Saúde

Estudo internacional aponta relação entre Zika, Ebola e Covid
Os pesquisadores do estudo internacional realizaram entrevistas em diferentespaíses do mundo para buscar entender o medo, a incerteza e a possí­vel falta de controle sobre o Ebola e a Zika.
Por Eliane Fonseca Dare - 26/07/2020


Foto tirada em Serra Leoa quando o Ebola atingiu grande parte da poulação. Foto: Morgana Wingard/ USAID (22/09/2014)

Ao mesmo tempo em que ocorre a pandemia da Covid-19, um novo surto de Ebola estãoem curso na áfrica e a circulação do Zika va­rus persiste na Amanãrica Latina. Um estudo internacional, do qual fazem parte os docentes da Unicamp Janaina Pamplona da Costa, do Instituto de Geociências (IG), e AndréSica de Campos, da Faculdade de Ciências Aplicadas (FCA), aponta a relação entre as três doena§as, que foram classificadas como Emergaªncia de Saúde Paºblica de Importa¢ncia Internacional pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Um artigo ("Who’s afraid of Ebola? Epidemic fires and locative fears in the Information Age")  sobre o estudo acaba de ser publicado no peria³dico Social Studies of Science, um dos mais renomados internacionalmente na área dos Estudos Sociais de Ciência e Tecnologia. 

O artigo argumenta que as epidemias de Zika, Ebola e Covid podem ser comparadas ao conceito de “fire-object”, ou seja, encontros entre atores humanos e não-humanos no Espaço, em padraµes intercala¡veis de ausaªncia e presena§a, caracterizado por descontinuidades, transformações e justaposições da realidade presente-ausente, comuns a s três doenças investigadas. O estudo também traz o conceito de medo locativo, isto anã, o medo do contato pra³ximo ou da co-localização entre os indivíduos e a doença por não se saber se ela estãopresente ou ausente no Espaço.

Os pesquisadores do estudo internacional realizaram entrevistas em diferentespaíses do mundo para buscar entender o medo, a incerteza e a possí­vel falta de controle sobre o Ebola e a Zika. "Os medos se caracterizaram pelos sintomas, agentes transmissores e pela possibilidade de infecção latente, mas não consciente, denominada no artigo como existaªncias transita³rias", apontam Janaina e Andranã. Segundo os docentes, o Ebola teve menos casos identificados, se comparado ao Zika e mais recentemente a  Covid-19, mas sua manifestação patola³gica émuito agressiva e frequentemente letal, exacerbando o sentimento de medo e a ansiedade com a exposição num momento de transição a  ocorraªncia dos sintomas.

O sentimento de uma ameaça invisível, manifestada no elevado medo locativo para o Ebola, impediu em alguns casos o pra³prio tratamento da doena§a. "O estudo sugere que o medo locativo pode ter possivelmente auxiliado a conter a circulação do Ebola", apontam os estudiosos. Já no caso da Zika, que tem menor letalidade e ocorre em conjunto com outras doenças infecciosas do mesmo vetor, como dengue e chikungunya, o medo locativo écomparativamente menor do que o do Ebola. O medo de conta¡gio ao va­rus da Zika associa-se fortemente a  microcefalia em recanãm-nascidos.

De acordo com resultados publicados no artigo, a Covid-19 tem a caracterí­stica de um “fire-object” por ocorrer em diversas regiaµes em maior ou menor medida ao longo do tempo, distribuindo-se irregularmente no territa³rio. Ainda que o Ebola tenha uma taxa de letalidade mais alta que a Covid-19, ambas as doenças são fortemente influenciadas pela informação e sua circulação, formando, portanto, o sentimento de medo locativo.

Segundo Janaina e Andranã, os dados utilizados na pesquisa sobre Ebola e Zika foram coletados entre os anos de 2013 a 2017. Para a investigação do Ebola, em que o surto pesquisado ocorreu entre 2013 e 2016, foram realizadas um total de 348 entrevistas na República da Guinanã, Mali, Gana, Quaªnia e Estados Unidos. Os docentes da Unicamp coordenaram 100 entrevistas entre 2016 e 2017 para a investigação do Zika no Brasil, com recursos da National Science Foundation por meio da Louisiana State University, dos Estados Unidos.

Foram entrevistados profissionais da saúde (médicos e enfermeiros), cientistas, acadaªmicos, agentes paºblicos de saúde e paºblico em geral sobre prontida£o e percepção social da doena§a. As entrevistas ocorreram nos estados de Sa£o Paulo, Maranha£o, Pernambuco e Paraa­ba. Participaram da pesquisa como entrevistadores alunos de doutorado do Programa de Pa³s-Graduação em Pola­tica Cienta­fica e Tecnola³gica do IG, pesquisadores da FCA e do Instituto de Biologia (IB) da Unicamp, além de pesquisadores seniors de fora da Universidade de Campinas. Outras centenas de entrevistas sobre a Zika ocorreram na Argentina, no Manãxico e na andia.

Rede internacional de pesquisadores

A pesquisa internacional foi liderada pelo professor Wesley Shrum, da Louisiana State University, primeiro autor do artigo. Além dos docentes Janaina Pamplona e AndréSica, no estudo do Zika va­rus no Brasil houve participação da professora Rhiannon Kroeger, também da Louisiana State University, que visitou a Unicamp em 2016 para auxiliar na coordenação da pesquisa e definição do questiona¡rio. A professora Lanãa Velho, hoje aposentada pelo Departamento de Pola­tica Cienta­fica e Tecnola³gica do IG, l envolveu-se no estudo por ter sido o primeiro contato com Wesley Shrum, tendo participado da primeira etapa da pesquisa.

No estudo do Zika va­rus nos demaispaíses envolvidos na pesquisa, participaram Pablo Kreimer, da Universidad Nacional de Quilmes (Argentina); Leandro Rodriguez Medina e Ana Pandal de la Peza, da Universid de las Americas Puebla (Manãxico); e Jan Joseph e Anthony Palackal, da University of Kerala (andia). Já na pesquisa sobre o a‰bola, participaram Paige Miller, da University of Wisconsin River Falls (Estados Unidos); Abou Traore, da Penn State University (Estados Unidos) e John Aggrey, da Louisiana State University.  

Os docentes Janaina Pamplona da Costa (IG) e AndréSica de Campos (FCA):
dados utilizados na pesquisa sobre Ebola e Zika foram coletados entre os
anos de 2013 a 2017

Os dados dos estudos sobre Ebola e Zika com implicações para a Covid-19 foram analisados por uma rede internacional de colaboradores, chamada informalmente ZBola. Na Unicamp, a pesquisa faz parte de uma agenda do Laborata³rio de Pola­ticas Paºblicas, Geografia da Inovação e Governana§a (Lab-GOING), grupo de pesquisa interunidades (FCA e IG) que écoordenado pelos professores Andrée Janaina e que envolve a pesquisa de doutorado sobre o Zika va­rus dos alunos do PPG-PCT Paulo Cintra e Liz Greco desde 2017, além de duas orientações de PIBIC/Unicamp com bolsistas da FCA/Unicamp.

 

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