Saúde

Identificadas alterações no cérebro comuns a seis tipos de transtornos psiquia¡tricos
Estudo internacional mostra que alteraçaµes coincidem com distribuia§a£o de células essenciais para o funcionamento do cérebro
Por Júlio Bernardes - 11/09/2020


Consãorcio internacional de pesquisadores analisou imagens de ressonância magnanãtica do cérebro de aproximadamente 30 mil pessoas em todo o mundo, para comparar alterações na camada superficial do cérebro (cortex) em seis tipos de transtornos psiquia¡tricos osIlustração: Cleber Siquette
 
O cortex, a camada mais superficial do cérebro, pode apresentar alterações sutis em sua espessura em pacientes que sofrem de transtornos psiquia¡tricos. Por esse motivo, um consãorcio internacional de pesquisadores analisou imagens de ressonância magnanãtica do cérebro de milhares de pessoas em todo o mundo e verificou que um mesmo padrãode alterações estãopresente em portadores de seis tipos diferentes de transtornos. Além disso, o estudo revelou que a localização dessas alterações coincide com a distribuição de alguns tipos de células essenciais para o funcionamento do cérebro, identificadas como alvos para novos estudos sobre os mecanismos biola³gicos associados aos sintomas mentais. O trabalho teve a participação de grupos de pesquisadores do Instituto de Psiquiatria (IPq) do Hospital das Cla­nicas (HC) da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP).

A pesquisa, descrita em artigo da revista JAMA Psychiatry, foi realizada por um consãorcio de cientistas reunidos no grupo ENIGMA, coordenado pelo professor Paul Thompson, da South California University (Estados Unidos). “O grupo aplicou uma metodologia para a análise das imagens do cérebro de aproximadamente 30 mil pessoas, metade com transtornos psiquia¡tricos e metade sem transtornos”, relata ao Jornal da USP o professor Geraldo Busatto Filho, da FMUSP, que participou da pesquisa. “Os processamentos das amostras individuais foram realizados por grupos de cientistas de diversospaíses e reunidos numa metanálise geral dos resultados obtidos.”

 “Esse tipo de metanálise, realizada por consãorcios de pesquisadores, émuito importante para introduzir novas formas de processamento de dados de neuroimagem, que depois são incorporadas a outras pesquisas desenvolvidas no instituto”, afirma. “Além da reunia£o de estudiosos, o acesso a outras bases de informações sobre expressão gaªnica no cérebro humano permitiu realizar um trabalho de pesquisa de grandesDimensões usando dados virtuais, trazendo resultados que não podem ser obtidos em tão larga escala usando outros manãtodos, por exemplo, por meio de auta³psias de cérebros individuais”


Segundo o professor, o primeiro objetivo do estudo foi verificar se hásemelhanças na distribuição regional das alterações da espessura do cortex cerebral em seis diferentes diagnósticos psiquia¡tricos: transtorno de danãficit de atenção e hiperatividade (TDAH), transtorno do espectro do autismo (ASD), transtorno bipolar (TB), transtorno depressivo maior (MDD), transtorno obsessivo-compulsivo (TOC) e esquizofrenia. “O cortex éa porção do cérebro humano responsável pelo processamento integrado de informações sensoriais e atividades mentais mais sofisticadas”, explica. “A ideia do estudo não foi a de caracterizar um padrãota­pico de alterações corticais para cada transtorno, mas sim identificar um padrãocomum a todos os diagnósticos.”

Padra£o compartilhado

A pesquisa confirmou a noção de que háum padrãocompartilhado de distribuição regional das alterações no cortex cerebral nos seis transtornos psiquia¡tricos analisados. “Ao mesmo tempo, o estudo demonstrou que esse padrãose assemelha ao padrãode distribuição espacial de algumas populações de células cerebrais”, aponta o professor. “Isso traz fortes inda­cios de quemudanças na espessura do cortex cerebral associadas aos transtornos psiquia¡tricos refletem alterações de mecanismos celulares específicos, e que tais mecanismos são comuns a vários tipos de diagnósticos.”

Os pesquisadores também avaliaram de que forma esse perfil compartilhado se assemelha com o padrãoespacial de expressão gaªnica de diferentes tipos de células cerebrais, usando informações da base de dados Allen Human Brain Atlas. “Por meio de manãtodos estata­sticos sofisticados, foi possí­vel correlacionar o padrãoespacial de alterações de espessura do cortex compartilhado pelos diferentes grupos de portadores de transtornos psiquia¡tricos com o padrãode distribuição regional de três populações celulares: células piramidais, astra³citos e micra³glia”, destaca Busatto Filho. “Essas células são muito importantes para o funcionamento do cérebro humano.”

De acordo com o professor, os estudos de neuroimagem realizados pelo grupo ENIGMA tem contribua­do para o avanço das pesquisas sobre os mecanismos cerebrais que podem estar alterados em associação aos sintomas mentais. “As conclusaµes deste tipo de trabalho podera£o servir de base para futuras pesquisas envolvendo o desenvolvimento de novos diagnósticos e tratamentos para transtornos psiquia¡tricos”, aponta o professor ao Jornal da USP. Os resultados da pesquisa são descritos no artigo Virtual Histology of Cortical Thickness and Shared Neurobiology in 6 Psychiatric Disorders, publicado na revista JAMA Psychiatry em 26 de agosto.

O professor relata que vários grupos do IPq que trabalham com neuroimagem psiquia¡trica contribua­ram com amostras de pacientes com os seis transtornos pesquisados. “Esse tipo de metanálise, realizada por consãorcios de pesquisadores, émuito importante para introduzir novas formas de processamento de dados de neuroimagem, que depois são incorporadas a outras pesquisas desenvolvidas no instituto”, afirma. “Além da reunia£o de estudiosos, o acesso a outras bases de informações sobre expressão gaªnica no cérebro humano permitiu realizar um trabalho de pesquisa de grandesDimensões usando dados virtuais, trazendo resultados que não podem ser obtidos em tão larga escala usando outros manãtodos, por exemplo, por meio de auta³psias de cérebros individuais”, conclui.

 

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