Contato anterior com outros tipos de coronavarus influencia gravidade da covid-19, sugere estudo
Forma severa da covid-19 atinge mais idosos que jovens, o que pode ser devido a reatividade cruzada com outros varus da famalia, que causam o resfriado comum
Hista³rico de exposições de cada pessoa a outros tipos de coronavarus pode influenciar na severidade da covid-19 osFoto: Pixabay
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Uma pesquisa internacional com participação de cientistas da USP analisou o possível impacto no grau de severidade da covid-19 do hista³rico de infecções causadas por coronavarus endaªmicos osoutras espanãcies de coronavarus, que emsua grande maioria causam apenas resfriados. Uma das possibilidades levantadas éde que a exposição prévia aos outros coronavarus provoque uma reatividade cruzada com o SARS-CoV-2, varus causador da covid-19, e que esta pode ser benanãfica ou prejudicial dependendo do número de exposições, o que estãorelacionado a idade. Assim, pacientes mais velhos tenderiam a ter uma forma mais grave da doença do que os mais jovens. Os resultados do artigo, que ainda estãoem revisão, estãodisponíveis na plataforma MedRxiV (preprint).
De acordo com Daniel Santa Cruz Damineli, pesquisador na Faculdade de Medicina da USP (FMUSP) que atua na área de Biologia Computacional, a ideia central das investigações era entender por que os coronavarus endaªmicos atacam mais a população infantil e menos as pessoas mais velhas, e com o varus da covid-19 acontece o contra¡rio. “A população poderia ter uma suscetibilidade ao novo coronavarus diferente de acordo com a idade e queraamos explorar o porquaªâ€, contou ao Jornal da USP.
O estudo foi feito no Departamento de Pediatria, dentro do Laborata³rio de Gena´mica Pedia¡trica, que écoordenado pelo professor Carlos Alberto Moreira Filho, da FMUSP, em colaboração com o Instituto de Matema¡tica e Estatastica (IME) da USP.
Para buscar respostas, os cientistas simularam uma equação que descreve a severidade da covid-19 de acordo com a exposição a infecções causadas por coronavarus endaªmicos. Os dados que alimentaram o modelo são depaíses da Unia£o Europeia e do Reino Unido.
Os resultados mostraram que a heterogeneidade nos hista³ricos de exposição individual a coronavarus endaªmicos consegue explicar os padraµes de idade e hospitalizações causados pela covid-19. Uma das hipa³teses levantadas éde que as primeiras infecções com outros tipos de coronavarus conferem uma proteção inicial ao SARS-CoV-2, porque ambos os varus possuem similaridades em proteanas estruturais. Essa proteção, conhecida como reatividade cruzada ou heterotapica, que acontece quando um indivaduo responde a um pata³geno com memória imunola³gica de outro, pode ser malanãfica ao longo do tempo porque o nosso organismo comea§a a especializar a resposta imune para os coronavarus endaªmicos, o que dificultaria o combate ao varus da covid-19.
A relação com a idade baseia-se na probabilidade de pessoas mais velhas já terem tido mais contato com diversos outros tipos de coronavarus. “Isso poderia tanto conferir uma proteção inicial como levar a uma piora conforme vocêfica mais velhoâ€, detalhou Damineli. Uma criana§a, por exemplo, que teve pouco contato com coronavarus endaªmicos pode desenvolver uma resposta heterotapica benanãfica quando exposta ao varus da covid-19, o que faria a doença menos severa.
Outro resultado apontado pelo modelo éa diferença na severidade da covid-19 dentro da própria população infantil. Segundo o pesquisador, fazendo-se comparações entre a população pedia¡trica, os mais jovens tem uma severidade ligeiramente maior ao SARS-CoV-2. Isso poderia ser explicado pelo fato de os infantes não terem tido contato com os coronavarus endaªmicos, que iriam conferir uma proteção inicial, atravanãs da reatividade cruzada, ao varus da covid-19. “Esse dado mostra uma característica interessante do modelo: não éum perfil monota´nico, pois nem sempre ele aumenta. Ha¡ uma queda inicial e depois uma piora bem grande com a idadeâ€, explicou.
Hipa³tese para o aumento da severidade
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A reatividade cruzada éum mecanismo complexo do sistema imunológico que nem
sempre pode ser benanãfico. “Nãoquer dizer que a reatividade cruzada protege, ela
apenas reage, e essa reação pode ser pior, inclusive. No modelo que desenvolvemos, a
ideia éque ela éinicialmente melhor, se háuma exposição ou poucas, e vai piorando
porque vocêvai refinando e deixando a resposta imune mais especafica para os outros
tipos de coronavarusâ€, explicou Daniel Santa Cruz Damineli osFoto: Pixabay
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O mecanismo de piora da reatividade cruzada não estãocontido no modelo, entretanto Damineli explica que existe uma hipa³tese, levantada pelos pesquisadores, para explicar o fena´meno.
Essa suposição estãorelacionada a um artifacio para sabotar o sistema imune: o ADE (Antibody-dependent enhancement), sigla para potenciação dependente de anticorpos. O que acontece éque a imunidade contra um subtipo de varus acaba atrapalhando a defesa contra outro subtipo. Neste caso, a defesa contra coronavarus endaªmicos, que fica mais especializada e refinada com o tempo, atrapalharia o sistema imune no momento de montar uma reação contra o varus da covid-19. “Se vocêtem um monte de anticorpos não neutralizantes cobrindo o varus, vocêcria uma forma nova do varus infectar outras célulasâ€, explicou o pesquisador. Esse mecanismo já éconhecido para SARS, MERS e dengue, por exemplo.
Com esta pesquisa, os cientistas chamam atenção para a necessidade de se estudar mais detalhadamente a reatividade cruzada. “Precisamos entender como anticorpos que foram desenvolvidos ao coronavarus endaªmicos reagem ao SARS-CoV-2. Se não entendermos isso, podemos estar perdendo um mecanismo que explica grande parte do que estãoacontecendo na pandemiaâ€, finalizou Damineli.
A pesquisa Potential impact of individual exposure histories to endemic human coronaviruses on age-dependence in severity of COVID-19, disponavel em preprint, já estãopassando pela revisão por pares para ser publicada.