Saúde

Descoberta envolvendo protea­nas reforça necessidade de se fazer pesquisa biomédica com ambos os sexos
Variaa§a£o dos na­veis das protea­nas PTEN e Klotho de acordo com o sexo dos animais pode estar ligada ao desenvolvimento de doenças e resposta a tratamentos
Por Angela Trabbold - 14/02/2021


Pixabay

Estudo realizado no Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da USP com camundongos machos e faªmeas revelou diferenças como cada sexo expressa duas protea­nas importantes para o sistema nervoso central, responsa¡veis pelo controle de diversas funções celulares: PTEN e Klotho. A descoberta, publicada em artigo na revista Scientific Reports, mostra que a variação dos na­veis das protea­nas de acordo com o sexo pode estar relacionada ao desenvolvimento de doenças e atémesmo a  resposta a tratamentos. Para a professora Elisa Mitiko Kawamoto, que conduziu o estudo, a descoberta evidencia a importa¢ncia de se fazer pesquisa com ambos os sexos e não concentrar apenas em animais machos, como ocorre em grande parte dos trabalhos. Isso ajudaria a pensar em tratamentos personalizados, adequados para cada indiva­duo.

A pesquisa fez parte da dissertação de mestrado da pesquisadora Nata¡lia Prudente de Mello, do Laborata³rio de Neurobiologia Molecular e Funcional do Departamento de Farmacologia do ICB.

Segundo os pesquisadores, o sexo pode ser considerado um fator preditivo para uma sanãrie de doenças neurolégicas oso autismo, por exemplo, équatro vezes mais comum em meninos do que meninas, segundo dados do Centro de Controle e Prevenção de Doena§as dos EUA.

A equipe busca novos tratamentos para doena§as, com aªnfase em doenças neurolégicas osneste caso, as protea­nas PTEN e Klotho foram estudadas como alvos farmacola³gicos. Ao analisarem a expressão dessas duas protea­nas em camundongos sauda¡veis de ambos os sexos, os cientistas verificaram que a PTEN estava aumentada nas faªmeas, enquanto a Klotho era mais expressa nos machos. “Isso indica que essas duas sinalizações atuam de forma a manter o equila­brio do organismo”, afirma Kawamoto.

A PTEN éuma protea­na supressora de tumor e, no sistema nervoso central, também interfere em processos de proliferação e diferenciação celular, podendo ser importante para o aprendizado e memória. Nesse sentido, épossí­vel que a maior incidaªncia do autismo em meninos esteja relacionada a uma menor sinalização da PTEN, por exemplo. “Essa protea­na também tem uma grande participação na inflamação, que éuma caracterí­stica de doenças neurodegenerativas como Alzheimer e Parkinson”, explica. Além disso, os neura´nios de animais com deleção da PTEN, estudados no laboratório, se proliferam e crescem mais do que o normal, causando tumores.

Já a Klotho éa protea­na antienvelhecimento. Existe uma redução dos na­veis dessa protea­na ao longo do envelhecimento, principalmente na presença de doenças neurodegenerativas. “Os animais que não possuem esse gene tem um envelhecimento acelerado, vivendo no ma¡ximo três meses, além de apresentarem um danãficit cognitivo e motor acentuado”, diz a pesquisadora. Dados da literatura mostram que a reposição da Klotho nesses casos melhora a cognição, a atividade locomotora e tem efeitos anti-inflamata³rios.

Tratamentos individualizados

“Assim como existe a farmacogena´mica, que prevaª o desenvolvimento de fa¡rmacos de acordo com o genoma do paciente, também deveria existir a preocupação em desenvolver fa¡rmacos dependentes do sexo, uma vez que homens e mulheres tem suscetibilidades diferentes a determinadas doena§as”, destaca a professora Elisa Mitiko Kawamoto.

Nos pra³ximos passos do estudo, os cientistas va£o buscar entender por que a expressão das protea­nas PTEN e Klotho varia entre os sexos e se os horma´nios testosterona ou estra³geno podem estar relacionados a essa diferença.

 

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