Levedura da Penansula Anta¡rtica éalternativa para viabilizar tratamentos de câncer infantil
Pesquisa realizada na Faculdade de Ciências Farmacaªuticas avaliou amostras de levedura com potencial para produzir a enzima L-asparaginase
Imagem de células em microsca³pio e morfologia da cola´nia de linhagem de L. muscorum osFonte: http://www.westerdijikinstitute.nl/collections, acesso em 12/12/18
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Uma levedura proveniente da Penansula Anta¡rtica chamada Leucosporidium muscorum vem sendo estudada como alternativa para a produção da enzima L-asparaginase, utilizada na indústria de alimentos e que, desde a década de 1970, faz parte do tratamento de alguns tipos de ca¢nceres de células linfoides. Segundo a pesquisadora Rominne Karla Barros Freire, a enzima tem mostrado ser importante no aumento da sobrevida (mais que 80%) de criana§as e jovens diagnosticados com Leucemia Linfobla¡stica Aguda (LLA), um tipo de câncer muito comum entre criana§as.
Buscar uma levedura que produzisse a L-asparaginase para tratamento da LLA foi o foco principal dos estudos de Rominne, que defendeu na Faculdade de Ciências Farmacaªuticas (FCF) da USP a tese de doutorado Produção de L-asparaginase pela levedura Leucosporidium muscorum CRM 1648 isolada de sedimento marinho coletado na Penansula Anta¡rtica.
De acordo com a pesquisadora, existem três tipos de L-asparaginases, todas de origem bacteriana: a Escherichia coli, a Erwinia chrisanthemi e uma Escherichia coli peguilhada. “Embora sejam eficientes, causam muitos efeitos colaterais, com reações de hipersensibilidade que podem resultar na interrupção do tratamentoâ€, observa Rominne. Por isso, segundo ela, “as pesquisas relacionadas a asparaginase tem investido na busca de novas fontes dessa enzima.â€
Outra característica das L-asparaginase de origem bacteriana éque elas possuem atividade glutamina¡sica. “Ou seja, além de metabolizar o aminoa¡cido asparagina, também pode metabolizar a glutaminaâ€, descreve a pesquisadora. A glutamina ou L-glutamina éo aminoa¡cido mais abundante no corpo humano. a‰ uma das moléculas que formam a proteana necessa¡ria para nutrir e reparar tecidos diversos, como a pele, unhas e maºsculos, entre outros. A atividade glutamina¡sica tem sido associada, segundo a pesquisadora, a efeitos neurota³xicos. “Por isso busquei uma L-asparaginase sem essa atividadeâ€, justifica.
Do continente gelado
Coleta dos sedimentos na Penansula Anta¡rtica foi realizada pela equipe da professora
Lara Dura£es Sette, da Unesp de Rio Claro, como parte do Programa Anta¡rtico
Brasileiro (Proantar/CNPq). Foto: Ilustração osRominne Karla Barros Freire
O Brasil não produz a L-asparaginase e depende de sua importação. De acordo com a pesquisadora, em 2013 a empresa que importava a enzima deixou de fornecaª-la e os estoques dos medicamentos estavam para acabar. “Seria um risco para as chances de cura de milhares de criana§as e jovens em tratamento para a leucemia linfobla¡stica agudaâ€, observa.
Por conta disso, o governo começou a incentivar pesquisas para a produção de uma asparaginase nacional. “Foi aa que optamos por analisar e avaliar leveduras provenientes da Penansula Anta¡rticaâ€, conta Rominne. As amostras de Leucosporidium muscorum estãodepositadas na Central de Recursos Microbianos da Universidade Estadual Paulista (Unesp), de Rio Claro. Ela parece ser tapica de regiaµes polares e frias. “Ela são foi reportada nas Ilhas Sul da Nova Zela¢ndia, no arquipanãlago Savlbard, pra³ximo ao Alaska, e no meu trabalho, nas Ilhas Rei George, na Anta¡rtidaâ€, conta.
Mas Rominne não teve de ir ao continente gelado em sua busca pelas enzimas, que são encontradas nos sedimentos marinhos daquela regia£o. Ela conta que a tarefa de coleta dos sedimentos éparte de um outro trabalho realizado pela equipe da professora Lara Dura£es Sette, da Unesp de Rio Claro, como parte do Programa Anta¡rtico Brasileiro (Proantar/CNPq), do governo federal. “Eu não tive acesso ao material de coleta. Recebi as culturas de leveduras já isoladas e avaliei mais de 130 amostrasâ€, contabiliza a pesquisadora. Ela diz que nove amostras foram detectadas como possaveis produtoras de L-Asparaginase, sendo a maioria da espanãcie Leucosporidium muscorum.
Publicação internacional
Parte do trabalho de Rominne acaba de ser veiculada no Preparative Biochemistry & Biotechnology no artigo intitulado Glutaminase-free L-asparaginase production by Leucosporidium muscorum isolated from Antarctic marine-sediment.
Além das análises e experimentos realizados atéo momento, a pesquisadora informa que uma startup vem produzindo a asparaginase de Escherichia coli, a mesma já utilizada como medicamento, poranãm geneticamente melhorada em relação a s que estãono mercado, prometendo maior estabilidade e menos efeitos colaterais. “Ela estãoem fase inicial de produçãoâ€, conta Rominne. A produção seráda empresa BioBreyer que foi idealizada por Carlos Breyer, que realizou seu pa³s-doutorado em Biotecnologia na FCF da USP.