Saúde

Estudo sugere novas funções para a vitamina C na saúde e na agricultura
Vitamina C reduz oxidaa§a£o de protea­na, o que pode aumentar crescimento de plantas e reduzir virulência de bactanãrias e fungos
Por Júlio Bernardes - 01/09/2020


Pesquisa que mostra o papel da vitamina C na redução da oxidação de protea­nas existentes nas células dos seres vivos pode render possa­veis aplicações na agricultura, para melhorar o desempenho de plantas, e na saúde, em fa³rmulas que diminuam a virulência de fungos e bactanãrias osFotomontagem: Jornal da USP
 
Avitamina C écapaz de reduzir a oxidação de protea­nas existentes nas células dos seres vivos, aponta estudo do Centro de Pesquisa de Processos Redox em Biomedicina (Redoxoma).  Atravanãs de experimentos em laboratório sobre a velocidade desse processo, os pesquisadores descobriram inda­cios de que ele émais frequente quando as células estãoem locais com altas concentrações de vitamina C, como por exemplo, nas plantas. Os resultados do estudo podera£o ser usados em aplicações na agricultura, para melhorar o desempenho de cultivos, e na saúde, em fa³rmulas para reduzir a virulência de bactanãrias e fungos.

O Redoxoma, sediado no Instituto de Quí­mica (IQ) da USP, éum dos Centros de Pesquisa,Inovação e Difusão (Cepids) apoiados pela Fundação de Amparo a  Pesquisa do Estado de Sa£o Paulo (Fapesp).

“A vitamina C, ou ascorbato, éum antioxidante bem conhecido que atua, por exemplo, como um fator associado a  sa­ntese de cola¡geno”, afirma o professor Luis Eduardo Soares Netto, do Instituto de Biociências (IB) da USP, que coordenou a pesquisa. “O estudo se concentrou numa reação pouco estudada, que éa redução de compostos derivados de enxofre, no caso o a¡cido sulfaªnico, que éa forma oxidada dos tia³is, estruturas existentes em protea­nas. A vitamina C écapaz de reduzir o a¡cido sulfaªnico, regenerando os tia³is.”

Por meio de experimentos in vitro, realizados em laboratório, a pesquisa analisou oxidações que acontecem com protea­nas que contanãm tia³is. “Alguns desses tia³is oxidam com muita facilidade, quando entram em contato com moléculas como as da águaoxigenada (pera³xido de hidrogaªnio)”, explica o professor ao Jornal da USP. “O produto dessa oxidação éo a¡cido sulfaªnico. Nas reações estudadas, a águaoxigenada égerada dentro das células, durante processos para obtenção de energia.”

Os testes feitos pelos pesquisadores mostraram que a vitamina C reverte esse processo de oxidação das protea­nas, com o a¡cido sulfaªnico voltando a sua forma original, os tia³is. “Esses tia³is voltam a ter a capacidade de impedir a oxidação de moléculas existentes nas células, como o DNA e os lipa­deos existentes na membrana celular”, destaca Soares Netto. O estudo calculou a velocidade da reação entre a vitamina C e o a¡cido sulfaªnico, utilizando a fa³rmula desenvolvida pelo pesquisador Gerardo Ferrer Sueta, da Universidad de La Republica, no Uruguai. “Os resultados mostram inda­cios de que essa reação acontece com mais frequência em células de seres vivos que estãoem locais onde háelevada concentração de vitamina C, como por exemplo, em plantas.”

Novos papeis para a vitamina C

De acordo com o professor, os resultados do trabalho sugerem novos papanãis para a vitamina C. “As plantas tem, em geral, na­veis bastante altos de ascorbato, o qual tem sido relacionado ao desenvolvimento, envelhecimento e germinação das sementes”, observa. “Estamos estudando os mecanismos de redução da oxidação da enzima 1-Cys peroxirredoxina no núcleo das células das sementes pela vitamina C, que acreditamos ter um papel importante na germinação. Portanto, esse processo pode ser importante na agricultura, para melhorar o desempenho de plantas.”

Em bactanãrias, a enzima 1-Cys peroxirredoxina estãoenvolvida na virulência, ressalta Soares Neo. “Num trabalho em colaboração com o grupo da professora Regina Baldini, do Instituto de Quí­mica (IQ) da USP, mostramos que se vocêtira o gene que codifica essa enzina da bactanãria Pseudomonas aeruginosa, ela deixa de ser virulenta em camundongos”, aponta. “E o aºnico redutor dessa enzima éo ascorbato. Portanto, esse processo pode ser relevante para saúde, ajudando a desvendar novos mecanismos associados com virulência de bactanãrias.”

O professor relata que os fungos patogênicos do gaªnero Aspergillus possuem três 1-Cys peroxirredoxinas e, atéo momento, o aºnico redutor proposto para elas éo ascorbato. Dessa forma, a redução pode contribuir também para entender os processos ligados a  virulência de fungos”, conclui. A pesquisa édescrita no artigo Reduction of sulfenic acids by ascorbate in proteins, connecting thiol-dependent to alternative redox pathways, publicado em 20 de agosto na revista Free Radical Biology and Medicine.

Sobre o consumo de vitamina C, o professor lembra que ela éresponsável por vários processos no organismo, inclusive a sa­ntese de cola¡geno e a redução de protea­nas. “Obter vitamina C atravanãs da alimentação não tem efeitos colaterais”, ressalta. “Já quando isso éfeito por meio de suplementos, épreciso cuidado”.

No IB, os experimentos sobre a velocidade da redução foram realizados pela doutoranda Valesca Anschau, que teve a colaboração de Roganãrio Luis Aleixo Silva, Renata Bannitz Fernandes, Carlos Tairum e do professor Luis Eduardo Soares Neo. O trabalho também teve a participação de Gerardo Ferrer-Sueta, da Universidad de La República (Uruguai), de Celisa Caldana Costa Tonoli e Mario Tyago Murakami, do Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM), sediado em Campinas (interior de Sa£o Paulo), e de Marcos Antonio de Oliveira, do Instituto de Biociências (IB) da Unesp, em Sa£o Vicente (litoral de Sa£o Paulo).

 

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