Os pesquisadores do estudo internacional realizaram entrevistas em diferentespaíses do mundo para buscar entender o medo, a incerteza e a possível falta de controle sobre o Ebola e a Zika.

Foto tirada em Serra Leoa quando o Ebola atingiu grande parte da poulação. Foto: Morgana Wingard/ USAID (22/09/2014)
Ao mesmo tempo em que ocorre a pandemia da Covid-19, um novo surto de Ebola estãoem curso na áfrica e a circulação do Zika varus persiste na Amanãrica Latina. Um estudo internacional, do qual fazem parte os docentes da Unicamp Janaina Pamplona da Costa, do Instituto de Geociências (IG), e AndréSica de Campos, da Faculdade de Ciências Aplicadas (FCA), aponta a relação entre as três doena§as, que foram classificadas como Emergaªncia de Saúde Paºblica de Importa¢ncia Internacional pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Um artigo ("Who’s afraid of Ebola? Epidemic fires and locative fears in the Information Age") sobre o estudo acaba de ser publicado no peria³dico Social Studies of Science, um dos mais renomados internacionalmente na área dos Estudos Sociais de Ciência e Tecnologia.Â
O artigo argumenta que as epidemias de Zika, Ebola e Covid podem ser comparadas ao conceito de “fire-objectâ€, ou seja, encontros entre atores humanos e não-humanos no Espaço, em padraµes intercala¡veis de ausaªncia e presena§a, caracterizado por descontinuidades, transformações e justaposições da realidade presente-ausente, comuns a s três doenças investigadas. O estudo também traz o conceito de medo locativo, isto anã, o medo do contato pra³ximo ou da co-localização entre os indivíduos e a doença por não se saber se ela estãopresente ou ausente no Espaço.
Os pesquisadores do estudo internacional realizaram entrevistas em diferentespaíses do mundo para buscar entender o medo, a incerteza e a possível falta de controle sobre o Ebola e a Zika. "Os medos se caracterizaram pelos sintomas, agentes transmissores e pela possibilidade de infecção latente, mas não consciente, denominada no artigo como existaªncias transita³rias", apontam Janaina e Andranã. Segundo os docentes, o Ebola teve menos casos identificados, se comparado ao Zika e mais recentemente a Covid-19, mas sua manifestação patola³gica émuito agressiva e frequentemente letal, exacerbando o sentimento de medo e a ansiedade com a exposição num momento de transição a ocorraªncia dos sintomas.
O sentimento de uma ameaça invisível, manifestada no elevado medo locativo para o Ebola, impediu em alguns casos o pra³prio tratamento da doena§a. "O estudo sugere que o medo locativo pode ter possivelmente auxiliado a conter a circulação do Ebola", apontam os estudiosos. Já no caso da Zika, que tem menor letalidade e ocorre em conjunto com outras doenças infecciosas do mesmo vetor, como dengue e chikungunya, o medo locativo écomparativamente menor do que o do Ebola. O medo de conta¡gio ao varus da Zika associa-se fortemente a microcefalia em recanãm-nascidos.
De acordo com resultados publicados no artigo, a Covid-19 tem a característica de um “fire-object†por ocorrer em diversas regiaµes em maior ou menor medida ao longo do tempo, distribuindo-se irregularmente no territa³rio. Ainda que o Ebola tenha uma taxa de letalidade mais alta que a Covid-19, ambas as doenças são fortemente influenciadas pela informação e sua circulação, formando, portanto, o sentimento de medo locativo.
Segundo Janaina e Andranã, os dados utilizados na pesquisa sobre Ebola e Zika foram coletados entre os anos de 2013 a 2017. Para a investigação do Ebola, em que o surto pesquisado ocorreu entre 2013 e 2016, foram realizadas um total de 348 entrevistas na República da Guinanã, Mali, Gana, Quaªnia e Estados Unidos. Os docentes da Unicamp coordenaram 100 entrevistas entre 2016 e 2017 para a investigação do Zika no Brasil, com recursos da National Science Foundation por meio da Louisiana State University, dos Estados Unidos.
Foram entrevistados profissionais da saúde (médicos e enfermeiros), cientistas, acadaªmicos, agentes paºblicos de saúde e paºblico em geral sobre prontida£o e percepção social da doena§a. As entrevistas ocorreram nos estados de Sa£o Paulo, Maranha£o, Pernambuco e Paraaba. Participaram da pesquisa como entrevistadores alunos de doutorado do Programa de Pa³s-Graduação em Polatica Cientafica e Tecnola³gica do IG, pesquisadores da FCA e do Instituto de Biologia (IB) da Unicamp, além de pesquisadores seniors de fora da Universidade de Campinas. Outras centenas de entrevistas sobre a Zika ocorreram na Argentina, no Manãxico e na andia.
Rede internacional de pesquisadores
A pesquisa internacional foi liderada pelo professor Wesley Shrum, da Louisiana State University, primeiro autor do artigo. Além dos docentes Janaina Pamplona e AndréSica, no estudo do Zika varus no Brasil houve participação da professora Rhiannon Kroeger, também da Louisiana State University, que visitou a Unicamp em 2016 para auxiliar na coordenação da pesquisa e definição do questiona¡rio. A professora Lanãa Velho, hoje aposentada pelo Departamento de Polatica Cientafica e Tecnola³gica do IG, l envolveu-se no estudo por ter sido o primeiro contato com Wesley Shrum, tendo participado da primeira etapa da pesquisa.
No estudo do Zika varus nos demaispaíses envolvidos na pesquisa, participaram Pablo Kreimer, da Universidad Nacional de Quilmes (Argentina); Leandro Rodriguez Medina e Ana Pandal de la Peza, da Universid de las Americas Puebla (Manãxico); e Jan Joseph e Anthony Palackal, da University of Kerala (andia). Já na pesquisa sobre o a‰bola, participaram Paige Miller, da University of Wisconsin River Falls (Estados Unidos); Abou Traore, da Penn State University (Estados Unidos) e John Aggrey, da Louisiana State University. Â
Os docentes Janaina Pamplona da Costa (IG) e AndréSica de Campos (FCA):
dados utilizados na pesquisa sobre Ebola e Zika foram coletados entre os
anos de 2013 a 2017
Os dados dos estudos sobre Ebola e Zika com implicações para a Covid-19 foram analisados por uma rede internacional de colaboradores, chamada informalmente ZBola. Na Unicamp, a pesquisa faz parte de uma agenda do Laborata³rio de Polaticas Paºblicas, Geografia da Inovação e Governana§a (Lab-GOING), grupo de pesquisa interunidades (FCA e IG) que écoordenado pelos professores Andrée Janaina e que envolve a pesquisa de doutorado sobre o Zika varus dos alunos do PPG-PCT Paulo Cintra e Liz Greco desde 2017, além de duas orientações de PIBIC/Unicamp com bolsistas da FCA/Unicamp.