Saúde

Ligação entre a infecção por COVID-19 e a saúde mental subsequente e as condições neurolégicas encontradas
Um em cada três sobreviventes do COVID-19 recebeu um diagnóstico neurola³gico ou psiquia¡trico dentro de seis meses da infeca§a£o com o va­rus SARS-CoV-2, aponta um estudo observacional de mais de 230.000 registros de saúde de pacientes
Por Oxford - 07/04/2021


O maior estudo atéo momento sugere uma ligação entre a infecção por COVID-19 e a saúde mental subsequente e condições neurolégicas - Crédito da imagem: Shutterstock

O professor Paul Harrison, principal autor do estudo, da Universidade de Oxford, no Reino Unido, disse: 'Esses são dados do mundo real de um grande número de pacientes. Eles confirmam as altas taxas de diagnósticos psiquia¡tricos após COVID-19 e mostram que também ocorrem distúrbios graves que afetam o sistema nervoso (como acidente vascular cerebral e demaªncia). Embora os últimos sejam muito mais raros, eles são significativos, especialmente naqueles que tiveram COVID-19 grave. '

'Embora os riscos individuais para a maioria das doenças sejam pequenos, o efeito em toda a população pode ser substancial para os sistemas de saúde e assistaªncia social devido a  escala da pandemia e ao fato de muitas dessas condições serem crônicas. Como resultado, os sistemas de saúde precisam de recursos para lidar com a necessidade prevista, tanto nos servia§os de atenção prima¡ria como secunda¡ria. '

Desde o ini­cio da pandemia de COVID-19, tem havido uma preocupação crescente de que os sobreviventes possam ter maior risco de doenças neurolégicas. Um estudo observacional anterior realizado pelo mesmo grupo de pesquisa relatou que os sobreviventes do COVID-19 apresentam risco aumentado de transtornos de humor e ansiedade nos primeiros três meses após a infecção. No entanto, atéagora, não houve dados em grande escala examinando os riscos de diagnósticos neurola³gicos e psiquia¡tricos nos seis meses após a infecção por COVID-19.

Este último estudo analisou dados dos prontua¡rios eletra´nicos de saúde de 236.379 pacientes COVID-19 da rede TriNetX dos Estados Unidos, que inclui mais de 81 milhões de pessoas. Pacientes com mais de 10 anos e que foram infectados com o va­rus SARS-CoV-2 após 20 de janeiro de 2020 e ainda vivos em 13 de dezembro de 2020 foram inclua­dos na análise. Este grupo foi comparado com 105.579 pacientes com diagnóstico de influenza e 236.038 pacientes com diagnóstico de qualquer infecção do trato respirata³rio (incluindo influenza).

No geral, a incidaªncia estimada de diagnóstico de transtorno neurola³gico ou de saúde mental após a infecção por COVID-19 foi de 34%. Para 13% dessas pessoas, foi o primeiro diagnóstico neurola³gico ou psiquia¡trico registrado.

Os diagnósticos mais comuns após COVID-19 foram transtornos de ansiedade (ocorrendo em 17% dos pacientes), transtornos do humor (14%), transtornos do uso de substâncias (7%) e insa´nia (5%). A incidaªncia de desfechos neurola³gicos foi menor, incluindo 0,6% para hemorragia cerebral, 2,1% para acidente vascular cerebral isquaªmico e 0,7% para demaªncia.

Os riscos de um diagnóstico neurola³gico ou psiquia¡trico foram maiores, mas não se limitaram a pacientes com COVID-19 grave. Em comparação com a incidaªncia geral de 34%, um diagnóstico neurola³gico ou psiquia¡trico ocorreu em 38% daqueles que foram internados no hospital, 46% daqueles em terapia intensiva e 62% daqueles que tiveram delirium (encefalopatia) durante seu COVID-19 infecção. Esse gradiente de risco também se aplica a distúrbios individuais. Por exemplo, 2,7% das pessoas que precisam de cuidados intensivos e 3,6% das pessoas com encefalopatia tiveram hemorragia cerebral (em comparação com 0,3% nas pessoas sem hospitalização); 6,9% e 9,4% tiveram acidente vascular cerebral isquaªmico (em comparação com 1,3% sem internação); 1,7% e 4,7% desenvolveram demaªncia (0,4% sem hospitalização); e 2,8% e 7% foram diagnosticados com transtorno psica³tico (0,9% sem internação).

Os autores também analisaram pessoas que tiveram gripe e outras infecções do trato respirata³rio no mesmo período para ajudar a entender se essas complicações neurolégicas e de saúde mental estavam relacionadas especificamente ao COVID-19. Depois de levar em consideração as caracteri­sticas de saúde subjacentes, como idade, sexo, etnia e condições de saúde existentes, houve um risco geral 44% maior de diagnósticos neurola³gicos e de saúde mental após COVID-19 do que após a gripe, e um risco 16% maior após COVID-19 do que com infecções do trato respirata³rio. Como resultado, os autores afirmam que COVID-19 leva a um risco maior de distúrbios neurola³gicos e psiquia¡tricos do que essas outras condições de saúde. No entanto, isso não foi visto para todas as condições; não houve evidaªncias claras de que COVID-19 levou a um aumento do risco de parkinsonismo ou sa­ndrome de Guillain-Barranã.

O Dr. Max Taquet, coautor do estudo, da Universidade de Oxford, Reino Unido, disse: 'Nossos resultados indicam que doenças cerebrais e transtornos psiquia¡tricos são mais comuns após COVID-19 do que após gripe ou outras infecções respirata³rias, mesmo quando pacientes são combinados para outros fatores de risco. Agora precisamos ver o que acontece depois de seis meses. O estudo não pode revelar os mecanismos envolvidos, mas aponta para a necessidade de pesquisas urgentes para identifica¡-los, com vista a preveni-los ou trata¡-los. '

Os autores observam várias limitações em seu estudo. Em primeiro lugar, não se conhece a integridade e a exatida£o dos registros eletra´nicos de saúde. Em segundo lugar, muitas pessoas com COVID-19 apresentam sintomas leves ou nenhum sintoma e não procuram atendimento médico; portanto, as pessoas estudadas aqui provavelmente foram mais gravemente afetadas do que a população em geral. Em terceiro lugar, a gravidade e o curso dos distúrbios neurola³gicos e psiquia¡tricos não são conhecidos.

Escrevendo em um artigo de comenta¡rio vinculado, o Dr. Jonathan Rogers, que não estava envolvido no estudo, da University College London (UCL), Reino Unido, disse: '[este] estudo nos aponta para o futuro, tanto em seus manãtodos quanto em suas implicações. Os pesquisadores precisam ser capazes de observar e antecipar os resultados neurola³gicos e psiquia¡tricos de futuras ameaa§as a  saúde emergentes por meio do uso de dados clínicos internacionais macia§os do mundo real. Os vieses de seleção continuara£o a ser um problema, não necessariamente mitigados pelo tamanho da amostra, 10 e, portanto, o a´nus deve recair sobre ospaíses com sistemas paºblicos de saúde para permitir que dados nacionais verdadeiramente abrangentes estejam disponí­veis para pesquisa. Infelizmente, muitos dos distúrbios identificados neste estudo tendem a ser cra´nicos ou recorrentes, portanto, podemos antecipar que o impacto do COVID-19 podera¡ permanecer conosco por muitos anos. '

 

.
.

Leia mais a seguir