Saúde

O papel das criana§as na propagação do va­rus émaior do que se pensava
O estudo encontrou na­veis extremamente altos de SARS-CoV-2 nas vias respirata³rias das criana§as
Por MGH News and Public Affairs - 21/08/2020


Os pesquisadores descobriram que as criana§as carregavam uma carga viral excepcionalmente alta, principalmente nos primeiros dois dias de infecção.
Kris Snibbe / Fota³grafo da equipe de Harvard

No estudo mais abrangente de pacientes pedia¡tricos COVID-19 atéo momento, os pesquisadores fornecem dados essenciais que mostram que as criana§as desempenham um papel maior na difusão do COVID-19 na comunidade do que se pensava anteriormente.

Em um estudo com 192 criana§as com idades entre 0-22, 49 criana§as testaram positivo para SARS-CoV-2 e mais 18 criana§as tiveram ini­cio tardio, doença relacionada ao COVID-19. As criana§as infectadas mostraram ter umnívelsignificativamente mais alto de va­rus em suas vias aanãreas do que adultos hospitalizados em UTIs para tratamento com COVID-19, de acordo com o Massachusetts General Hospital (MGH) afiliado a Harvard e o Mass General Hospital for Children (MGHfC).

O estudo, “Pediatric SARS-CoV-2: Apresentação Cla­nica, Infectividade e Reações Imunes”, foi publicado no 20 agosto no The Journal of Pediatrics.

“Fiquei surpreso com os altos na­veis de va­rus que encontramos em criana§as de todas as idades, especialmente nos primeiros dois dias de infecção”, diz Lael Yonker, diretor do MGH Cystic Fibrosis Center e principal autor do estudo. “Nãoesperava que a carga viral fosse tão elevada. Vocaª pensa em um hospital e em todas as precauções tomadas para tratar adultos gravemente enfermos, mas as cargas virais desses pacientes hospitalizados são significativamente mais baixas do que uma 'criana§a sauda¡vel' que anda por aa­ com uma alta carga viral de SARS-CoV-2 . ”

A transmissibilidade ou risco de conta¡gio émaior com uma carga viral elevada. E mesmo quando as criana§as apresentam sintomas ta­picos de COVID-19, como febre, coriza e tosse, eles geralmente se sobrepaµem a doenças infantis comuns, incluindo gripe e resfriado comum. Isso confunde um diagnóstico preciso de COVID-19, a doença derivada do coronava­rus SARS-CoV-2, diz Yonker. Junto com a carga viral, os pesquisadores examinaram a expressão do receptor viral e a resposta de anticorpos em criana§as sauda¡veis, criana§as com infecção aguda por SARS-CoV-2 e um número menor de criana§as com Sa­ndrome Inflamata³ria Multissistemica em Criana§as (MIS-C).

“… As cargas virais desses pacientes hospitalizados são significativamente mais baixas do que uma 'criana§a sauda¡vel' que anda por aa­ com uma alta carga viral de SARS-CoV-2.”

- Lael Yonker, principal autora do estudo

Os achados de esfregaa§os de nariz e garganta e amostras de sangue do Biorreposita³rio Pedia¡trico COVID-19 do MGHfC tem implicações para a reabertura de escolas, creches e outros locais com alta densidade de criana§as e interação próxima com professores e funciona¡rios.

“As criana§as não estãoimunes a esta infecção, e seus sintomas não se correlacionam com a exposição e infecção”, diz Alessio Fasano, diretor do Centro de Pesquisa de Biologia e Imunologia da Mucosal do MGH e autor saªnior do manuscrito. “Durante esta pandemia de COVID-19, rastreamos principalmente indivíduos sintoma¡ticos, então chegamos a  conclusão erra´nea de que a grande maioria das pessoas infectadas são adultos. No entanto, nossos resultados mostram que as criana§as não estãoprotegidas contra esse va­rus. Nãodevemos descartar as criana§as como propagadores em potencial desse va­rus. ”

Os pesquisadores observam que, embora as criana§as com COVID-19 não tenham tanta probabilidade de ficar tão gravemente doentes quanto os adultos, como portadores assintoma¡ticos ou portadores com poucos sintomas que frequentam a escola, elas podem espalhar a infecção e trazer o va­rus para suas casas. Esta éuma preocupação especial para fama­lias em certos grupos socioecona´micos, que foram mais afetados pela pandemia, e fama­lias multigeracionais com idosos vulnera¡veis ​​no mesmo domica­lio. No estudo MGHfC, 51 por cento das criana§as com infecção aguda de SARS-CoV-2 vieram de comunidades de baixa renda em comparação com 2 por cento de comunidades de alta renda.

Em outra descoberta revoluciona¡ria do estudo, os pesquisadores desafiam a hipa³tese atual de que, como as criana§as tem menor número de receptores imunológicos para SARS-CoV2, isso as torna menos propensas a se infectar ou ficar gravemente doentes. Os dados do grupo mostram que, embora as criana§as mais novas tenham um número menor do receptor do va­rus do que as criana§as mais velhas e os adultos, isso não se correlaciona com uma carga viral reduzida. Segundo os autores, esse achado sugere que as criana§as podem ser portadoras de alta carga viral, o que significa que são mais contagiosas, independentemente de sua suscetibilidade a desenvolver infecção por COVID-19.

Os pesquisadores também estudaram a resposta imune em MIS-C, uma infecção sistemica de maºltiplos órgãos que pode se desenvolver em criana§as com COVID-19 várias semanas após a infecção. As complicações da resposta imune acelerada observada em MIS-C podem incluir problemas carda­acos graves, choque e insuficiência carda­aca aguda. “Essa éuma complicação grave em decorraªncia da resposta imunola³gica a  infecção pelo COVID-19, e o número desses pacientes estãocrescendo”, diz Fasano, que também éprofessor de Pediatria na Harvard Medical School (HMS). “E, como em adultos com essas complicações sistemicas muito graves, o coração parece ser o órgão favorito visado pela resposta imune pa³s-COVID-19”, acrescenta Fasano.

Compreender o MIS-C e as respostas imunes pa³s-infecciosas de pacientes pedia¡tricos com COVID-19 éfundamental para o desenvolvimento dos pra³ximos passos nas estratanãgias de tratamento e prevenção, de acordo com os pesquisadores. Os primeiros insights sobre a disfunção imunola³gica no MIS-C devem exigir cautela ao desenvolver estratanãgias de vacinas, observa Yonker.

Como pediatras do MGHfC, Yonker e Fasano estãoconstantemente respondendo a perguntas dos pais sobre o retorno seguro de seus filhos a  escola e creche. Eles concordam que a questãomais cra­tica équais etapas as escolas ira£o implementar "para manter as criana§as, professores e funciona¡rios seguros." As recomendações de seu estudo, que inclui 30 co-autores do MGHfC, MGH, HMS, Instituto de Tecnologia de Massachusetts, Hospital Brigham and Women's e Escola de Saúde Paºblica Harvard TH Chan, incluem não depender da temperatura corporal ou monitoramento dos sintomas para identificar SARS-CoV -2 infecção no ambiente escolar.

Os pesquisadores enfatizam medidas de controle de infecção, incluindo distanciamento social, uso de ma¡scara universal (quando implementa¡vel), protocolos eficazes de lavagem das ma£os e uma combinação de aprendizagem remota e presencial. Eles consideram a triagem de rotina e conta­nua de todos os alunos para infecção por SARS-CoV-2, com relatórios oportunos dos resultados, uma parte fundamental de uma pola­tica de retorno a  escola seguro.

“Este estudo fornece fatos muito necessa¡rios para que os formuladores de políticas tomem as melhores decisaµes possa­veis para escolas, creches e outras instituições que atendem criana§as”, diz Fasano. “As criana§as são uma possí­vel fonte de disseminação do va­rus e isso deve ser levado em consideração nas etapas de planejamento para a reabertura de escolas”.

Fasano teme que um retorno apressado a  escola sem um planejamento adequado possa resultar em um aumento nos casos de infecções por COVID-19. “Se as escolas fossem reabertas totalmente sem as precauções necessa¡rias, éprova¡vel que as criana§as desempenhem um papel maior nesta pandemia”, concluem os autores.

A pesquisa foi apoiada pelo Instituto Nacional de Coração, Pulma£o e Sangue, Fundação de Fibrose Ca­stica, Instituto Nacional de Saúde Infantil e Desenvolvimento Humano, Instituto Nacional de Diabetes e Doena§as Digestivas e Renais, Instituto Nacional de Alergia e Doena§as Infecciosas, os Centros de Controle e Prevenção de Doena§as, o Departamento de Pediatria do MGH, o Departamento de Obstetra­cia / Ginecologia do MGH e doadores privados. 

 

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