Saúde

Cientistas descobrem moléculas que desaceleram o desenvolvimento de câncer cerebral
Os resultados foram constatados em células-tronco tumorais cultivadas em laboratório e em camundongos.
Por Paula Drummond - 15/02/2021


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Estudo publicado na Nature Communications, com a participação de pesquisadores do Centro de Quí­mica Medicinal (CQMED) da Unicamp, avana§a na busca de novas terapias para o tratamento de glioblastoma. O glioblastoma éum tipo de câncer cerebral altamente agressivo e afeta adultos e criana§as. Apenas 10% dos pacientes sobrevivem mais de cinco anos. a‰ um tumor raro e espora¡dico, mas éo mais comum entre os ca¢nceres cerebrais. A dificuldade de se encontrar tratamentos éatribua­da a  presença de células-tronco tumorais que impulsiona o crescimento do glioblastoma e confere resistência aos tratamentos. Por esta raza£o, as células tronco tumorais são importantes alvos para o tratamento deste ca¢ncer.

No estudo, pesquisadores encontraram pequenas moléculas capazes de inibir tanto a proliferação de células-tronco tumorais de pacientes (cultivadas em laboratório) quanto do glioblastoma implantado em camundongos. Os resultados da pesquisa abrem novos caminhos para parcerias com hospitais e indaºstrias farmacaªuticas para a execução das etapas cla­nicas e para ajudar a compreender cada vez mais o funcionamento desta doença tão letal.

Neste artigo, os cientistas realizaram uma varredura de moléculas em busca daquelas capazes de inibir o crescimento de células tronco tumorais em laboratório. Duas moléculas tiveram resultados mais promissores, a GSK591 e a LLY-283. Estas moléculas atuam na enzima previamente associada ao glioblastoma, a arginina metiltransferase 5 (PRMT5). A PRMT5 éresponsável pela organização da produção de protea­nas no interior da canãlula, em um evento chamado de splicing alternativo de RNA.

Os pesquisadores cultivaram, em laboratório, células-tronco tumorais de pacientes com glioblastoma e, em seguida, aplicaram as moléculas inibidoras. O resultado foi a desaceleração do número de células de ca¢ncer. Esta constatação éparticularmente importante, sobretudo por se tratar das células que conferem maior resistência e avanço do tumor. Em seguida, parte destas células cultivadas foi implantada em camundongos, e após algumas semanas, os cientistas iniciaram o tratamento dos animais com os inibidores qua­micos. Além de maior sobrevida dos camundongos, os cientistas verificaram a estagnação do tumor, e a maior permeabilidade cerebral da molanãcula LLY.

Neste estudo, os pesquisadores do CQMED contribua­ram com a análise de bioinforma¡tica de um grande volume de dados oriundos de cerca de 30 de pacientes para conseguir extrair as informações biológicas relevantes para o estudo. “Analisamos ao todo quase 300 mil eventos de splicing. a‰ preciso saber quais deles são resultantes do efeito da molanãcula”, explica Felipe Ciamponi autor do artigo que durante seu mestrado permaneceu três meses no grupo do Structural Genomics Consortium de Toronto (Canada¡), onde iniciou o processamento dos dados.

A contribuição brasileira definiu um mapa de eventos de splicing que permitiu entender como ocorria a inibição da protea­na PRMT5 na canãlula. Este mapeamento apontou uma das causas da multiplicação de células no ca¢ncer. A inibição da PRMT5 impediu que as células tumorais se reproduzissem na mesma velocidade.

“Certamente percorremos etapas importantes para guiar a descoberta de um novo fa¡rmaco, e épreciso seguir estudando os mecanismos celulares que envolvem a protea­na PRMT5 em paralelo com o entendimento da química destas molanãculas”, explica Katlin Massirer, uma das coordenadoras do estudo e pesquisadora principal do CQMED e do Centro de Biologia Molecular e Engenharia Genanãtica (CBMEG), ambos na Unicamp.

“Os resultados nos deixaram muito otimistas, sobretudo por se tratar de um câncer extremamente agressivo, e difa­cil de ser tratado. Estes inibidores químicos abrem um caminho que parece promissor”, finaliza Ciamponi.

As próximas etapas consistem em entender detalhadamente o efeito destas moléculas sobre o câncer e criar modificações químicas das moléculas tornando-as mais esta¡veis e permea¡veis ao cérebro, para que possam guiar um estudo pré-cla­nico.

O estudo foi liderado pelo Structural Genomics Consortium (SGC) de Toronto com a participação de instituições canadenses, americanas e dos pesquisadores do CQMED, com o apoio da Fapesp.

 

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