Saúde

Testes in vitro indicam potencial do fruto do guarana¡ para ajudar no controle da diabete tipo 2
Revisão de estudos sobre o fruto confirma a presença de variadas substâncias bioativas existentes no guarana¡ que beneficiam a saúde
Por Ivanir Ferreira - 03/08/2020


Os benefa­cios do guarana¡ (Paullinia cupana) para a saúde va£o além das conhecidas funções energanãticas promovidas pela cafea­na. Substa¢ncias bioativas possuem ação bactericida, anti-inflamata³ria e anti-hiperglicaªmica. Imagem: Arquivo pessoal

Os benefa­cios do guarana¡ (Paullinia cupana) para a saúde va£o além das conhecidas funções energanãticas promovidas pela cafea­na. Os compostos fena³licos presentes nas sementes e no fruto possuem ação bactericida, anti-inflamata³ria e anti-hiperglicaªmica, sendo este último agindo em enzimas que controlam a diabete do tipo 2. Pesquisadores do grupo da professora Elizabeth Aparecida Ferraz Silva Torres, do Departamento de Nutrição da Faculdade de Saúde Paºblica (FSP) da USP, estiveram envolvidos nas recentes descobertas que demonstraram as propriedades dos compostos fena³licos provenientes do guarana¡.

A caracterização das propriedades bioativas do fruto do guaranazeiro também levou a Agência Nacional de Vigila¢ncia Sanita¡ria (Anvisa) a inclua­-lo na lista de ingredientes autorizados para uso em suplementos alimentares como fonte de substância bioativa.

Recentemente, a nutricionista Cintia Pereira da Silva, uma das pesquisadoras do grupo da professora Elizabeth, observou em laboratório que algumas substâncias bioativas do guarana¡ (as catequinas) poderiam agir no controle glicaªmico do diabete do tipo 2, inibindo as atividades das enzimas α-glicosidase e α-amilase, ambas responsa¡veis pelo controle da glicose no sangue.

Para chegar a esses resultados, a pesquisadora diluiu as enzimas α-glucosidase e α-amilase em concentrações fisiola³gicas e as colocou em contato com uma solução de amido para simular a digestãode carboidratos no esta´mago. “Em seguida, comparamos a solução de amido com e sem guarana¡ para verificar a quantidade de glicose dispona­vel na solução. Com a presença do extrato de guarana¡, rico em catequinas, a atividade enzima¡tica foi menor, ou seja, o guarana¡ reduziu e inibiu a atividade destas enzimas em cerca de 70%”, descreve.

No organismo humano, se a pessoa já tem a diabete instalada, quanto maior o consumo de carboidratos, maiores são as chances de um quadro de hiperglicemia (taxa alta de açúcar no sangue). “A inativação dessas enzimas pode ser uma estratanãgia para manter o controle glicaªmico e assim evitar as complicações da diabete”, explica a nutricionista.

Segundo a pesquisadora, no mercado farmacaªutico existem drogas que inibem a atividade dessas enzimas como forma de tratar pessoas portadoras de diabete do tipo 2, poranãm, esses fa¡rmacos apresentam diversos efeitos colaterais como hipoglicemia em doses mais elevadas, problemas hepa¡ticos, na¡useas, va´mitos e diarreia, explica Cintia. “Por isso, hánecessidade de estudos para verificar se as substâncias bioativas presentes nos alimentos poderiam exercer esse papel sem causar efeitos colaterais”. Cintia lembra ainda que os ensaios com as enzimas foram feitos somente em laboratórios, precisando agora ser confirmados em humanos, por meio de ensaios clínicos.

A pesquisa com as enzimas foi um dos destaques de um artigo de revisão Guarana as a source of bioactive compounds,  publicado no Journal of Food Bioactives. O artigo reuniu ainda relatos de pesquisadores de várias instituições, incluindo os do grupo da professora Elizabeth Torres, reconhecendo as propriedades funcionais das substâncias bioativas do fruto nativo amaza´nico. Cintia, que éa primeira autora do artigo, diz que atbem pouco tempo, o guarana¡ era tido apenas como estimulante pelo seu alto teor de cafea­na. “Hoje, se sabe que as sementes do guarana¡ contem boas fontes de compostos fena³licos, como a catequina, a epicatequina e a proantocianidina, substâncias bioativas que foram associadas a  proteção contra doenças cardiovasculares e cognitivas”, diz a pesquisadora ao Jornal da USP.

No artigo, háoutros registros dos benefa­cios das propriedades bioativas do guarana¡, entre eles os dos compostos fena³licos (catequinas e proantocianidinas) que também foram reconhecidos como potenciais agentes antimicrobianos com ação  bactericida. As catequinas e as proantocianidinas, por exemplo, foram testadas contra três fungos de origem alimentar: a Aspergillus niger, a Trichoderma  e Penicillium e três bactanãrias patogaªnicas: Escherichia coli, Pseudomonas fluorescens e Bacillus.

A pesquisa da ação dos compostos fena³licos sob as enzimas α-amilase e α-glicosidase foi feita em 2018, paralelamente ao doutorado que Cintia defendeu na FSP. Os desdobramentos das pesquisas no grupo da professora Elizabeth seguem este ano com a investigação dos efeitos terapaªuticos dos compostos fena³licos no desempenho cognitivo e na depressão.

Aprovação da Anvisa do guarana¡ como alimento funcional

O reconhecimento das propriedades bioativas do guarana¡ por pesquisas cienta­ficas como a do grupo da Faculdade de Saúde Paºblica da USP e de outras citadas por Cintia no artigo revisional são fundamentais para obtenção do registro na lista da Agência Nacional de Vigila¢ncia Sanita¡ria (Anvisa). Em 2018, pela instrução normativa nº 28, o guarana¡ foi inclua­do na lista de ingredientes autorizados para uso em suplementos alimentares como fonte de substância bioativa. Para entrar nessa categoria, os alimentos e os ingredientes devem ser caracterizados quanto a s suas propriedades funcionais e, além de funções nutricionais ba¡sicas, precisam ter a presença de substâncias bioativas que produzam efeitos benéficos a  saúde humana, em na­veis metaba³licos e/ou fisiola³gicos: a manutenção de na­veis sauda¡veis dos triglicera­deos, proteção das células contra radicais livres, redução do colesterol, bom funcionamento do intestino, dentre outros. Os produtos também precisam ser seguros para consumo sem supervisão médica.

 

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