Saúde

Levedura da Pena­nsula Anta¡rtica éalternativa para viabilizar tratamentos de câncer infantil
Pesquisa realizada na Faculdade de Ciências Farmacaªuticas avaliou amostras de levedura com potencial para produzir a enzima L-asparaginase
Por Antonio Carlos Quinto - 25/09/2020


Imagem de células em microsca³pio e morfologia da cola´nia de linhagem de L. muscorum osFonte: http://www.westerdijikinstitute.nl/collections, acesso em 12/12/18
 
Uma levedura proveniente da Pena­nsula Anta¡rtica chamada Leucosporidium muscorum vem sendo estudada como alternativa para a produção da enzima L-asparaginase, utilizada na indústria de alimentos e que, desde a década de 1970, faz parte do tratamento de alguns tipos de ca¢nceres de células linfoides. Segundo a pesquisadora Rominne Karla Barros Freire, a enzima tem mostrado ser importante no aumento da sobrevida (mais que 80%) de criana§as e jovens diagnosticados com Leucemia Linfobla¡stica Aguda (LLA), um tipo de câncer muito comum entre criana§as.

Buscar uma levedura que produzisse a L-asparaginase para tratamento da LLA foi o foco principal dos estudos de Rominne, que defendeu na Faculdade de Ciências Farmacaªuticas (FCF) da USP a tese de doutorado Produção de L-asparaginase pela levedura Leucosporidium muscorum CRM 1648 isolada de sedimento marinho coletado na Pena­nsula Anta¡rtica.

De acordo com a pesquisadora, existem três tipos de L-asparaginases, todas de origem bacteriana: a Escherichia coli, a Erwinia chrisanthemi e uma Escherichia coli peguilhada. “Embora sejam eficientes, causam muitos efeitos colaterais, com reações de hipersensibilidade que podem resultar na interrupção do tratamento”, observa Rominne. Por isso, segundo ela, “as pesquisas relacionadas a  asparaginase tem investido na busca de novas fontes dessa enzima.”

Outra caracterí­stica das L-asparaginase de origem bacteriana éque elas possuem atividade glutamina¡sica. “Ou seja, além de metabolizar o aminoa¡cido asparagina, também pode metabolizar a glutamina”, descreve a pesquisadora. A glutamina ou L-glutamina éo aminoa¡cido mais abundante no corpo humano. a‰ uma das moléculas que formam a protea­na necessa¡ria para nutrir e reparar tecidos diversos, como a pele, unhas e maºsculos, entre outros. A atividade glutamina¡sica tem sido associada, segundo a pesquisadora, a efeitos neurota³xicos. “Por isso busquei uma L-asparaginase sem essa atividade”, justifica.

Do continente gelado

Coleta dos sedimentos na Pena­nsula Anta¡rtica foi realizada pela equipe da professora
Lara Dura£es Sette, da Unesp de Rio Claro, como parte do Programa Anta¡rtico
Brasileiro (Proantar/CNPq). Foto: Ilustração osRominne Karla Barros Freire

O Brasil não produz a L-asparaginase e depende de sua importação. De acordo com a pesquisadora, em 2013 a empresa que importava a enzima deixou de fornecaª-la e os estoques dos medicamentos estavam para acabar. “Seria um risco para as chances de cura de milhares de criana§as e jovens em tratamento para a leucemia linfobla¡stica aguda”, observa.

Por conta disso, o governo começou a incentivar pesquisas para a produção de uma asparaginase nacional. “Foi aa­ que optamos por analisar e avaliar leveduras provenientes da Pena­nsula Anta¡rtica”, conta Rominne. As amostras de Leucosporidium muscorum estãodepositadas na Central de Recursos Microbianos da Universidade Estadual Paulista (Unesp), de Rio Claro. Ela parece ser ta­pica de regiaµes polares e frias. “Ela são foi reportada nas Ilhas Sul da Nova Zela¢ndia, no arquipanãlago Savlbard, pra³ximo ao Alaska, e no meu trabalho, nas Ilhas Rei George, na Anta¡rtida”, conta.

Mas Rominne não teve de ir ao continente gelado em sua busca pelas enzimas, que são encontradas nos sedimentos marinhos daquela regia£o. Ela conta que a tarefa de coleta dos sedimentos éparte de um outro trabalho realizado pela equipe da professora Lara Dura£es Sette, da Unesp de Rio Claro, como parte do Programa Anta¡rtico Brasileiro (Proantar/CNPq), do governo federal. “Eu não tive acesso ao material de coleta. Recebi as culturas de leveduras já isoladas e avaliei mais de 130 amostras”, contabiliza a pesquisadora. Ela diz que nove amostras foram detectadas como possa­veis produtoras de L-Asparaginase, sendo a maioria da espanãcie Leucosporidium muscorum.

Publicação internacional

Parte do trabalho de Rominne acaba de ser veiculada no Preparative Biochemistry & Biotechnology no artigo intitulado Glutaminase-free L-asparaginase production by Leucosporidium muscorum isolated from Antarctic marine-sediment.

Além das análises e experimentos realizados atéo momento, a pesquisadora informa que uma startup vem produzindo a asparaginase de Escherichia coli, a mesma já utilizada como medicamento, poranãm geneticamente melhorada em relação a s que estãono mercado, prometendo maior estabilidade e menos efeitos colaterais. “Ela estãoem fase inicial de produção”, conta Rominne. A produção seráda empresa BioBreyer que foi idealizada por Carlos Breyer, que realizou seu pa³s-doutorado em Biotecnologia na FCF da USP.

 

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