias. Esses protocolos são atualizados regularmente, e simulações e simulações de preparação para desastres fazem parte da rotina regular de um hospital, assim como simulações de incaªndio.
Ha¡ também o estresse fasico de trabalhar em um turno médico durante uma crise. Atéque ponto isso pode contribuir para o estresse moral dos cuidadores?
Entende-se que médicos e trabalhadores de apoio clanico que trabalham horas extras e turnos extras, especialmente sob condições estressantes de escassez, sobrecarga e trauma, são mais vulnera¡veis ​​ao estresse moral.
Existem prática s e rotinas individuais que os profissionais de saúde nessas situações podem usar para ajudar a aliviar o estresse?
O autocuidado éimportante para os cuidadores. Uma das coisas mais importantes éque os cuidadores se honrem exercitando a auto-administração responsável - sono, nutrição, descanso - para manter sua aptida£o para o dever.
O autocuidado também inclui "aptida£o moral" - definir valores pessoais com a capacidade de articular e aplicar valores a desafios morais, especialmente em situações contestadas. Isso significa praticar a arte de ver o mundo e a situação de alguém atravanãs de uma lente de valores, anãtica e integridade, com um reconhecimento claro dos limites pessoais.
Tambanãm éimportante que os cuidadores saibam que a falha moral - e a angaºstia que se segue - não precisam ser catastra³ficas e debilitantes. Os seres humanos cometem erros anãticos e morais, e podemos nos recuperar deles. Os seres humanos evoluaram com capacidades individuais e sociais para absorver e atéficar mais fortes com o estresse - incluindo o estresse moral. Portanto, se alguém tiver exercido autocuidado sauda¡vel e aptida£o moral, "inclinar-se" ao estresse moral - ou estresse de qualquer tipo - pode torna¡-lo moralmente resiliente, mais forte e menos vulnera¡vel ao risco de sofrimento e ferimentos morais.
Quais podem ser as principais lições desta crise que o sistema de saúde pode usar para preparar e apoiar melhor os profissionais de saúde em situações de estresse semelhante no futuro?
"FALHAMOS NA CONSTRUa‡aƒO DE UM SISTEMA DE SAašDE COORDENADO E aGIL, COM ACESSO GARANTIDO A CUIDADOS ACESSaVEIS, APROPRIADOS E ACESSaVEIS PARA TODAS AS JURISDIa‡a•ES EM TODO O PAaS".
Primeiro, nossas falhas morais não se limitaram ao sistema de saúde. Na³s, especialmente nos Estados Unidos, fomos moralmente maopes ao não prever as consequaªncias de uma economia polatica global que mudou o risco (e consequaªncias) de desigualdade econa´mica, financeirização, globalização e mudança climática para indivíduos e comunidades locais. do que fornecer uma rede de segurança mais forte para ajudar a absorver choques sistemicos. Ao perseguir os benefacios da globalização, abandonamos e paralisamos nossos ecossistemas e governos locais de nega³cios, tornando-os impotentes na resposta a s necessidades materiais ba¡sicas dessa pandemia.
No que diz respeito ao sistema de saúde, não conseguimos criar um sistema de saúde coordenado e a¡gil de acesso garantido a cuidados acessaveis, apropriados e acessaveis para todas as jurisdições em todo opaís. Falhamos na construção de um sistema suficientemente coordenado para garantir que pessoas, equipamentos e suprimentos essenciais sejam distribuados sem interrupções para onde são mais necessa¡rios. Politizamos o atendimento universal a saúde, em vez de priorizar a saúde em todas as políticas. Esta éuma falha moralmente indesculpa¡vel.
E o período após o tanãrmino desta crise? O que pode ser feito para ajudar os cuidadores a lidar com qualquer trauma que ainda possam estar sentindo quando suas vidas e empregos retornarem a alguma aparaªncia de normalidade?
Nãoéde surpreender que não tenhamos um sistema para isso. Cada sistema de assistaªncia médica épraticamente por si são, e alguns sistemas e profissaµes se saem melhor que outros. A enfermagem, por exemplo, émuito mais alerta e responsiva ao estresse relacionado ao trabalho dos cuidados de saúde do que a maioria das outras profissaµes clanicas. Esse éoutro desafio moral para o sistema de saúde e para a sociedade - precisamos de um sistema de saúde que cuide tão efetivamente de seus prestadores de cuidados quanto de seus pacientes.