Saúde

Como ajudar as criana§as em tempos difa­ceis (como agora)
Quer esteja relacionado ao COVID-19 ou qualquer outra coisa, éimportante ouvir.
Por Kathy Katella - 30/08/2020



Em meio a  pandemia - e no que tem sido um ano difa­cil em geral - as criana§as estãolutando com questões difa­ceis. "Uma das melhores coisas que um pai pode fazer éouvir", diz Steven Marans, MSW, PhD, psicanalista adulto e infantil da Medicina de Yale e chefe da Seção de Trauma do Centro de Estudos Infantis de Yale - Crédito: Getty Images


Viver a vida hoje em dia édifa­cil para um adulto. Então, imagine como épara as criana§as. Eles não podem ver seus amigos porque escolas e campos estãofechados devido a  pandemia . Eles não tem permissão para ir a festas de aniversa¡rio ou pijamas. Os pais podem estar frustrados - porque estãotentando trabalhar em casa , ou talvez um ou ambos estejam desempregados, preocupados com dinheiro ou doentes com COVID-19 . Além disso, houve um aumento no conflito pola­tico nacional, bem como confrontos sobre questões de injustia§a racial que muitas criana§as não estãoacostumadas a ver.

As criana§as estãolutando com questões difa­ceis, e uma das melhores coisas que um pai pode fazer éouvi-las, diz Steven Marans, MSW, PhD , psicanalista adulto e infantil da Medicina de Yale e chefe da Seção de Trauma do Child Study Center, que trabalhou em estreita colaboração com as administrações anteriores da Casa Branca, membros do Congresso e outros lideres para tratar da saúde mental e outras questões relacionadas a trauma, terrorismo e desastres nacionais. Em um ano marcado pela COVID-19, questões raciais, uma economia em crise e uma eleição presidencial divisiva, ele diz que os pais precisam primeiro reconhecer suas próprias emoções e reações de estresse para estar mais atentos a s respostas de seus filhos aos eventos recentes.

“Então, se as criana§as estãotendo 'grandes sentimentos' - ou mostrando sinais de angaºstia - éuma oportunidade de apertar o botão de pausa e ajuda¡-los a reconhecer e refletir sobre esses sentimentos”, diz Marans.

Ele nos falou sobre como ajudar as criana§as a entender seus sentimentos em relação a  pandemia e sobre o que tem sido um ano difa­cil em geral.

Como a pandemia estãoafetando as criana§as?

Portanto, o imediatismo para as criana§as pode ser tanto sobre as interrupções em suas vidas quanto sobre o medo do pra³prio COVID-19. Um dos maiores impactos tem sido o rompimento das rotinas, principalmente no que diz respeito a  escola e a s ligações sociais. Isso éverdade para criana§as e adolescentes. Claro, os problemas tornam-se muito diferentes e muito maiores se, por exemplo, um membro da familia ou amigo estãodoente com o va­rus, o que pode causar diferentes na­veis de estresse dependendo do grau da doena§a. Ou pior, se lidar com a perda de um ente querido devido ao va­rus.  

E a ideia de que as criana§as são mais resilientes?

O desenvolvimento infantil estãorepleto de desafios, conflitos e crises normais. a‰ o doma­nio dessas lutas e conflitos normais que ajuda as criana§as a se tornarem cada vez mais dominadoras de si mesmas e de seus mundos. Então, isso éverdade.

Mas, quando as criana§as estãolidando com angaºstia e fontes de ansiedade que estãoalém de suas capacidades, elas estãomais propensas a desenvolver respostas sintoma¡ticas. Além do mais, existem criana§as e adultos que já enfrentam uma sanãrie de desafios para estabilidade, saúde e bem-estar. Para eles, a pandemia estãoadicionando mais uma camada de perigo e adversidade potencial.

Como os pais podem ajudar os filhos a enfrentar esses desafios?

Estamos mais interessados ​​em primeiro ajudar os pais a diminuir o volume de suas próprias reações de estresse, porque as criana§as recorrem aos adultos em busca de estabilidade emocional, bem como de estrutura, previsibilidade e ordem. Existe a abordagem “mostre-me, não me diga” para demonstrar que as rotinas e expectativas normais de vida ainda existem, mesmo em meio a interrupções. Mas se os adultos estãoansiosos, deprimidos ou oprimidos, podem ficar mais irrita¡veis ​​ou impacientes com os filhos, mesmo sem perceber. Isso pode ter um impacto direto em como as criana§as vivenciam suas vidas.

Depois de abordar seus pra³prios problemas como pai, vocêpode pensar do ponto de vista da criana§a. Todo pai sabe quando seu filho de repente estãoentrando em batalhas sobre a hora de dormir, por exemplo, mas não étão fa¡cil parar e perguntar: "O que isso significa?"

Vocaª teve um longo dia e éfa¡cil não perceber que seu filho pode estar comunicando algo sobre como estãose sentindo. Se vocêpuder entender que algumas dessas dificuldades podem ser reflexos da incapacidade de seu filho de controlar e expressar sua ansiedade, vocêestara¡ dando um passo para ajudar seu filho a fazer uma pausa, para que ele possa pensar sobre o que estãosentindo e porque. Essas são habilidades importantes para desenvolver e praticar em qualquer idade.

Ha¡ perguntas que vocêpode fazer a eles?

Nãose trata tanto de perguntar a  criana§a: "Como vocêesta¡?" repetidamente ao longo do dia, o que pode se tornar contraproducente. Em vez disso, os pais podem “abrir a porta” para ouvir o que se passa na mente de seus filhos.

Pergunte-lhes que perguntas ou pensamentos eles tem sobre o que estãoacontecendo ao seu redor. Se um pai estãoreconhecendo que estãotendo mais lutas com seu filho, ele pode dizer: "Continuamos tendo lutas. Vocaª percebeu isso?" E então a conversa pode ir para: "Lutas com outras pessoas geralmente acontecem quando estamos tendo sentimentos grandes / intensos. E eu me perguntei se hálgumas coisas sobre as quais vocêpode estar tendo sentimentos grandes / intensos, qualquer coisa sobre o qual queira falar —Qualquer preocupação que vocêesteja tendo. "

E se seu filho parecer preocupado com COVID-19 especificamente?

Primeiro, apresente o ta³pico da experiência compartilhada de todos sobre o impacto da pandemia e sua curiosidade sobre quais pensamentos e sentimentos seu filho e seus amigos podem estar tendo.

Ouvir éo primeiro passo para identificar se seus filhos estãopreocupados ou não e quais perguntas especa­ficas eles podem ter. Frequentemente, na ausaªncia de palavras, os medos não expressos podem tomar várias direções. Por exemplo, quando estamos preocupados com pensamentos assustadores, podemos sentir desconforto em nosso corpo de maneiras que descrevemos como ansiedade ou estresse. Por sua vez, essas experiências físicas alimentam o tipo de pensamentos de medo que temos e ficamos presos no que pode ser um ciclo vicioso e desagrada¡vel.

Assim que estivermos mais cientes das preocupações e perguntas especa­ficas de nossos filhos, podemos recorrer a s informações atualizadas fornecidas pelo CDC [Centros para Controle e Prevenção de Doena§as] e, aqui em Yale, pela linha direta COVID-19 . Ser capaz de conhecer e seguir os conselhos atuais éum bom ponto de partida para responder ao que estamos ouvindo de nossos filhos. Usando esses recursos, vocêdiz: "Aqui estãoas diretrizes que estamos seguindo. Mas, ainda assim, faz sentido que vocêesteja meio que farto da pandemia e que esteja frustrado". Então vocêpode falar sobre suas frustrações.

Se um dos pais ou membro da familia estãodoente, vocêprecisa falar sobre os diferentes impactos que COVID-19 pode ter nas pessoas, o impacto especa­fico no membro da familia e as preocupações, medos e daºvidas compreensa­veis que a criana§a pode ter. Neste contexto, vocêpode abrir melhor a porta para qualquer daºvida que a criana§a tenha e ouvir suas preocupações.

E quanto a problemas como pola­tica e questões raciais que podem ser perturbadores para as criana§as?

Acho que éuma oportunidade incrivelmente importante de nos envolvermos em discussaµes com nossos filhos sobre elementos da história de nossopaís e nossa situação atual com relação ao racismo, injustia§a e desigualdades.

Um ponto de partida para discussaµes para adultos e criana§as éperguntar sobre o que pensam sobre suas próprias experiências e as de outras pessoas com racismo e desigualdade. A discussão pode incluir questões sobre como eles tem sido tratados, como vaªem o impacto do racismo sistemico, bem como explorar a história e a experiência atual da discriminação racial em nossopaís. Pode fornecer um contexto para considerar o que pensamos que “justia§a para todos” realmente deveria significar.

Nessas discussaµes, podemos demonstrar uma mensagem importante e mais ampla para nossos filhos: afastar-se e ignorar os problemas nunca éuma solução eficaz.

Muita informação pode ser opressora?

O tamanho do mundo de uma criana§a depende de onde ela estãono desenvolvimento. Aqui estãouma breve ilustração. Depois do 11 de setembro, fui convidado para um programa de TV e recebi um telefonema de uma ma£e em Manhattan que estava preocupada porque seu filho de 4 anos estava constantemente construindo torres de blocos e fingindo que jogava coisas nelas. Ao falar com a ma£e, percebi que ela e o marido estavam extremamente ansiosos depois do 11 de setembro. Eles falavam sobre os ataques o tempo todo, e as nota­cias estavam no ar o tempo todo. Compreensivelmente, dada a fase de desenvolvimento da criana§a, ela estava tendo uma reação não apenas a  exposição constante a nota­cias assustadoras, mas também a  ansiedade de seus pais.

a‰ uma inclinação natural querer mais informações que nos ajudem a entender eventos perturbadores. Mas assistir ao noticia¡rio compulsiva e frequentemente apenas aumenta a excitação estressante. Os pais que são sensa­veis a seu pra³prio consumo de nota­cias sera£o mais capazes de ajudar os filhos a entender o que estãovendo e ouvindo de suas próprias perspectivas.

Além disso, os pais podem ajudar seus filhos mais velhos, que podem estar optando por assistir ao noticia¡rio sozinhos, a pensar se a frequência com que eles checam as nota­cias éútil ou se a s vezes se torna menos útil e mais estressante. Isso não deve ser uma palestra; em vez disso, deve abrir a porta para uma discussão.

Como os adolescentes são diferentes em tudo isso?

O desenvolvimento do adolescente anã, em parte, alcana§ar um senso de autonomia e independaªncia, e isso inclui a capacidade de ter suas próprias ideias. a€s vezes, essas ideias são acompanhadas por sentimentos poderosos, por isso precisamos dar aos adolescentes uma plataforma onde eles possam se sentir ouvidos. Poranãm, precisamos lembrar o contexto em que eles cresceram e como isso pode afetar sua resposta aos eventos atuais.

Para aqueles que tiveram experiências com discriminação e maus-tratos em situações especa­ficas e como resultado do racismo sistemico, éimportante fornecer oportunidades conta­nuas para dar voz a s suas próprias experiências e sentimentos no contexto de reconhecer as lutas compartilhadas mais amplas, bem como apoiar o engajamento em atividades que visem garantir o reconhecimento e mudança sistemica.

Como os pais podem criar uma base para sua familia para ajudar todos a ter mais resiliencia?

Essa éuma grande questão. Novamente, acho que vocêpode enfatizar coisas simples como rotinas. Pode ajudar a reconhecer o significado por trás do comportamento das criana§as quando elas estãose comportando de maneiras mais desafiadoras e contraproducentes. Vocaª pode lembrar aos filhos que sua familia estãose distanciando fisicamente e tomando outras medidas para se manter segura, e tranquiliza¡-los sobre sua própria saúde e a de outros membros da familia - e, se alguém estiver doente, fornea§a os fatos. Certifique-se de que as criana§as tenham atividades que ocupem suas mentes de outras maneiras, seja leitura, jogos, música ou trabalho escolar. Se eles estãose sentindo muito estressados, exerca­cios de atenção plena podem ajudar.

Como seres humanos, nenhum de nosgosta de se sentir fora de controle. Odiamos nos sentir desamparados. Mas nossas reações humanas ba¡sicas a essas experiências não são sinais de fraqueza - são reações comuns. Acho que quando somos capazes de reconhecer que não estamos sozinhos, podemos comea§ar a reforçar as maneiras pelas quais apoiamos uns aos outros - e aos nossos filhos - durante os momentos difa­ceis.

 

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