Saúde

Pra³polis vermelha tem substâncias que inibem o crescimento de células cancera­genas
Os cientistas compararam o desempenho das duas substâncias promissoras com a doxorrubicina, quimiotera¡pico utilizado no tratamento do ca¢ncer.
Por Henrique Fontes - 08/10/2020


Estudo realizado por grupo de cientistas mostrou que dois compostos do produto foram capazes de conter a multiplicação de células com câncer de mama, cérebro, ova¡rio e pra³stata. Foto: Thais Banzato

Historicamente conhecida por ter compostos com ação anti-inflamata³ria, a pra³polis podera¡ dar origem a produtos com novas funções no futuro, de acordo com um estudo preliminar que envolveu pesquisadores do Instituto de Quí­mica de Sa£o Carlos (IQSC) da USP. Apa³s descobrirem oito substâncias inanãditas da pra³polis vermelha, extraa­da de colmeias em Alagoas, os cientistas observaram que duas delas foram capazes de inibir o crescimento de células de câncer de mama, pra³stata, cérebro (glioma) e ova¡rio, levando 50% delas a  morte em testes iniciais realizados no laboratório. A pesquisa foi publicada na revista cienta­fica internacional Journal of Natural Products.

No trabalho, os cientistas compararam o desempenho das duas substâncias promissoras com a doxorrubicina, quimiotera¡pico utilizado no tratamento do ca¢ncer. Nos primeiros testes realizados in vitro, os compostos da pra³polis vermelha se mostraram tão eficazes quanto o medicamento. No entanto, muitos anos de estudo, que incluem pesquisas cla­nicas, ainda precisam ser realizados para comprovar a ação destas substâncias que, “se forem realmente eficientes, talvez possam se tornar mais uma alternativa para tratar a doena§a”, afirma Roberto Berlinck, professor do IQSC e um dos autores do estudo, que foi desenvolvido no a¢mbito do Programa de Pesquisas em Caracterização, Conservação, Restauração e Uso Sustenta¡vel da Biodiversidade (BIOTA), da Fundação de Amparo a  Pesquisa do Estado de Sa£o Paulo (Fapesp).


A pra³polis vermelha tem o Brasil como um de seus maiores produtores mundiais -
Foto: Thais Banzato

A pra³polis éformada após as abelhas coletarem resinas presentes nas a¡rvores e plantas e depositarem o material na colmeia, onde ele émisturado com cera, a³leos e outras secreções atéatingir a sua composição final, que serve de proteção para as polinizadoras contra a ação de fungos e bactanãrias. Mais rara que a pra³polis verde, amarela e marrom, a pra³polis vermelha tem o Brasil como um de seus maiores produtores mundiais. Encontrado exclusivamente no Estado de Alagoas, o composto éproduzido por abelhas da espanãcie Apis mellifera, que se alimentam de uma resina avermelhada presente nos caules da a¡rvore Dalbergia ecastaphyllum, popularmente conhecida como rabo-de-bugio.

Com estruturas atéentão desconhecidas pela ciaªncia, as novas substâncias isoladas da pra³polis vermelha fazem parte da classe dos polifena³is, compostos naturais abundantes na natureza, principalmente em plantas, e conhecidos por sua atividade antioxidante, antibactericida e antifúngica. Os polifena³is podem ser encontrados na soja, cereais, vegetais e suco de uva, tendo, inclusive, seu consumo indicado em dietas ricas em vegetais. Outra função dessas substâncias éa de proteção das plantas contra a radiação ultravioleta, atuando como uma espanãcie de “protetor” solar dos vegetais. Diversos polifena³is também conferem diferentes cores a flores e folhas de a¡rvores durante o outono.
 
Passo a passo da ciaªncia

De forma geral, os polifena³is não são considerados candidatos promissores para o desenvolvimento de medicamentos, pois eles se ligam a todos os tipos de protea­nas, enquanto uma droga precisa ter como alvo uma protea­na especa­fica. Com a nova descoberta, no entanto, a ideia éinvestigar mais a fundo as propriedades das duas substâncias que foram eficientes contra as células cancera­genas. Um dos pra³ximos passos do estudo éentender como elas são formadas, descobrindo se os compostos surgem diretamente na resina das a¡rvores ou se são concebidos pela própria ação das polinizadoras. Posteriormente, os pesquisadores pretendem obter quantidades maiores das substâncias para realizar novos testes, inclusive em camundongos, a fim de avaliar sua atividade antitumoral nos animais. “a‰ muito difa­cil descobrir um novo medicamento, pois diversos testes devem ser realizados. O tempo para se produzir um novo fa¡rmaco varia de 15 a 20 anos, e apenas uma substância a cada 10 mil chega a ser comercializada. Mas éuma pesquisa muito importante, pois queremos descobrir novas formas de tratar o ca¢ncer”, explica Berlinck.  

O estudo contou com a participação de uma grande equipe de pesquisadores. Além do docente do IQSC, participaram do trabalho alunos de mestrado e doutorado do instituto; cientistas da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) da USP, em Piracicaba; do Fox Chase Cancer Center, dos Estados Unidos; do Instituto de Quí­mica e do Centro Pluridisciplinar de Pesquisas Quí­micas, Biola³gicas e Agra­colas (CPQBA) da Unicamp; da Universidade Federal da Grande Dourados (MS); da Universidade Sa£o Francisco, em Bragana§a Paulista (SP); e da Universidade Federal de Sa£o Carlos (UFSCar).

 

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